'Realize' promove intercâmbio entre universitárias e custodiadas do sistema penal
O projeto incentiva internas do sistema penal a escolher um futuro pelo acesso ao conhecimento, em parceria com a Faculdade Estácio e a Vara de Execuções Penais
Com o objetivo de inspirar novos caminhos e gerar oportunidades para mulheres privadas de liberdade, a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) realizou nesta semana mais uma etapa do “Projeto Realize”, em parceria com a Faculdade Estácio do Pará (FAP) e a Vara de Execuções Penais (VEP), do Tribunal de Justiça do Estado (TJ-PA).
O “Realize” é um projeto de formação continuada, pelo qual a FAP oferece bolsas e oportunidades para formação profissional das custodiadas, qualificando-as e fomentando o empreendedorismo. O projeto proporciona a alunos universitários, de diversos cursos e áreas, falar de suas experiências no ensino superior, com o objetivo de despertar nas internas do sistema penal o interesse pela formação universitária.A formação continuada é oferecida pela FAP por meio de bolsas e oportunidades às custodiadas
Nesta terça-feira (11), a roda de conversa realizada na Faculdade Estácio contou com a participação de 25 custodiadas do Centro de Reeducação Feminino (CRF), localizado em Ananindeua, município da Região Metropolitana de Belém. Para Rita Canto, diretora da unidade prisional, é uma chance única de as internas conhecerem oportunidades que a Universidade oferece, para que tenham opções na hora de fazer escolhas.
“Eu sempre digo a elas que o que interessa são as atitudes que elas irão tomar a partir de agora. Esse é o primeiro passo para elas serem reintegradas à sociedade. Eu fico muito feliz com essa integração. Está sendo muito bom”, afirmou a diretora.
Segundo Rita Canto, a casa penal selecionou para participar do projeto internas que ainda não haviam participado de nenhuma ação de reinserção social, como trabalho e estudo. “Nós trouxemos 25 custodiadas, que possuem de 10 a 14 anos desde que adentraram no cárcere, e ainda não tiveram a oportunidade de sair. Elas vão ter a oportunidade de conhecer um pouquinho de como que tá aqui fora, e ter contato com outras pessoas fora do seu universo carcerário. É começar a repensar a vida”, frisou.
Projeto de extensão - O projeto é multidisciplinar e conta com a participação de universitárias dos mais variados cursos, como Direito e Serviço Social. O “Realize” está inserido nos cursos universitários como um projeto de extensão da disciplina Direitos Humanos. Os alunos escolhem um público-alvo para desenvolver as atividades. Segundo Paolla Magalhães, acadêmica do curso de Direito, foi uma oportunidade de ter contato com uma realidade diferente, que ainda não conhecia.
“Eu não tinha muito ideia de como as coisas funcionavam antes desse projeto. A história dessas mulheres me tocou muito. Muitas delas ficam sem esperanças de vida quando estão dentro do cárcere”, contou. As universitárias fazem a escuta humanizada em forma de assessoria jurídica, para sanar possíveis dúvidas das internas acerca da execução penal e de seus processos jurídicos.
“Para nós, é muito gratificante ver que o nosso trabalho traz esse tratamento humanizado. Elas veem que não estão sozinhas. Muitas mulheres passam por situações semelhantes e se identificam com a história de cada uma”, disse Paolla Magalhães.
Patrícia Cardoso ressalta os resultados positivos do projeto na vida das custodiadasResultados - O “Projeto Realize” é desenvolvido por meio da Diretoria de Reinserção Social (DRS) da Seap, em parceria com a Vara de Execuções Penais. De acordo com Patrícia Sales Cardoso, coordenadora de Educação Prisional no Cárcere, o projeto já apresenta resultados positivos para o dia a dia das custodiadas.
A coordenadora contou que, após participarem de projetos como esse, as médias de internas aprovadas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para Pessoas Privadas de Liberdade (PPL) tiveram um aumento significativo. “Esses eventos despertam nelas a vontade de realmente cursar uma faculdade. Neste ano tivemos 478 internos aprovados no Enem, com média para cursar uma faculdade”, informou.
“Elas conseguem visualizar o que é uma educação fora do cárcere, com vários cursos à disposição para sua escolha. Para nós, é muito importante que a Estácio adentre essa realidade e possamos, juntos, desenvolver a educação prisional no cárcere, principalmente a educação superior”, acrescentou Patrícia Cardoso.
Custodiada do Centro de Reeducação Feminino, F.M, 42 anos, participou do projeto pela primeira vez, e considerou a ação integrada com a universidade bastante produtiva. “Espero que se repita várias vezes. É um desenvolvimento e um aprendizado bastante importantes para nós. Conseguimos aprender muitas coisas novas e saímos com um novo pensamento, de não voltarmos para o lugar que a gente está”, garantiu.
Texto: Paula Magalhães – NCS/Seap