Empreendedora formada em Design pela Uepa lança marca autoral de joalheria
Bianca Camino, de 27 anos, assegura que o curso foi fundamental para ela descobrir a vocação e obter a devida qualificação profissional
A partir dos conhecimentos adquiridos ao longo do Bacharelado em Design, cursado na Universidade do Estado do Pará (Uepa), Bianca Camino, de 27 anos, descobriu a identificação pelo ramo da joalheria e realizou o sonho de ser empreendedora. Em maio de 2022, ela inaugurou a Camino Atelier (@caminoatelier), uma marca autoral de joias contemporâneas em prata.
A paixão pela joalheria acompanha Bianca desde a graduação, período em que teve a oportunidade de estagiar no Espaço São José Liberto. O interesse pelo assunto foi despertado após ver suas ideias materializadas. “Fiquei encantada quando vi tudo o que desenhava sendo concretizado. A joia dá essa possibilidade de aplicação rápida, além de permitir experimentar e fugir do óbvio”, afirma Bianca, que após se formar já atuou como curadora de joias para comercialização no Polo Joalheiro do Pará.
Cursar graduação na Uepa foi essencial para a designer desenvolver uma visão completa sobre a área de atuação. “Na universidade, eu tive contato com professores que ajudaram a guiar o meu caminho. O Design é um curso especial, pois é abrangente e permite contato com vários segmentos: móveis, joias, interface, aplicativos, design de interiores etc. Então, mesmo seguindo pela área da joalheria, eu consegui ter uma visão 360º de vários conhecimentos que posso utilizar na minha marca. Sei criar o design da embalagem das joias, tenho noção de design de interiores, que posso aplicar se eu precisar criar uma exposição. O curso agregou muito na minha formação”, relata.
TCC permitiu começar a confeccionar joias
O interesse pela relação entre sustentabilidade e joalheria levou Bianca a elaborar o Trabalho de Conclusão de Curso intitulado Mini Coleção Mutatis: Práticas Sustentáveis para a Produção Consciente das Joias Comercializadas no Espaço São José Liberto, em Belém. A pesquisa, defendida em 2018, foi desenvolvida sob a orientação da professora Rosângela Pinto e aborda os principais metais usados na joalheria, os impactos associados à sua extração e as possibilidades de recuperação e aplicação em joias como forma de promover a sustentabilidade.
Bianca comenta que escolheu abordar a sustentabilidade aliada ao segmento joalheiro devido à percepção do escasso debate sobre o assunto. “Hoje em dia, a sustentabilidade é discutida em muitos aspectos, mas é pouco abordada em relação às joias, mesmo diante do contexto socioambiental que ela está inserida, de diversos impactos decorrentes da exploração das principais matérias-primas constituintes das joias, que são os metais nobres e as gemas”, analisa.
O Trabalho de Conclusão de Curso também propôs a criação da mini coleção de joias Mutatis - palavra derivada do latim que significa metamorfose -, elaborada após o estudo de práticas sustentáveis, com o objetivo de promover a produção e o consumo consciente de joias. De acordo com Bianca, o conceito principal está relacionado à transformação: devido à metamorfose sofrida pelos materiais sustentáveis, por meio da reciclagem, e pelo princípio da modularidade agregado ao design das peças, que possibilita diferentes maneiras de uso de uma mesma joia.
“Meu TCC foi um trabalho de experimentação. Nele, abordei técnicas alternativas que poderiam ser consideradas sustentáveis para se aplicar nas joias. Uma das soluções foi tentar recuperar uma prata que já tinha sido utilizada, então parte das joias foi feita com esse material reciclado. Também busquei otimizar ao máximo as possibilidades de uso de uma peça. Por exemplo, na mini coleção, há um par de brincos que pode ser usado de diferentes maneiras, além de poder ser utilizado como pingente, e um colar que tem quatro formas de uso. Tudo foi pensado para trazer essa questão do consumo consciente”, explica.
Marca autoral valoriza elementos locais
Após três anos de formada, Bianca lançou a Camino Atelier, na qual é responsável pelo design das peças e por toda a direção criativa e estratégica da marca, que utiliza elementos locais na confecção das peças. “Sempre tento resgatar aspectos simbólicos da Amazônia na minha criação. Além disso, também uso materiais produzidos aqui. Me orgulho e quero cada vez mais difundir: sou da Amazônia, do Pará”, ressalta.
No processo de produção das peças, é priorizada a parceria de profissionais locais, visando fomentar o mercado interno, como explica Bianca: “Uma forma de a gente se fortalecer e crescer é apoiando profissionais daqui, então busco sempre a colaboração de ourives e lapidários paraenses. Também procuro ao máximo comprar, produzir e investir em itens que venham do mercado local. Acredito que, quando todo mundo se ajuda, a cadeia é fortalecida. Assim, não somente eu irei crescer, mas o setor como um todo”.
A energia solar, com sua força e vitalidade, serviu de inspiração para o processo criativo da coleção de estreia da marca, denominada “Vital”, composta por anéis, brincos e colares feitos com prata e variadas gemas, tais como ágata, âmbar, citrino, cornalina, quartzo e gema vegetal de tucupi. A próxima coleção será inspirada na forte relação exercida pelos rios no contexto amazônico. Outro objetivo de Bianca para os futuros trabalhos é aliar novas tecnologias às joias, agregando técnicas digitais às manuais.
“Busco fugir do tradicional na minha marca, tanto que a descrevo como uma joalheria contemporânea. Gosto de experimentar novos materiais, pois, na minha visão de criadora, é isso que faz criar algo único. Tenho estudado recentemente a impressão 3D, para aliar esse novo tipo de modelagem ao trabalho manual, artesanal, já que essas diferentes técnicas não se sobrepõem, e sim se complementam”, destaca.
Para a designer, mesmo após ter finalizado a graduação, é relevante manter o vínculo com a Uepa: “Novas pesquisas de materiais e processos surgem na universidade, então acho importante, como marca, ter sempre uma ligação com a Uepa, que foi minha casa e pela qual tenho um grande afeto”.