Seap realiza II edição da 'Feirinha Literária' do Centro de Recuperação de Castanhal
O projeto, que contribui para a remição da pena, resultou no lançamento de um livro artesanal com poemas e ilustrações de autoria dos internos
A Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) realizou a II Feirinha Literária (Flicast) do Centro de Recuperação Regional de Castanhal (CRRCAST). O evento é resultado da produção das cinco turmas atendidas pelo Projeto Arca da Leitura, que garante a remição de pena por meio da leitura, e atualmente conta com 91 pessoas privadas de liberdade (PPL). Durante a Feira foi lançado o livro artesanal “II Ler-Berdade – Felicidade e Liberdade”, contendo 41 poemas e ilustrações criadas pelos custodiados.
A professora de Filosofia e Sociologia, Leiliane de Aguiar da Silva, da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Roberto Carlos Nunes Barroso, disse que o projeto de leitura funciona de acordo com a Resolução 391/2021, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que estabelece o direito à remição de pena por meio de práticas sociais educativas em unidades de privação de liberdade. São cinco turmas para 2023, com o objetivo é alcançar 100 leitores na unidade.
Segundo ela, para cada leitura de um livro, no intervalo de um mês pelo interno, é necessária a produção de um relatório de leitura, como determinam as regras do CNJ. A professora faz o acompanhamento dos leitores duas vezes por mês, e assim foi orientando a produção de textos e, posteriormente, do livro artesanal. Em nove meses de trabalho foram produzidos 551 relatórios.Livro artesanal com poemas e ilustrações feitas pelos internos que participaram da Feirinha Literária
Leiliane da Silva acrescentou a boa receptividade dos participantes. “Realizamos outras atividades pedagógicas, como os concursos de poesias que acontecem há quatro anos. Fazemos todo o preparatório, discutindo o que são gêneros literários. A produção da poesia é sempre livre. Eles criam os temas, selecionam os temas e a gente vai discutindo ao longo do ano, fazendo aos poucos, e culmina com a produção do livrinho artesanal”, informou.
Apoio da Academia - O evento tem a participação da Academia Castanhalense de Letras (ACL), intermediada pelo professor e escritor Franciorlis Vianna, na avaliação das poesias. “Eles têm conhecimento do que é produzido na unidade. Acham superinteressante; muito densa e bem preparada. Eles têm grande interesse nesse material, e futuramente pretendem publicar a poesia produzida pelos leitores do CRRCAST”, adiantou a professora.
Além de descobrir novos poetas, a confecção do livro artesanal também dá visibilidade a outros talentos, como o desenho. O interno D.R.C, 24 anos, ajudou a ilustrar o livro de poesias e contribuiu na edição para colorir, que será doada às crianças em dia de visitas. “Quando comecei a participar, eu ficava desenhando. A professora Leiliane viu e me deu um bloco de papel. Foi aí que voltei a desenhar, coisa que tinha deixado pra trás, e aqui dentro nunca imaginei que voltaria a fazer”, disse o interno.
Este ano, a Academia Castanhalense de Letras escolheu os seis melhores poemas produzidos pelos participantes e concedeu um Certificado de Mérito Literário, por meio da Secretaria de Estado de Educação (Seduc). Outro certificado também foi entregue àqueles que contribuíram para a realização do projeto, apoiando as atividades dos internos. Entre os contemplados está o diretor do CRRCAST, Wliton Felipe Ferreira da Silva, e o coordenador de Segurança, Sidney Vila Nova.O 'Arca da Leitura' proporciona remição da pena e abre portas para uma vida nova aos internos
Mudança de vida - O alcance do projeto vai além da remição da pena. Para o custodiado F.S.A, 29 anos, participar das atividades despertou o desejo de retomar os estudos e mudar de vida. “Na rua eu era uma pessoa ruim. Aqui dentro pude perceber que posso mudar de vida, que posso sair, voltar a estudar, fazer uma faculdade. Isso aqui é muito importante pra mim. A tão sonhada ressocialização começa aqui, pela educação. Foi através da educação que estou me ressocializando, e pronto pra voltar pra sociedade e ser uma pessoa de bem”, afirmou.
O diretor Wliton Felipe ressaltou que os projetos de leitura e educação permitem ao custodiado uma vida fora da cela, diminuindo a tensão no ambiente prisional. “Damos todo o apoio que é possível aos PPLs para a educação. Aqui temos internos que chegaram analfabetos, e hoje em dia estão perto de se formarem no nível superior. Que vá para dentro de uma sala de aula, para que possa passar o tempo, refletir na sua vida lá fora, para quando sair daqui tenha uma vida melhor, diferente”, concluiu o diretor.
Texto: Márcio Sousa/Ascom Seap