'Conquistando a Liberdade' leva internos à escola municipal no Tapanã
Projeto promove a ressocialização de pessoas privadas de liberdade pelo trabalho, garantindo renda e remição de pena
A Escola Municipal de Ensino Infantil e Fundamental “Amigos Solidários”, localizada no bairro do Tapanã, em Belém, recebeu nesta quarta-feira (1º) ações do Projeto “Conquistando a Liberdade”. Catorze internos da Colônia Penal Agrícola de Santa Izabel (CPASI), na Região Metropolitana de Belém, realizaram limpeza, roçagem e recolhimento de lixo na unidade de ensino. O "Conquistando Liberdade" é realizado pela Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap), com apoio da Vara de Execuções Penais (VEP), e vem sendo realizado em diversos municípios do Pará.
As atividades são executadas por internos dos regimes fechado, semiaberto e domiciliar, que participam mensalmente das edições do projeto nas escolas da rede pública estadual ou municipal. São realizados trabalhos de recuperação e reforma dos espaços, além do "Papo di Rocha" com alunos da escola, momento em que os internos falam sobre suas vivências no cárcere e alertam sobre os perigos da criminalidade e do consumo de drogas.O projeto usa o trabalho como incentivo à ressocialização dos internos
Marlene Lameira, diretora da Escola “Amigos Solidários”, solicitou a limpeza da escola à Secretaria Municipal de Educação de Belém (Semec). Como a Prefeitura tem parceria com o Projeto “Caminhos da Liberdade”, a solicitação chegou à Diretoria de Reinserção Social (DRS) da Seap. A equipe de custodiados e servidores da Secretaria chegou por volta de 08, e realizou o trabalho durante toda a manhã.
As aulas na escola municipal ainda não iniciaram, e será uma boa surpresa para os quase 380 estudantes, no retorno às aulas, verem a escola limpa e as áreas livres capinadas. “Ficou muito bacana. É produtivo, e podemos expandir as parcerias. Estamos vendo que é muito tranquilo o trabalho desenvolvido pelos custodiados”, disse a diretora.
Hilda Mara, servidora da DRS, informou que os internos utilizaram roçadeiras e outros equipamentos. Policiais penais e o coordenador da equipe, Rodolfo Ferreira, realizam o monitoramento dos custodiados. O trabalho também permite a remição da pena. Para cada três dias trabalhados há redução de um dia na pena determinada pela Justiça.
Nova parceria – Ao lado da escola municipal funciona o Projeto “Anjos da Guarda”, mantido por servidores da Guarda Municipal de Belém (GMB). O local atende cerca de 140 crianças e adolescentes, entre 7 e 16 anos, do bairro do Tapanã. Durante dois dias da semana os integrantes participam de diversas atividades e recebem orientações, por meio de palestras e debates sobre prevenção à violência, ética pessoal, cidadania e preservação do patrimônio público. Os participantes participam ainda de aulas de jiu-jitsu, ministradas por agentes da GMB.
A coordenadora do projeto, Silvia Moraes, observou o trabalho dos custodiados e manifestou o desejo de solicitar o serviço à Seap. Como o espaço do projeto é menor, os internos fizeram a roçagem do terreno. “Foi ótimo! Vou mandar um ofício solicitando a vinda deles para realizar esse trabalho aqui conosco”, informou a coordenadora.
Participante do projeto há nove meses, o custodiado F.N.F, 42 anos, gostou da oportunidade que recebeu. Depois de sete meses como voluntário, ele agora está no segundo mês sendo remunerado pelo serviço de limpeza. Pai de uma menina, ele já tem planos de como utilizar futuramente o dinheiro que vem recebendo pelo trabalho.
“Vou guardar para ajudar minha filha. É bom para nós participar desse projeto. E para quem é beneficiado, ajuda na remição de pena. Alguns também são remunerados. Estou muito feliz com essa oportunidade”, disse o interno.
Empenho – Outros internos beneficiados pelo “Conquistando a Liberdade” se valorizam essa oportunidade, afirmou o agente prisional Rodolfo Ferreira. Segundo ele, todos trabalham com muito empenho, cumprem as ordens determinadas e, até hoje, nunca houve nenhum caso de “desrespeito” ou qualquer outra situação.
Rodolfo Ferreira informou que muitos participantes do projeto nunca haviam feito esse tipo de trabalho, e acabam adquirindo novos conhecimentos, como operar, montar e desmontar uma roçadeira. “Até hoje não tivemos nenhum problema com eles. Aproveitam sempre a oportunidade, para quando saírem daqui estarem preparados para o mercado de trabalho e se reintegrarem à sociedade”, informou.
Texto: Márcio Sousa – NCS/Seap