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CUIDADOS PALIATIVOS

Hospital Ophir Loyola leva assistência a pacientes nas próprias residências

A proposta é aliviar a dor e outros sintomas daqueles com o câncer em progressão e que não respondem às intervenções terapêuticas atuais

Por Leila Cruz (HOL)
14/03/2023 12h47

Nas manhãs de segunda a sexta-feira, a equipe do Serviço de Assistência Hospitalar (SAD) sai do Hospital Ophir Loyola em direção às residências de pacientes oncológicos localizadas na região metropolitana de Belém. A missão é aliviar a dor e outros sintomas daqueles com o câncer em progressão e que não respondem às intervenções terapêuticas atuais.

Esse cuidado especializado ofertado de forma integral é imprescindível para trazer dignidade e conforto durante uma fase delicada do adoecimento, tanto para o enfermo quanto para os familiares. As atividades iniciaram há 20 anos inspiradas no Centro de Suporte Terapêutico Oncológico do Instituto Nacional do Câncer (Inca). 

De 2019 a 2022, foram realizados 3.117 atendimentos. A atuação envolve ações de promoção à saúde, prevenção, tratamento de doenças e reabilitação desenvolvidas em domicílio. O serviço do HOL é um braço da Clínica de Cuidados Paliativos Oncológicos (CCPO) e fornece todos os medicamentos padronizados na farmácia do hospital, materiais de curativo, trocas de sondas, insumos necessários e até mesmo cesta básica. 

A médica paliativista Ana Carolina Gonçalves explica que esse cuidado diferenciado é necessário, já que as pessoas assistidas estão tão debilitadas pelo câncer que não conseguem locomover-se até o hospital.

“São pacientes acamados. Muitas das vezes elegemos um idoso extremo, com limitações de chegar ao hospital e poucos recursos financeiros. A questão social também é algo que levamos muito em consideração. O paciente só vem ao hospital quando não conseguimos contornar as coisas de outra forma porque prezamos por atendê-lo na comodidade do lar”, esclareceu a médica.

As visitas têm uma equipe fixa formada por uma médica paliativista, enfermeira e psicóloga. E também conta com apoio da terapia ocupacional, fonoaudiologia, fisioterapia,  técnicos e todo o suporte de procedimentos hospitalares especializados e de exames de imagem
e laboratoriais. O serviço é uma extensão do atendimento ambulatorial. A maioria dos pacientes está acamada, com a resistência baixa e dificuldade de locomoção, como lesões no osso ou no pulmão.

“Com os cuidados paliativos aliviamos o sofrimento dos pacientes que não têm mais uma proposta de modificação de tratamento da doença de base, ou seja, toda doença ameaçadora da vida. Oferecemos um suporte para que o paciente possa conviver com as limitações da doença. Esse atendimento se estende a toda rede de apoio desse paciente, que na maioria das vezes é formada por pessoas da família, entendemos que elas são primordiais para conseguirmos dar esse aparato para o paciente”, completou a especialista.

O enfrentamento do câncer modifica a rotina de toda a família, por isso, além dos sintomas físicos, a filosofia paliativista prioriza o alívio dos problemas psicossociais por meio do acompanhamento e intervenção psicológica, social e espiritual. A abordagem por diferentes profissionais vem justamente satisfazer as múltiplas necessidades do paciente, sendo avaliado como um todo, proporcionando um melhor controle dos sintomas.

“As famílias estão muito mobilizadas emocionalmente. A maioria dos pacientes sofre com depressão, ansiedade, medo do diagnóstico e medo do óbito. São situações que demandam atendimento psicológico para que o paciente enfrente melhor o câncer e a finitude. Saber acolher e escutar são características essenciais para atender a demanda dos pacientes e familiares”, conforme explica a psicóloga Socorro Lima. 

A enfermeira Iranete Ribeiro esclarece que para um pacientes ser admitido no SAD, deve ser encaminhado pela especialidades oncológicas para a oncologia clínica do hospital. “Após avaliação e descrição no prontuário do Departamento de Câncer com a afirmação de que o mesmo não possui mais indicação de tratamento curativo, o enfermo é encaminhado para o ambulatório de cuidados paliativos. A equipe de assistência domiciliar acolhe o doente e a família, que é parte integrante do atendimento. O familiar-cuidador é treinado para o cuidado adequado do paciente no domicílio. 

Suporte familiar é fundamental - No bairro do Telégrafo, a equipe do SAD atende a dona Iracema Almeida, 89 anos. A idosa mora com as filhas Iraci, 63 anos, e Tânia, 61 anos. Durante boa parte da vida, Iracema exerceu a função de costureira. Além do câncer de mama com metástase óssea, convive com sequelas de um derrame, que durante muito tempo prejudicou a memória, a deglutição, a fala e os movimentos. Até aos 83 anos, ela andava por Belém sozinha, ia fazer fisioterapia e natação.

Em maio de 2022, a idosa foi admitida para receber a assistência domiciliar. O zelo das filhas faz a diferença na qualidade de vida da idosa, que teve uma melhora acentuada. “É muito estimulada. Ler, escrever e assistir novelas são os hobbies preferidos dela. Só temos uma mãe, então, temos que cuidar e fazer de tudo por ela; o que a gente puder fazer, faz mesmo, sem barreira. Minha irmã saiu para comprar fralda e eu fiquei aqui, mas ela não dá trabalho. Queremos a ‘Popoca’ muitos anos com a gente”, disse Tânia. 

Tânia conta que deixou para trás a vida que levava em Santa Catarina para ajudar a irmã a cuidar da mãe. Mas quando fala da equipe do Ophir Loyola, sente gratidão. “A gente não tem condições de pagar carro para levar minha mãe até o hospital. Tudo que fazem por nós é muito importante, uma ajuda super necessária para nossa mãe e família. Elas vêm aqui no conforto da nossa casa, consultam, passam exames, dão a receita e levamos no posto de saúde para receber o medicamento para hipertensão, os demais buscamos no hospital. E vamos levando do jeito que Deus permite…”, conta.