Ideflor-Bio e Uepa discutem tecnologias sociais e manejo sustentável em territórios tradicionais
A retomada das atividades de campo na Terra Indígena Alto Rio Guamá, foi um dos exemplos utilizados durante a roda de conversa
As tecnologias sociais para conservação e manejo sustentável da sociobiodiversidade nos territórios de povos e comunidades tradicionais foram abordados, neste domingo (6), durante uma roda de conversa promovida pelo Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade (Ideflor-Bio) e a Universidade do Estado do Pará (Uepa). O evento reuniu especialistas, pesquisadores e representantes de comunidades tradicionais.
Realizado no Campus da Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém, o encontro fez parte das programações auto-organizadas dos “Diálogos Amazônicos” e foi um espaço de diálogo e troca de experiências, com o objetivo de discutir e apresentar iniciativas que promovem a conservação da biodiversidade aliada ao desenvolvimento sustentável dos povos originários.
Durante a roda de conversa, foram abordadas diversas temáticas, como o manejo sustentável de recursos naturais, a valorização dos saberes tradicionais, o uso de tecnologias de baixo custo e a participação das comunidades locais no processo de tomada de decisão. Os participantes tiveram, ainda, a oportunidade de conhecer exemplos práticos de tecnologias sociais que têm contribuído para a conservação da biodiversidade e para o fortalecimento das populações.
Um dos exemplos foi a retomada das atividades de campo do Projeto Apoio à Gestão e Restauração Florestal da Terra Indígena Alto Rio Guamá (TIARG). O Ideflor-Bio atua no território devido a área demarcada estar localizada no Centro de Endemismo de Espécies Belém, uma das regiões biogeográficas mais ameaçadas da Amazônia, do ponto de vista da perda de cobertura vegetal e, consequentemente, perda de biodiversidade endêmica.
Na ocasião, representantes de comunidades tradicionais compartilharam suas experiências e projetos bem-sucedidos, destacando a importância do conhecimento ancestral na conservação da sociobiodiversidade. Eles ressaltaram a necessidade de valorizar e preservar os saberes tradicionais, que são fundamentais para o manejo sustentável dos recursos naturais e para a manutenção da cultura e identidade das comunidades.
A titular da Gerência de Manejo e Uso Sustentável da Biodiversidade do Ideflor-Bio, Claudia Kahwage, acredita que esse tema é muito relevante porque as aldeias, as comunidades, precisam de soluções para a vida dos indígenas, em termos de captação de água da chuva, produção florestal, produtos da sociobiodiversidade e implementação de novas tecnologias. O debate oportunizou, ainda, como é possível melhorar a vida dessas populações em termos de tecnologia social que, segundo ela, é barata e de fácil adoção.
“Dentro dos nossos projetos de apoio à gestão e restauração florestal na TIARG, utilizamos de muitos tipos de tecnologia social. Seja a implantação de viveiros de mudas e a coleta de sementes, a qual não faz parte do cotidiano dos indígenas. Eles aprendem como devem manipular esse material, até mesmo o ponto delas serem vendidas para o mercado e estarem aptas para fornecer mudas saudáveis que irão reflorestar o território deles”, afirmou.
Para o professor da Uepa, Seidel Ferreira dos Santos, “ao mesmo tempo em que há uma parte que está muito antropizada, há outras que ainda possuem uma grande biodiversidade que precisa ser conservada e uma das formas é por meio do conhecimento do que existe lá, para que nós possamos, a partir dessa área de importância biológica, poder restaurar aquilo que já foi devastado a partir da coleta de sementes e da produção de mudas de espécies nativas que essa região ainda possui”, enfatizou o especialista.
Cooperação - O diretor de Gestão da Biodiversidade do Ideflor-Bio, Crisomar Lobato, ressaltou a parceria do órgão ambiental do Governo do Pará com a Uepa e a Cirad (organização francesa de pesquisa agronômica e de cooperação internacional para o desenvolvimento sustentável das regiões tropicais e mediterrâneas), que tem atuado junto ao Instituto na recuperação de áreas alteradas na TIARG.
“A nossa intenção aqui é realmente nos organizarmos, fomentar o diálogo entre as instituições parceiras para que a gente possa executar da melhor forma este projeto de grande importância para o Governo do Pará e, consequentemente, para o Ideflor-Bio, que é restaurar uma parte significativa da TIARG. Após isso, poderemos trabalhar outras atividades sustentáveis na região, como projetos voltados ao crédito de carbono”, ressaltou o dirigente.
Escuta - A roda de conversa também deu ênfase à importância da participação ativa das comunidades tradicionais no processo de tomada de decisão sobre a gestão dos territórios. A inclusão dessas comunidades nas políticas públicas e nas discussões sobre o manejo sustentável é essencial para garantir a efetividade das ações e o respeito aos direitos dos povos originários.
O presidente do Ideflor-Bio, Nilson Pinto, destacou que é importantíssimo preservar a floresta e que o assunto é de interesse mundial. “No entanto, isso só será possível se for feito com integridade e com justiça social. O mundo está de olho em volta da Amazônia e no que ela representa para as mudanças climáticas. Todos precisam estar de braços abertos em prol da causa amazônica, no apoio a todos nós, especialmente às populações tradicionais”.