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Ophir Loyola registra aumento de doações de córnea para transplantes

Hospital quer zerar a fila de espera por transplantes na unidade ainda este ano

Por Leila Cruz (HOIOL)
01/07/2023 08h00

No Hospital Ophir Loyola, a doutora Cláudia Gomes avalia a paciente Marta Silva , de 75 anos No final de abril deste ano, a aposentada Marta Silva, 75 anos, apresentou uma úlcera infectada no olho direito. Mesmo com tratamento clínico, a condição evolui para o afinamento do tecido ocular com risco iminente de perfuração. A idosa foi encaminhada para o Hospital Ophir Loyola (HOL), em Belém, e já está inscrita, de forma prioritária, para receber uma nova córnea. 

O Hospital Ophir Loyola atua com esse tipo de intervenção terapêutica, desde o ano de 2008,  quando realizou o primeiro transplante de córnea pelo Sistema Único de Saúde (SUS), no Pará.

Responsável técnico pelo BTO, o oftalmologista Alan Costa aponta as estratégias adotadas pelo serviço para aumentar a doação de tecidos oculares. A fila de espera apresentava mais de 1.100 inscritos em 2022, número que caiu para 963 até o dia 05 de junho deste ano, e sofre variação conforme a entrada ou saída de pacientes.

O especialista destaca que o BTO exerceu um papel muito importante na redução da fila ao reproduzir experiências exitosas de outras capitais brasileiras, a exemplo da cooperação com o IMOL. 

Oftalmologista Alan Costa no Hospital Ophir Loyola, em Belém“Além da  qualificação dos profissionais, divulgamos o tema em diversas frentes de ensino, promovemos campanhas e, principalmente, estabelecemos a parceria com a Polícia Científica do Pará (Pcepa). Criamos uma extensão do BTO do nosso serviço no IMOL com uma equipe atuante em regime integral. E treinamos as equipes da Polícia Científica em relação à condução e armazenamento dos cadáveres, a fim de que consigam estabelecer as circunstâncias ideais à enucleação do globo ocular dos corpos, em caso de doação”, disse Alan Costa.

Segundo o especialista, a equipe atua 24h no HOL (sede) e na extensão do serviço localizada no prédio da Polícia científica para realizar a triagem de possíveis doadores nos serviços de mortes violentas e de causas naturais, bem como atende às notificações de doações da Central Estadual de Transplante (CET), subordinada à Secretaria Estadual de Saúde (Sespa).

“Nós temos realizado articulações internas e externas, assim como  executamos diversos projetos dentro os quais o do ano vigente ‘Doe Córneas: Responsabilidade Social’, que ganhou reforços dos principais clubes do Pará, que divulgam, durante os jogos, informações sobre como se tornar um doador. Assim, estamos cumprindo com o papel de  reduzir a fila de espera e, consequentemente, aumentar o número de transplantes em nosso estado, por meio de um serviço de qualidade e segurança efetiva”, destacou Alan Costa.

Banco de córneas doadasO Banco de Tecido Ocular é responsável por todas as etapas do processamento dos tecidos oculares doados no Pará: captação, avaliação, preservação e armazenamento à destinação para transplante.

“Fazemos buscas de potenciais doadores, acolhemos as famílias enlutadas e executamos todos os trâmites do processo de doação. É um trabalho diário, ininterrupto em que nossa equipe está sempre oportunizando esse ato de caridade e amor às famílias. A melhor abordagem, acolhimento e humanização da enfermagem repercutiram na redução da recusa das família”, informou  a gerente de enfermagem do BTO, Cristiane Moreira.  

“A sensação é de felicidade e alívio, porque já sofri muito com a dor e a infecção. Só não fiz o procedimento antes porque tive uma alteração no exame de risco cardiológico, então precisei me cuidar e esperar a situação normalizar para ser liberada e ser submetida ao procedimento. Após o transplante, espero ter qualidade de vida, afinal é o último recurso da medicina para tratar essa infecção ocular. E que bom que há quem se solidariza com quem tanto espera por uma doação”, disse Marta Silva, de 75 anos.

A aposentada é somente uma das beneficiadas com o trabalho desenvolvido pelas equipes de Transplante de Córnea e do Banco de Tecido Ocular (BTO) do HOL. Com os esforços para reduzir a fila, o BTO registrou o aumento do número de doações de córnea em 2023. Somente nos primeiros cinco meses deste ano, foram recebidas 266 córneas, o maior número registrado na história do serviço.  

Especialista Cláudia Gomes realiza transplante de córneaO aumento de doações representa um acréscimo de 1.108% em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram captados 24 tecidos oculares. A cooperação técnica entre o hospital e a Polícia Científica do Pará, por meio do Instituto de Medicina e Odontologia Legal (IMOL), e a primeira parceria do Brasil com o Serviço de Verificação de Óbito (SVO), foi crucial para a mudança de cenário. Em junho novas captações foram realizadas, totalizando 324 córneas recebidas até o dia 28.

“O profissionalismo e o comprometimento das equipes de ambas instituições parceiras se refletiu nos números. Todo esse empenho diário tem dado retorno para a sociedade e esperamos alavancar cada vez mais as doações de tecidos oculares a fim de garantir que as pessoas tenham qualidade de vida, um recomeço. E a nossa gestão, apoiada pelo Governo do Estado, não tem medido esforços e investimentos para aumentar o número de doações, nossa principal meta”, frisou o diretor clínico do Ophir Loyola, João de Deus.

Preparação para realização de transplante por equipe de Saúde do Ophir LoyolaTransplante devolve a funcionalidade visual

A córnea é uma membrana transparente localizada na superfície do olho, que se assemelha à superfície de um relógio, cuja principal função é protegê-lo. Quando uma doença ou anomalia acomete a transparência ou anatomia desse tecido, um transplante é indicado. As principais causas que levam a perda da córnea são o ceratocone, ceratopatia bolhosa, ou distrofia de Fuchs. Existem três tipos de transplante, o tipo de cirurgia é indicado conforme  cada caso. O tecido só pode ser avaliado por um médico oftalmologista especialista em córnea e que também seja um médico transplantador.

“O transplante penetrante é mais realizado em todo o planeta e ocorre com a substituição de toda a córnea. Entretanto, com a evolução da medicina é possível realizar o transplante lamelar, quando apenas a camada anterior da córnea é substituída e preservada a camada mais interna (endotélio), então o risco de rejeição diminui significativamente. Por último, o endotelial, quando apenas o endotélio é substituído por um novo tecido, não leva pontos e a recuperação é mais rápida”, detalhou  a coordenadora do Serviço de Transplante do HOL, Claudia Gomes.

Fila- Com o aumento no número de doações, o Hospital Ophir Loyola deve zerar em breve a fila de pacientes inscritos para fazer o transplante na unidade. “Somente 12 aguardam  para serem operados em nosso serviço até o dia 28 de junho. Quando zerarmos a fila, entraremos em contato com a Sespa para que comece a regular demais pacientes do SUS para realizar o procedimento aqui”, comemorou.

A fila é única, por ordem de inscrição, sob a coordenação dos centros transplantadores, em conformidade com a legislação federal. Somente o médico oftalmologista credenciado  pode indicar o paciente para o transplante. O  único acesso é a partir de uma avaliação oftalmológica especializada com o cirurgião de transplante de córnea para que seja feita a inclusão no sistema de lista de espera, monitorado e supervisionado pela CET.

Alguns casos são priorizados pela legislação brasileira, como risco de perfuração ou olho já perfurado, infecções oculares sem resposta ao tratamento clínico. Também são prioridades aqueles com idade inferior a sete anos com opacidade de córnea bilateral e rejeição até 90 dias após o transplante.

BOX
Quem pode doar córnea - A doação pode ser realizada por qualquer pessoa que for a óbito, de 2 até 72 anos. Há critérios específicos de exclusão, como pacientes portadores de HIV e dos vírus causadores de Covid-19 e hepatites B e C.

Os tecidos oculares podem ser retirados até seis horas após o óbito. Preservadas, as córneas têm até 14 dias para serem implantadas em um receptor. Para fazer a doação, a família pode entrar em contato com Banco de Tecido Ocular  pelos telefones (91) 3265-6759 e (91) 98886-8159 ou com a Central Estadual de Transplantes (91) 97400-6456.