No Dia Da Mulher, conheça iniciativas da rede estadual para incentivar futuras cientistas
Entre as iniciativas, o programa 'Futuras Cientistas' incentiva alunas e professoras do ensino médio a pesquisas em diversas áreas do conhecimento
A participação no programa “Futuras Cientistas” foi um divisor de águas na vida da jovem Jucinara Lima, estudante da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Dr. Ulysses Guimarães, em Belém. Destinado a alunas e professoras do ensino médio, o programa nacional é uma realização do Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (Cetene/MCTIC) e contribui para a igualdade de gênero no mercado profissional ao estimular o contato das mulheres com as áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática.
“Pude estar com profissionais excelentes que me fizeram olhar o mundo de maneira diversa e ver o quanto é importante o papel das meninas na ciência. Também foi fundamental para perceber que nós mulheres temos lugar de fala, que fazemos a diferença, que podemos mudar o mundo. Que mesmo que tenhamos mais dificuldade, ou enfrentemos mais obstáculos que os homens, a gente consegue”, avaliou a estudante Jucinara.
Dados da pesquisa “Estatísticas de Gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil”, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2021, mostram que mulheres brasileiras são mais instruídas e com mais acesso ao ensino superior do que os homens, mas ainda são minoria em áreas ligadas às ciências exatas, como engenharia e tecnologia da informação.
O IBGE apontou também que, mesmo sendo mais da metade da população brasileira, as mulheres continuaram a ser minoria na ocupação de cargos públicos e gerenciais no país até 2020. Fora da vida pública, a discrepância na participação feminina em comparação com homens persiste, especialmente nos cargos de chefia. O instituto informou que, no Brasil, 62,6% dos cargos gerenciais eram ocupados por homens e 37,4% pelas mulheres em 2019.
Para reverter esse quadro ainda na educação básica, professoras da rede pública de ensino do Pará implementaram e participaram de iniciativas que buscam o protagonismo feminino, o despertar para ciência, o empoderamento, o aumento da participação feminina em diversos segmentos e a equidade de gênero das alunas.
“Hoje é um dia muito simbólico porque representa a luta das mulheres por uma sociedade sem desigualdades e sem violência de gênero. É tempo de se reforçar que as mulheres e meninas são livres para estarem onde quiserem e para fazerem o que quiserem. A escola desempenha um papel fundamental já que deve ser um ambiente que potencializa esse debate e que disponha de ferramentas para que nossas alunas possam realizar seus sonhos, sem qualquer tipo de barreira, seja na ciência, na engenharia ou em qualquer outra área de conhecimento. É nosso dever garantir isso”, afirma o secretário de Estado de Educação do Pará, Rossieli Soares.
Iniciação científica
A 1ª edição do ‘Futuras Cientistas' no Pará ocorreu em fevereiro de 2023. A temática “Experiências Científicas: o cotidiano no laboratório” foi desenvolvida por 8 alunas e 2 professores nas escolas EEEFM Luiz Nunes Direito e na EEEFM Maria Araújo de Figueiredo, ambas em Ananindeua, na Região Metropolitana de Belém (RMB) e nos laboratórios da Universidade Federal do Pará (UFPA).
“As selecionadas tiveram a oportunidade de produzir instrumentos musicais com tubos de ensaio, observar os elementos químicos com o uso da realidade aumentada, produzir desinfetante, produzir iogurte, observar protozoários de água doce com uso de microscópio alternativo. No final, produziram relatórios técnicos e compartilharam suas aprendizagens significativas sobre a experiência de imersão no Programa Futuras Cientistas”, detalhou a professora da UFPA Janes Kened, doutora em ensino de ciências e coordenadora do projeto em Ananindeua.
Para a participante Jucinara, o evento foi decisivo para a escolha da carreira científica. “Foi algo extraordinário, abriu meus olhos para o mundo da ciência. Desde criança gosto muito do tema, mas estar ali no laboratório e poder ver na prática o que posso fazer e o que posso mudar no mundo para ajudar as pessoas fez meus olhos brilharem e me fez perceber que é ali que quero ficar. Quero fazer pesquisa. Por mim passaria o dia todo em um laboratório”, revelou a estudante.
Ao todo, 30 paraenses participaram da imersão científica do programa nacional. Também foram contemplados os projetos: “química para transformar”, “o DNA como ferramenta para solução de incertezas práticas com animais”, ambos de Bragança, região nordeste do Pará. O Instituto de Educação Matemática e Científica da UFPA, em Belém, desenvolveu os projetos "Fotografando a Ciência: ampliando a visão para as questões socioambientais na Amazônia” e "Laboratório de ensino de ciências e laboratório natural: uma interface de oportunidades".
“Para além da vivência experimental intensa e diversificada, o contato com pesquisadoras no contexto laboratorial, a rotina com os protocolos de segurança e os desafios de lidar com a falta de condições ideias para a realização das atividades básicas também contribuíram para uma experiência enriquecedora e de troca mútua. Ter essas meninas e professoras de escola pública conosco promove fortalecimento educacional e reafirma nosso papel social como Universidade e fortalece nossa parceria com a educação básica, em especial na área das ciências exatas. Seguimos na esperança de que a imersão deixe saudades e que as estudantes não demorem a regressar na instituição como calouras e as professoras como estudantes de pós-graduação, pesquisadoras, colaboradoras, parceiras científicas ou visitantes para compartilhar novas experiências em suas trajetórias pessoais”, sintetiza a professora Janes.
Oportunidade
As interessadas em participar do projeto devem preencher um formulário disponível no site do Cetene. A classificação das estudantes considera as notas na escola, já a das professoras o currículo. O “Futuras Cientistas” oferece auxílio financeiro para as participantes executarem ações do plano de trabalho e vivenciarem experiências de cunho científico, em carga horária presencial e remota.
A professora de biologia, Ana Carla Gomes Castro, que leciona na escola EEFM Professora Maria Araújo de Figueiredo e coordena o Laboratório Multidisciplinar de Ciências, fala sobre sua experiência com o programa.
“Esse programa foi uma oportunidade ímpar de imersão científica em diferentes laboratórios. Proporcionar esse espaço às mulheres, composto principalmente por homens, é fazer com as meninas acreditem que o lugar das mulheres é onde elas quiserem e que mulher faz sim ciência de verdade”, afirmou a professora que ministrou o minicurso de produção de iogurte caseiro. No evento final, as alunas falaram sobre a prática experimental mais significativa que vivenciaram, sobre o estudo do cientista que estudaram ao longo do mês e finalizaram evidenciando as contribuições do programa para sua vida.
Na próxima edição do programa, que é anual, a coordenadora aponta os desafios. "Pretendemos estruturar os planos de trabalho específicos para professoras com o viés de pesquisa na área de ensino, visando a instrumentação de práticas de pesquisa e ações interdisciplinares que reverberam em suas salas de aula na educação básica com associação aos desafios curriculares da nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e manter os laços da rede colaborativa de professoras e professores que foram colaboradores com as ações executadas, seja permitindo a entrada das Futuras Cientistas em seus espaços de trabalho, seja desenvolvendo ações e compartilhando aprendizagens sobre a produção científica”, adianta.
Diversos saberes
Uma iniciativa da professora de artes, Márcia Cosmo, da EEEFM Alcides Carneiro, em Ananindeua, propõe que as professoras e alunas apresentem um experimento científico na biblioteca da escola, durante a semana do Dia Internacional da Mulher. O objetivo é motivar e promover o compartilhamento de saberes de diversas áreas através de experimentações científicas produzidas pelas cientistas da escola. Os experimentos podem ser simples, sem a necessidade de que sejam inéditos. “A ideia é que possamos juntas despertar nas meninas e jovens a descoberta do talento científico, bem como trazer luz à existência de mulheres incríveis que ainda são muito desconhecidas, mesmo após produzirem ciência em todos os tempos e em todo o mundo. Também queremos revelar a presença de mulheres e meninas perto de nós que produzem ou queiram produzir ciência em nossa escola, e ainda trabalhar com a valorização e autoestima das mulheres e meninas de nossa escola. Nós somos capazes”, explicou a professora.
O projeto começou a ser escrito em fevereiro, baseado no dia das meninas e mulheres cientistas, celebrado no dia 11 de fevereiro. “Realizei uma semana de cinema de curtas-metragens sobre a história de mulheres inspiradoras e, após essa etapa, fiz uma ponte com o Dia Internacional da Mulher e as convidamos para os experimentos”, acrescenta.
A escola abraçou o projeto, segundo a diretora Milene Andrade. “Nossa expectativa é intensificar as práticas dos espaços pedagógicos de forma interdisciplinar, propiciando o conhecimento científico no ambiente escolar através do compartilhamento de experiências e aprendizagens”, contou.
Empoderamento feminino
Desde 2022, a temática do empoderamento feminino é trabalhada na escola EEEFM Profª Dilma de Souza Cattete, também em Ananindeua.
O projeto é uma construção coletiva dos docentes, estudantes e comunidade. No primeiro momento houve uma formação para os professores da escola e depois o trabalho foi desenvolvido com os alunos, através de rodas de conversa, leitura de poesias, exibição de filmes e pesquisas sobre temas como mulheres na política, a equidade de gênero, diversidade de gênero, violência doméstica e feminicídio.
"A escola é o melhor espaço para discutir essa temática, porque estamos formando cidadãos que saem daqui com outra leitura de mundo. Vamos resgatar a autoestima das meninas, fazer com que percebam que as mulheres empoderadas têm seu espaço garantido na sociedade. O ambiente escolar precisava fazer esse trabalho. Já estamos conseguindo mudar o comportamento de alguns alunos. Se antes eles reproduziam uma cultura patriarcal, de violência, carregados de preconceitos, nosso trabalho fez com que eles refletissem, mudassem, e hoje eles não querem mais ser um agente reprodutor de violência", comemora a professora de artes Cleice Maciel, responsável pelo projeto.
A programação para a semana do Dia da Mulher na escola é diversa e tece diálogos sobre o empoderamento feminino para o enfrentamento das violências contra a mulher. No planejamento estão exibição de vídeos produzidos pelos alunos, roda de conversa mediada pelos alunos com uma ex -deputada federal, releituras do texto "Para que ninguém a quisesse" de Marina Colossanti, performance teatral, coreografia, painel sobre mulheres na filosofia, sessão de cinema com o filme 'Radioactive', roda de conversa sobre gênero e diversidade, além de apresentações musicais.
Texto de Sâmia Maffra / Ascom Seduc