Crias do Curro Velho tem carnaval inclusivo com porta-bandeira cadeirante
Débora Cardoso Gomes é dentista e vai estrear no posto de porta-bandeira no desfilo oficial da Escola de Samba da Fundação Curro Velho neste sábado
A dentista Débora Gomes: ″A minha expectativa é a melhor possível, até porque é um convite inédito para mim″.O desfile do Grêmio Recreativo Escola de Samba Crias do Curro Velho chega às ruas do Telégrafo neste sábado (11). Cerca de 500 crianças e jovens participarão do evento, que acontece há mais de três décadas. A novidade este ano é a primeira Pessoa com Deficiência a assumir a função de porta-bandeira em Belém.
Débora Cardoso Gomes é dentista e faz uso da cadeira de rodas há 12 anos. Começou a dançar em 2018, quando entrou na companhia de dança inclusiva "Do Nosso Jeito". Desde então, o Curro Velho tem sido sua segunda casa. Esse ano, recebeu o convite mais inesperado.
Sem acreditar que assumiria a função de porta-bandeira, Débora achou que não iria conseguir, por ser cadeirante. "Eu imediatamente pensei 'como vai ser possível?', mas, depois, conversando com o pessoal, e eles me mostrando como seria desenvolvido o projeto, eu pensei "não, tem como sim. Eu não posso colocar essa barreira na minha cabeça'", explicou.
Apesar de nunca ter participado dos carnavais das Crias, Débora esteve presente em muitos projetos parceiros do Curro Velho. Para ela, o desfile representa o resultado de muito esforço e dedicação. "A minha expectativa é a melhor possível, até porque é um convite inédito pra mim", explicou.
A dentista, de 45 anos, revela que é muito importante estar à frente de um projeto como esse. "A representatividade que isso traz para outras pessoas que são usuárias da cadeira de rodas ou que tenham outras deficiências, é mostrar que, sim, é possível para todos nós", finalizou. Débora também lembra que o desafio não é apenas dela, mas de toda a equipe que trabalha para fazer o desfile acontecer.
Os bastidores
Sem dúvidas, uma parte bem importante da apresentação é a vestimenta. Da roupa adaptada que Débora vai usar até a dos demais participantes, tudo é pensado para garantir um aproveitamento máximo de materiais e de conforto. Ao todo, cerca de 30 fantasias são confeccionadas por alas.
Figurinista Guilherme Repilla finaliza confecção de fantasiaGuilherme Repilla é o figurinista responsável pela vestimenta desse ano. Participando de seu nono carnaval no Curro, Repilla tem quase 40 anos de profissão. Sua equipe tem, em média, 12 funcionários que são divididos entre a confecção de roupas para as alas, porta-bandeira, mestre-sala e porta-estandarte.
O desfile tem como tema "Brincar e Encantar: preservar a memória do nosso lugar”. A mensagem estará estampada nas fantasias, nas quais Guilherme trabalha há quase dois meses. "A inspiração vem do cotidiano das crianças na Vila da Barca. A forma das brincadeiras, das necessidades, dos sonhos. E a ideia das fantasias é trazer essa imagem, dessas brincadeiras populares de infância", explicou o figurinista.
O processo de criação das vestimentas é longo. Segundo Repilla, só para as baterias são confeccionadas mais de 150 roupas. "Na costura, eu escolho os tecidos. Depois de cortar todas as roupas, a gente vai passando para as costureiras. No decorrer da confecção, a gente vai ver se tem a necessidade de colocar mais alguma coisa. Detalhes com galão, essas coisas que dão um certo brilho pro carnaval", revela.
"Participar dessa criação e da confecção é um grande aprendizado. O Carnaval do Curro Velho serve de escola para muitas pessoas que querem enveredar por esse caminho do Carnaval e trabalhar com criação, com confecção de adereços, de alegorias, de fantasias", agradece Guilherme.
Thays Reis é técnica em gestão cultural da FCP e trabalha com o coordenador Jorge Cunha, na ala de inclusão do carnaval. Diretora de coreografia da companhia "Do Nosso Jeito", foi ela quem fez o convite especial para Débora. "Foi montada toda uma estrutura, ela realmente vai 'vestir' a cadeira", fala Thays sobre a fantasia da porta-bandeira.
"Tem muita gente envolvida nesse projeto. Desde o Jorge Cunha e eu, até o figurinista, o ferreiro, os instrutores". Além de cadeirantes, Thays também trabalha com pessoas com Transtorno do Espectro Autista e com Síndrome de Down. O Carnaval das Crias do Curro Velho é mais que uma festa. Para muitas pessoas como Débora e Guilherme, representa uma oportunidade de se reinventarem.
SERVIÇO
Data: 11/02
Horário: 9h
Concentração: Praça Brasil, Travessa Pombal
Percurso: Avenida Senador Lemos, Travessa Djalma Dutra, Curro Velho (Rua Nelson Ribeiro)
Texto de Álvaro Frota / Ascom FCP