Agência Pará
pa.gov.br
Ferramenta de pesquisa
ÁREA DE GOVERNO
TAGS
REGIÕES
CONTEÚDO
PERÍODO
De
A
INOVAÇÃO TERRITORIAL

Desfile de moda afro-brasileira integra capacitação no Quilombo de Igarapé Preto

O projeto desenvolvido pela Sectet, UFPA e Fadesp enfatiza o vestir como resistência e combate à discriminação racial

Por Fernanda Graim (SECTET)
21/08/2023 23h31

Com a participação de 30 moradores da Comunidade Remanescente de Quilombo do Igarapé Preto foram apresentadas as criações desenvolvidas durante o curso de Moda Afro-brasileira, o vestir como resistência e combate à discriminação racial. O desfile ocorreu na noite da última sexta-feira (18), na Escola Municipal Zumbi dos Palmares, em Oeiras do Pará, município da Região de Integração Tocantins,. A promoção é da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Educação Superior, Profissional e Tecnológica (Sectet), Comissão de Regularização da Universidade Federal do Pará (CRF-UFPA) e Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (Fadesp).

O curso integra mais uma etapa do Projeto de Pesquisa “Inovação Territorial para Jovens e Adultos da Comunidade Remanescente do Quilombo do Igarapé Preto”, que incentiva o desenvolvimento humano e social equitativo da comunidade, a fim de integrar uma rede de empreendedores interessados em escoar a produção por meio de um modelo de negócios de hospitalidade de base comunitária e empreendedora.

Participantes do projeto de moda desenvolvido em Oeiras do ParáA capacitação foi realizada por Ysa Almeida Brasil, mestra em Comunicação, Linguagem e Cultura pela Universidade da Amazônia (Unama), com a participação do engenheiro, pesquisador e coordenador do Projeto, Renato das Neves. As atividades começaram no último dia 14 de agosto, coma abordagem de conceitos sobre moda e suas relações com as cores, a formação da identidade, o resgate da cultura e o pertencimento afrodescendente, além do intercâmbio de conhecimentos sobre cartela de cores, matéria-prima, elaboração de esboços dos designs, criação da ficha técnica e a elaboração de um editorial.

Ysa Almeida ressaltou que o termo editorial se traduz na produção fotográfica ou audiovisual para apresentar as roupas, acessórios e estilos no contexto criativo e artístico do quilombo. “Todo ser humano tem que estar consciente de sua identidade étnica e com uma atuação dinâmica ao seu favor dentro de um contexto histórico, geográfico e cultural. Estes pontos transmitem uma ampla visão para identificar um território, comportamento, identidade, pertencimento e uma ampla diversidade das relações econômicas, sociais e culturais ao longo da história”, afirmou.

Memória oral - Para Renato das Neves, a capacitação foi positiva e marcada por muita emoção. Ele destacou o resgate oral da história de Mariazinha, uma mulher nascida no começo do século XX, que atuou como parteira e foi uma das fundadoras do quilombo. “Uma história emocionante para ser resgatada e escrita. É a memória oral reconstruindo a história do território. Além disso, os conceitos para trabalhar a moda no território envolveram as temáticas sobre sustentabilidade, samba, ganzá, raízes quilombolas e a agricultura familiar”, informou o pesquisador.

Durante o desfile foram apresentadas quatro coleções de peças criadas pelos participantes, que reforçam o desenvolvimento de modelo de negócio inovador de base comunitária e o fortalecimento da cidadania e de pertencimento ao quilombo. “Neste contexto, a comunidade promoveu o desenvolvimento humano e social equitativo do quilombo, por meio das famílias que desenvolvem as suas práticas culturais agroalimentares e têm vocação para integrar uma rede de empreendedores interessados em escoar a produção de moda, a riqueza agroalimentar e a beleza turística do território para gerar emprego e renda para comunidade”, destacou Renato das Neves.

Para a costureira Delzanira Machado Ramalho, moradora da comunidade, a participação no curso agregou mais conhecimentos e facilitou os empreendimentos de costura e moda. “Daqui para frente o meu trabalho possui um olhar diferenciado. Ampliei as minhas relações com a comunidade e agreguei mais valor sobre as potencialidades da moda. A minha experiência é muito mais rica e vou ampliar o meu negócio”, afirmou.

A professora Maria Katiussa Pereira também mudou sua visão sobre moda. “Antes do curso eu entendia que a moda era máquina, tecido e desfile. Depois da oficina, fiquei deslumbrada. A moda depende de pesquisa, conhecer a história, compreensão do uso das cores, os modelos de tecidos e um olhar sobre relações econômicas e sociais no mercado e o potencial de criação da comunidade. Esse aprendizado foi maravilhoso”, assinalou.

Dados do Censo – Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE/2022) mostram que o Brasil tem 1,3 milhão quilombolas, em 1.696 municípios. A comunidade de Igarapé Preto é composta por 380 famílias, com uma população estimada em 1.520 moradores. O Censo revelou que 30% de brasileiros que se autodenominam quilombolas estão na Amazônia Legal. “Estes dados são fundamentais para formular políticas públicas voltadas para resgatar o pertencimento afrodescendente e desconstruir a visão eurocêntrica. A maioria dos quilombolas da Amazônia Legal está nos estados do Maranhão e do Pará”, ressaltou a vice-coordenadora do projeto, Kelly Alvino.

Segundo ela, as próximas capacitações no quilombo serão voltadas ao Marketing Digital, que é o uso de plataformas digitais para criar oportunidades de negócios e gerar renda no território. “No encerramento do Projeto de Pesquisa do Quilombo do Igarapé Preto, que ocorrerá em novembro próximo, será apresentado um plano de negócio para ser colocado em prática pela comunidade, para que ela caminhe com a sua própria autonomia, além da realização de uma ampla feira cultural com os trabalhos da comunidade”, adiantou. (Com informações de Kid Reis – Ascom CRF-UFPA).