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Gastronomia paraense abre mercado mundial para pequenos empreendimentos

Por Redação - Agência PA (SECOM)
25/03/2018 00h00

Três anos atrás, o chef espanhol Ferran Adriá, proprietário do restaurante El Bulli, que já foi o número 1 do ranking da Europa, disse que a culinária do século XXI passa, obrigatoriamente, pelo Peru, pela China e pela Amazônia. Reconhecimentos como este provocaram um boom da culinária e dos ingredientes paraenses no Brasil e no mundo, rendendo a Belém o título de Cidade Criativa da Gastronomia pela Unesco.

Este boom gera também emprego, renda e oportunidades de crescimento, especialmente para donos de pequenas empresas e agricultores familiares. Não apenas para os já em operação, mas também para dezenas de novos empreendedores que veem na culinária uma oportunidade rara de sucesso.

O governo do Estado, através da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia (Sedeme), desenvolve um trabalho intenso para capitalizar este momento, com orientações para produtores e também o caminho das pedras para exportar.

“O Pará 2030, que planeja a economia paraense no médio prazo, selecionou 14 cadeias econômicas prioritária para impulsionar, e seis delas se relacionam com alimentação”, diz o titular da Sedeme, Adnan Demachki. “A meta é não apenas exportar ingredientes, mas verticalizar a produção, como já conseguimos com o açaí, com nove indústrias incentivadas, e também o cacau, que em breve vai produzir aqui chocolate em escala industrial”, pontuou.

Cachaça de jambu - Leo Porto é o inventor da famosa cachaça de jambu. A partir de uma larga experiência com cachaças, com misturas exóticas (cravinho, jucá e outros ingredientes) que faziam sucesso em seu bar no Reduto, ele um dia teve o estalo de testar o jambu. O sucesso foi imediato e estrondoso. “A reação das pessoas era incrível, de entusiasmo mesmo, e logo a produção crescia de forma exponencial”, lembra Leo.

Turistas começaram a levar a cachaça Meu Garoto para outros Estados e países, e logo Leo Porto precisou investir em novas instalações, além de profissionalizar a apresentação, embalagens, rótulos, e também diversificar os sabores (hoje, além da tradicional, tem de bacuri e castanha-do-pará, açaí e cupuaçu).

Leo Porto importa a cachaça de Pernambuco e, numa fábrica em Ananindeua, adiciona os novos ingredientes. Industrializa, hoje, seis mil litros por mês e, em um ano e meio, a meta é chegar a trinta mil litros. “Já exportamos para vários países e Estados brasileiros, inclusive para Minas Gerais, nosso maior e mais orgulhoso produtor de cachaças”, comemora.

“O sucesso da gastronomia paraense abriu muitas portas do mercado”, afirma Josi Lima, produtora da farofa premium Farofofa. “Onde chegamos, somos bem recebidos, e o interesse é imediato. Já estamos em vários Estados, e temos como clientes algumas das principais redes de supermercados”, detalhou.

Josi destaca alguns elementos essenciais para o sucesso: a qualidade do produto e também da apresentação. “Investimos numa embalagem bonita e que não deixa passar luz, garantindo sabor e aroma e, depois de aberta, ainda preserva a farofa por vários dias”, explica.

Mas o grande cuidado é com os detalhes da produção: Josi usa a farinha de Bragança e desenvolveu ao longo dos anos técnicas especiais como uma primeira torra, “incompleta”, e, já na hora do preparo da farofa, uma segunda torra, especial, para garantir uma farinha mais “hidratada”, o que fará a diferença final na qualidade.

A Farofofa existe desde 2010, mas, com o boom da culinária paraense, o crescimento foi marcante: hoje ela industrializa nove toneladas de farinha por ano; no final de 2019, quer produzir mil e duzentas toneladas.

Sorvetes - Os sorvetes paraenses sempre fizeram sucesso, graças, principalmente, ao sabor irresistível das frutas. Com o aumento do mercado, graças ao boom da culinária paraense, o empresário Amílcar Lima fundou com um sócio argentino a Maioca, que investiu em qualidade para crescer.

“Combinamos o melhor da gelateria italiana com os sabores regionais”, informa Amílcar. “O leite vem da argentina. Usamos também a pasteurização, mas o processo é artesanal”.

A Maioca existe hoje em Belém, no Maranhão e em Brasília e a meta é ampliar para outros Estados – Rio de Janeiro e São Paulo já estão no radar da empresa.

“As frutas nós compramos junto a cooperativas de produtores e, durante a produção, fazemos um rigoroso controle de qualidade: todo o processo é importante, mas é a qualidade a principal responsável pelo sucesso nesse segmento”, ensina o empresário.

STARTUPS

No ano passado, o Centro de Empreendedorismo da Amazônia lançou o projeto AmazôniaUP e inscreveu, num edital para universitários, 70 projetos de startups (empresas iniciantes). Destes, dez foram selecionados  - um saiu, depois, porque a autora passou num concurso e decidiu ser professora. Dos nove, oito têm a ver com a produção e venda de alimentos.

Entre estes finalistas, a empresa Anamara, que produz uma pasta de pupunha a ser usada em massas, doces e sorvetes. A meta é conquistar o mercado nacional e também chegar a outros países.

“Já estamos verificando a legislação, para nos adequarmos, e, até o final do ano, pretendemos levar nosso produto a outros Estados”, comemora Bianca Pavão, uma das sócias da Anamara. “Por enquanto, compramos a pupunha em feiras e armazenamos, para garantir o produto o ano inteiro, mas pretendemos também desenvolver fornecedores, para assegurar qualidade em todo o processo.”

Outra finalista do AmazôniaUP, Tatiana Sinimbu produz cachaça, extrato e conserva de jambu, e também uma espécie de óleo, com fins eróticos (lubrificante e anestésico). “Decidi dedicar a vida a levar as maravilhas do jambu para o mundo, como um carrinho da raspa-raspa percorrendo as ruas de uma cidade” brinca.

A meta da Jambu Sinimbu é exportar, para outros Estados e países, e também ajudar a desenvolver fornecedores. “O consumo consciente é uma realidade no mundo e estamos imbuídos de boas práticas para, além de bons, nossos produtos sejam simpáticos ao consumidor”, relata.

DIFICULDADES E SOLUÇÕES

Como este mercado, nessa nova dimensão, ainda está se organizando, são muitas as dificuldades enfrentadas. Este ano, o restaurante Capim Santo, com filiais em São Paulo e Rio de Janeiro, tentou comprar de uma cooperativa de Bragança duas toneladas de farinha lavada. Não conseguiu, porque os produtores exigiram garantias antes de produzir, nessa escala, a “melhor farinha do Brasil”.

Em fevereiro, uma rede de restaurantes com 50 filiais na Inglaterra, a Las Iguanas, contatou a embaixada brasileira em Londres para importar jambu e introduzir novos pratos no cardápio. A Sedeme contata fornecedores, mas, como a Inglaterra ainda é obediente às leis da União Europeia, questões legais precisam ser superadas, como o histórico do uso do ingrediente no Brasil.

Uma das saídas é desenvolver os próprios fornecedores e, assim, comprovar a origem dos produtos.

Tatiana Sinimbu já se movimenta para montar sua fábrica de cachaça num sítio, integrado aos produtores, para garantir a quantidade e a qualidade necessárias ao negócio. E também os demais empreendedores entrevistados para esta reportagem. E o governo do Estado, via Sedeme, atua não apenas como indutor do desenvolvimento, mas como intermediário entre os vários agentes e o mercado.

Uma das ações são os Arranjos Produtivos Locais (APL’s), que lidam diretamente com os pequenos produtores. “A Sedeme procura e é procurada pelos interessados, e buscamos desenvolver a cadeia completa de um produto: do plantio à fabricação e também ao mercado, apresentando agentes entre si e criando as condições completas para a sustentabilidade da cadeia”, garante Adnan Demchki.

O secretário informou que a Sedeme promove reuniões periódicas para a interação de todos os atores envolvidos, apresentando gargalos e encaminhando soluções.

Adnan Demachki informou que já está em criação o APL da mandioca, justamente para atender ao enorme crescimento da demanda dos derivados da mandioca. “O que acontece, não apenas com a farinha e com o jambu, é que há uma demanda muito maior que a oferta. Nosso objetivo é equilibrar este jogo”, assegurou.

A Sedeme, além dos APL’s, tem uma gerência de exportação, que recebe e encaminha demandas, localiza exportadores potenciais e orienta sobre trâmites e legislação e também os órgãos intervenientes nas exportações (a quem os produtores devem se dirigir para obter licenças).

“O governo do Estado também investe em tecnologia para eliminar os gargalos”, ressalta Adnan Demachki. “Um exemplo é o Parque de Ciência e Tecnologia Guamá, que já mantém vários laboratórios dedicados à melhoria da produção e, nesta semana, vai inaugurar uma área de 5 mil metros quadrados para abrigar uma incubadora de empresas e startups”, complementou.

Informações sobre APL’s e detalhes de como exportar podem ser obtidos na Sedeme: 3110-2550.