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Seap garante apoio e acompanhamento a custodiadas da gestação ao pós-parto

Unidade Materno-Infantil e brinquedoteca são espaços mantidos no CRF para fortalecer o vínculo afetivo entre mães e filhos

Por Caroline Rocha (SEAP)
12/05/2023 21h56

Relação entre mãe e filho: intensidade de sentimentos que não se limita a espaços ou condições adversas“Os filhos são as âncoras que mantêm as mães agarradas à vida” - Sófocles (496-406 a.C.). A frase do dramaturgo grego reflete a realidade de mães encarceradas no Sistema Penitenciário do Pará. A maternidade, nessas condições, desperta e transforma as visões de mundo e o desejo de liberdade para uma vida digna ao lado dos filhos. Nesse processo, a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) oferece o apoio necessário a custodiadas grávidas ou que tiveram seus filhos no ambiente carcerário.

Jéssica Araújo, 28 anos, deu à luz Josué há oito meses, no cárcere. Apesar do ambiente, ela garante que a chegada do terceiro filho a “ajudou fisicamente e mentalmente, já que eu estava precisando. Ele veio numa boa hora”.

A custodiada conta que continua recebendo apoio dos profissionais de saúde e dos policiais penais do Centro de Recuperação Feminino (CRF). “Daqui pra frente é só melhorar. Só o que penso é o futuro deles, me formar, que era o sonho que eu tinha de ser pediatra. Eu tenho certeza que Deus vai realizar meu sonho”, afirma a mãe de Josué.

Direito - Sônia Cardoso, titular da Diretoria de Assistência Biopsicossocial (DAB) da Seap, explica que a Unidade Materno-Infantil (UMI) é um espaço que atende grávidas, garantindo o direito da mulher privada de liberdade de exercer a maternidade desde o período gestacional até o nascimento de seu filho. O ambiente permite ainda o convívio entre mãe e filho até os 02 anos de idade, ao mesmo tempo em que busca alternativas de cumprimento de pena para a custodiada.

A diretora informa que desde o período da gravidez a mulher recebe acompanhamento pré-natal da equipe biopsicossocial da UMI. Atualmente, a Unidade atende três grávidas, duas lactantes e dois bebês. São realizadas atividades em grupo pela equipe biopsicossocial, além de inclusão em projetos sociais que buscam a promoção e proteção da saúde materno-infantil, garantindo assistência pré-natal e pós-parto, com entrega de enxoval para o bebê, entre outros benefícios.

“A convivência mãe e filho fortalece o vínculo familiar e contribui para a reflexão da mulher custodiada sobre as questões familiares, afetivas, despertando o desejo de uma nova perspectiva para o futuro pós-cárcere, contribuindo para o processo de ressocialização e reintegração da mulher ao convívio social”, assegura Sônia Cardoso.

A diretora do CRF, Rita Canto, diz que as custodiadas atendidas na UMI são acompanhadas pela equipe multiprofissional, composta por uma psicóloga, uma assistente social, uma enfermeira e uma terapeuta ocupacional. No espaço são feitos atendimentos de rotina nas áreas de terapia ocupacional, assistência, psicologia e saúde. Uma enfermeira acompanha os bebês.

Rita Canto acrescenta que a unidade conta também com a parceria da Fundação Santa Casa de Misericórdia, onde elas fazem o pré-natal. A Santa Casa é a maternidade que recebe as internas na hora do parto.

Gestantes têm todo o apoio para fazer o pré-natalApoio familiar – A diretora do CRF ressalta que embora a lei garanta que a mãe custodiada possa ficar com o filho até os 02 anos de idade, a separação ocorre em média quando a criança az um ano. Na maioria dos casos, familiares das internas cuidam das crianças. “Geralmente, elas entregam mais cedo por causa do desenvolvimento da criança, por perceber que a criança está num ambiente fechado. Mesmo sendo uma casa, sem o aspecto de prisão, ela não tem convívio com outras crianças”, explica a diretora.

Rita Canto diz ainda que “a gente procura fazer o melhor para que elas possam ter um cárcere que a gente chama humanizado, para que possam ter essa gravidez tendo todos os atendimentos necessários”.

Mãe de outras duas crianças – com 09 e 03 anos -, a custodiada Marcilene Santiago, 36 anos, aguarda a chegada do terceiro filho. Ela chegou há um mês no CRF, mas já recebe todo o atendimento necessário para ter uma gestação tranquila e com acompanhamento seguro. Ela diz que espera ter o filho em liberdade e conseguir um novo rumo ao deixar o CRF.

“A expectativa é que ele nasça em liberdade. Estou orando para que isso aconteça, porque aqui dentro a gente tem que se apegar muito com Deus. Ter meu filho vai mudar a minha vida. A gente só quer uma oportunidade, e eu acredito que não só eu, mas as meninas também querem isso. Às vezes, a gente só cai em si em um lugar desses, em que você toma consciência da extensão do problema. Tenho outros filhos, só quero uma chance pra mudar”, garante Marcilene. 

Brinquedoteca: espaço que garante a interação entre mães e as criançasBrinquedoteca - Outro trabalho muito importante desenvolvido na UMI, a brinquedoteca, tem a parceria com a professora e doutora em Psicologia da Universidade Federal do Pará (UFPA), Celina Maria Colino Magalhães. O espaço é utilizado para o desenvolvimento cognitivo dos bebês e fortalecimento da relação entre mães e filhos.

A professora Celina Magalhães, integrante do Programa de Pós-Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento, explica que a ideia de montar a brinquedoteca na Unidade Materno-Infantil surgiu em 2014. Quando foi inaugurada, a brinquedoteca era móvel, com os brinquedos e livros levados em um carrinho pela unidade.

O projeto, agora em um espaço físico na UMI, permite a interação entre as mães e os bebês. Celina Magalhães explica que a interação é base do desenvolvimento saudável. “Essa multicidade é fundamental para o desenvolvimento saudável, principalmente para a criança nos primeiros anos de vida. E a ideia é trazer isso para um ambiente onde as mães estão sob custódia. É fundamental que essa mãe tenha momentos para interagir ludicamente com seus filhos. A ludicidade está no âmbito do desenvolvimento. Através do lúdico ela pode estar ensinando habilidades motoras para ele, passando afeto para essa criança”, conclui a professora.

Texto: Márcio Sousa – NCS/Seap