Pesquisadores paraenses estudam diversidade sustentável do açaí
Além do suco, da fruta típica da Amazônia se extrai azeite, pó e insumo para indústria farmacêutica
Depois de conquistar o paladar de brasileiros de todas as regiões e expandir seu sabor por outros países, o açaí despertou a curiosidade de pesquisadores, e foi parar nos laboratórios de instituições científicas. No Pará, experiências feitas por profissionais do Laboratório de Tecnologia Supercrítica (Labtecs), do Espaço Inovação do Parque de Ciência e Tecnologia (PCT) Guamá, em Belém, resultaram na descoberta de variedades do produto já utilizadas nas indústrias alimentícia, farmacêutica e cosmética.
Da fruta típica da Amazônia rica em antioxidantes, fibras e alto valor energético, se extrai azeite, pó e manose, um insumo para medicamentos usados no trato urinário. O alimento que sempre fez parte da dieta da população do Norte do Brasil também oferece diversidade sustentável.
“Estudamos o açaí desde 2016 nas suas variedades e espécies. Fizemos uma verticalização do açaí. Conseguimos extrair princípios bioativos que podem ser utilizados tanto para indústria quanto para o benefício humano. E hoje temos produtos finalizados para comercialização”, informa Raul Nunes de Carvalho Júnior, coordenador do Labtecs, que aguarda parcerias para comercialização dos produtos.
Açaí em pó - O Laboratório do PCT Guamá tem capacidade para produzir 400 quilos de açaí em pó por mês. O açaí liofilizado é a polpa da fruta desidratada. O processo denominado liofilização mantém todas as características nutricionais e sensoriais do alimento, incluindo cor, aroma e sabor.
Entre os benefícios para o consumo estão prevenções anti-inflamatórias, como diabetes. Além de diminuir níveis de colesterol, prevenindo doenças cardiovasculares.
Incentivo à pesquisa - Estudantes de graduação e pós-graduação das mais variadas áreas do conhecimento já passaram pelo Laboratório de Tecnologia Supercrítica. A engenheira química Letícia Siqueira, que faz doutorado, estuda a biodiversidade do açaí para desenvolver novos produtos.
“Estamos trabalhando com matéria prima vegetal, e isso é muito importante para a bioeconomia. Descobrir e desenvolver produtos que não estão no mercado, que as pessoas nem sabiam que existia. E trabalhamos com tecnologia verde, 100% orgânico, natural. Não há restrições para as indústrias. As pessoas só estão acostumas a tomar o açaí puro ou sorvete, mas ele tem um potencial gigantesco para outros fins, por isso o estudo é tão importante”, ressalta a pesquisadora.
Iniciativa do Governo do Pará, por meio da Secretaria de estado de Ciência, Tecnologia e Educação Superior, Profissional e Tecnológica (Sectet), o PTC Guamá é o primeiro parque tecnológico a entrar em operação no norte do Brasil, e vem estimulando a pesquisa aplicada e o empreendedorismo inovador e sustentável.
“O papel da Secretaria é justamente incentivar e valorizar o experimento científico de pesquisadores paraenses. E esse projeto em si tem um enorme potencial, porque possibilita o estudo em algo presente na vida das pessoas do nosso Estado, que é a nossa riqueza do açaí, que em pó pode ser usado em vários outros produtos, e preservada a sua conservação por muito mais tempo. Tenho certeza de que é incentivando a pesquisa que vamos conseguir otimizar a produção, evitar desperdícios e valorizar aquilo que temos de melhor e em abundância, que é o cultivo do açaí”, destaca Hélio Leite, titular da Sectet.
Açaí em números - O Estado do Pará é o maior produtor de açaí do Brasil. Segundo dados da Pesquisa Agrícola Municipal (PAM), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o Estado produziu 94% de todo o açaí do País, com 1.485.113 toneladas. Igarapé-Miri é o município que mais produziu o fruto (426 mil toneladas) em 2021. Boa parte do açaí exportado sai do Pará em forma de polpa in natura ou barra (congelada).
O Labtecs estuda todas as variações da fruta produzida em terra firme ou áreas de várzea nas regiões Nordeste (principalmente o Baixo Tocantins), Arquipélago do Marajó e ilhas ao redor de Belém. Transformar o açaí em potencial para a indústria, utilizando tecnologia limpa e inovadora, e valorizando a biodiversidade amazônica é o que objetivo do professor Raul Nunes de Carvalho Júnior.
“Me sinto muito orgulhoso porque sou paraense, e ver o açaí se transformando dessa forma, gerando benefícios, emprego, me deixa muito feliz. Isso é economia verde, economia circular. Isso agrega valor, que se transforma em riqueza para o nosso Estado”, ressalta o coordenador do Labtecs.