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FUNDAÇÃO CARLOS GOMES

Música alimenta a alma, transforma vidas e promove inclusão social

Por Redação - Agência PA (SECOM)
02/06/2018 00h00

“A música é o alimento da alma que mais influencia o comportamento da pessoa”. É nessa fonte inesgotável de criatividade e sensações que o estudante de Música João Paulo Baena se fortalece. Com apenas 12 anos, idade em que poderia estar jogando futebol ou manuseando os controles de um videogame no conforto do ambiente familiar, João Paulo enfrenta uma verdadeira maratona para manter os estudos de piano na Fundação Carlos Gomes, iniciados aos 7 anos. Duas vezes na semana, são seis conduções por via terrestre e duas travessias de balsa, saindo do município de Bujaru, a cerca de 50 quilômetros de Belém em linha reta. A longa viagem é iniciada logo após o almoço, e o retorno ao lar só na madrugada do dia seguinte.

A odisseia entre estradas e rios não desanima o jovem apaixonado pelo som produzido pelas teclas pretas e brancas, que há séculos convivem em mágica harmonia. “O piano não é um instrumento fácil de aprender, mas eu gosto de desafio e amo a música tocada no piano. Isso faz valer mais a pena”, garante João Paulo, dono da afirmação que abre esta matéria.

Assim como a música faz João Paulo Baena vencer distâncias geográficas e outras tantas dificuldades, ela transforma vidas, reescrevendo histórias em acordes que seduzem em todas as línguas, culturas, esferas sociais e perspectivas.

No Pará, a Fundação Carlos Gomes (FCG) é a instituição mantida pelo governo do Estado para desenvolver a política de incentivo à cultura musical, oferecendo musicalização para 400 alunos, todos integrados ao processo de construção do conhecimento sobre essa arte. 

Pela instituição já passaram inúmeras pessoas que fizeram da música o passaporte para novas viagens. O diretor de Ensino da Fundação, Claudio Trindade, ressalta que os estudantes da FCG são oriundos de todos os níveis sociais, de escolas públicas e particulares, de famílias tradicionais no cenário musical, participantes de projetos sociais e de entidades religiosas, da capital e do interior. As igrejas, segundo ele, têm um papel importante no despertar dessas vocações, por oferecerem um ambiente propício ao desenvolvimento da música.

“Aqui nós temos um verdadeiro espaço democrático, onde há um público eclético em um ambiente de convivência harmônico“, afirma o diretor. “A arte, por si só, já traz certa sensibilidade, e junto com essa sensibilidade que explora os sentidos e a parte psicológica do indivíduo vem a responsabilidade, que exige muita atenção, muita percepção. É aprender a ouvir o outro, é poder compartilhar uma troca de experiência musical”, enfatiza Claudio Trindade sobre o processo transformador proporcionado pelo aprendizado.

Na história de João Paulo Baena, o gosto pela música faz parte da herança genética. O pai, Paulo Robson Baena, 34 anos, é servidor público em Bujaru, e paralelamente mantém uma banda, na qual João Paulo começou a dar autonomia às mãos em um teclado. “O maior sonho é ver meu filho sair da cidade, do Estado e do País, e crescer na música. Ele está tendo uma oportunidade que eu não tive, e isso pode ajudar muito ele, tanto financeiramente quanto em outra área de sua vida”, diz Paulo Robson.

O começo - Professor de Musicalização da Fundação Carlos Gomes, Joca Silva afirma que a musicalização é a educação musical, o começo de tudo, o “ABC”. “Ensinar técnicas artísticas para uma criança não significa que vá surgir um novo artista. A ideia da educação musical é formar sujeitos que estejam aptos a olhar para a subjetividade inerente ao ser humano”, observa o professor, para quem a “musicalização traz benefícios, como disciplina e responsabilidade, capacidade de memorização, coordenação motora e paciência, além de ensinar a trabalhar em equipe”.

Ainda segundo Joca Silva, o aprendizado musical “amplia o horizonte e torna o aluno mais acessível. Muitos chegam aqui não querendo estudar mais, e acabam por descobrir um novo mundo. A arte é um grande instrumento de inclusão”.

Vibração – Uma inclusão social que proporcionou a Jaqueline Batista, 19 anos, deficiente auditiva, se emocionar na plateia do Projeto Concertos Didáticos, promovido pela Fundação Carlos Gomes. A turma de Jaqueline foi levada ao Theatro da Paz para assistir a um concerto da Amazônia Jazz Band. “Eu sinto a música através da vibração na pele, e ela me traz muita emoção. Eu vim para um concerto e, quando eu senti os músicos tocando, consegui sentir a emoção da música”, conta a estudante.

“Concertos Didáticos” é um projeto de educação musical, direcionado a crianças e jovens, realizado todos os anos pelo Conservatório Carlos Gomes, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação (Semec) e Secretaria de Estado de Cultura (Secult). O objetivo é difundir, apresentar e transmitir, por meio da música, a ampliação do conhecimento, além de permitir que muitas crianças em situação de vulnerabilidade social visitem um teatro pela primeira vez.

A professora de Educação Especial da Escola Estadual Feliz Lusitânia, Elizete Pena, explica que na educação especial a musica é fundamental, porque alegra, acalma e contagia. “Nos momentos de crise, a música os acalma e os torna mais felizes. Desenvolve a cognição e estimula o convívio social”, destaca a professora.

Aprendizado - Elizete Pena cita o aluno João Luca, 15 anos, que tem Distúrbio do Processamento Auditivo Central (DPAC), caracterizado por afetar as vias centrais da audição - áreas do cérebro relacionadas às habilidades auditivas, responsáveis por um conjunto de processos, desde a detecção até a interpretação das informações sonoras.

O distúrbio, no entanto não tira da música a importância que tem no aprendizado de João Lucas. “É através da música que ele aprende. O interesse teve início apenas na adolescência, por causa do DPAC, mas quando ele começou a descobrir a música se interessou cada vez mais”, diz a assistente social Rosemeire Pantoja, 50 anos, mãe de João Lucas.

“A música traz muita coisa boa. Ela me deixa feliz, e por isso eu quero ser músico quando crescer”, adianta o adolescente.

Herança e sacerdócio – O percussionista Bruno Azevedo, 23 anos, nasceu em uma família de músicos dedicados ao piano. Filho de Lúcia Azevedo e sobrinho de Helena Azevedo, ambas pianistas, ele é neto de Dóris Azevedo, uma das primeiras professoras de piano do Instituto Estadual Carlos Gomes (IECG).

“Quando eu era pequeno fiz algumas aulas de piano, mas não me identifiquei. Na adolescência tive bandas, e aos 18 anos comecei a estudar música formalmente. A arte em si já eleva o indivíduo. Estudar música traz um senso de disciplina, pois sem disciplina não se chega a lugar algum. São muitas horas de estudo, e eu aprendo muito isso com a minha avó. Meu tempo todo é tomado pelos estudos. Pretendo fazer mestrado fora do País e tocar em uma grande orquestra”, informa Bruno Azevedo, que integra o Projeto Orquestra, da Fundação Carlos Gomes.

O projeto é voltado ao desenvolvimento artístico de jovens músicos paraenses, promovendo estudos avançados na área orquestral, tendo como principais objetivos a educação musical, a capacitação e o aprimoramento técnico.

Outra integrante do Projeto Orquestra é a violinista Jade Guilhon, 26 anos, que fez o curso técnico em violino e Licenciatura em Música. Filha do violinista Luiz Pardal, Jade garante que em sua casa a música é natural, “uma paixão desde o início, pois eu amava escutar as músicas do meu pai, que também é compositor. Tudo foi de forma natural. Comecei pelo teclado, violino, bandolim e a viola que eu toco no Projeto Orquestra. Minhas duas irmãs também estudaram música”.

Para Jade, “a música é meu refúgio e meu sacerdócio. Quem escolhe a música como carreira opta por um sacerdócio, pois é estudo e conhecimento que nunca terminam”.

O maestro André Cardoso, diretor artístico da Orquestra Sinfônica do Rio de Janeiro, convidado para o Projeto Orquestra este ano, diz que a música agrega à vida cotidiana a manifestação artística mais importante da história da humanidade. “Estar em contato com a música é pertencer a uma comunidade de artistas que ao longo da história criou obras primas. Do ponto de vista pessoal, a música dá disciplina, concentração. Você faz música com alguém, uma arte que sociabiliza, ensina a ouvir o que o outro tem a dizer. Uma orquestra é um organismo coletivo. Fazer música é um grande privilégio na vida do ser humano”, afirma o regente.

Formação - A missão da FCG é difundir a educação musical como instrumento de socialização, promovendo inclusão social e garantindo ensino musical de qualidade para crianças, jovens e adultos no Pará, por meio de cursos regulares em Belém e de ações de interiorização, que levam atividades musicais para municípios do interior.

A instituição desenvolve atividades na área de ensino, pesquisa e extensão, atuando na formação profissional de músicos, potencializando talentos e documentando a memória da música regional. A Fundação também realiza projetos para aprimorar o conhecimento musical de alunos e instrumentistas. Além do Projeto Orquestra, há o Núcleo de Ópera, que prepara cantores líricos para a carreira operística.

Na área de responsabilidade social, descentraliza ações e leva educação musical para bairros da periferia da capital e a outros municípios da Região Metropolitana, com as ações do Projeto Música e Cidadania.

Fimupa – Todo ensinamento, técnicas de aprendizado e vivência musical proporcionados pela Fundação Carlos Gomes têm seu ápice no Festival Internacional de Música do Pará (Fimupa), que em 2018 chega a sua 31ª edição. O evento, realizado de 3 a 10 de junho, em vários espaços culturais da capital paraense, integra o calendário de ações do Governo do Pará voltadas à promoção cultural.

O Festival traz a Belém nomes consagrados da música erudita nacional e internacional, artistas da Música Popular Brasileira e músicos que se destacam como instrumentistas, como o diretor de orquestra e professor da Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro, João Guilherme Ripper; o arranjador, pianista e compositor Tim Rescala, e o compositor Alexandre Delgado.

As apresentações serão realizadas nos vários espaços do Instituto Estadual Carlos Gomes, Espaço São José Liberto, Theatro da Paz, Teatro Waldemar Henrique, Igreja de Santo Alexandre, Museu do Estado do Pará, Palafita Bar, Espaço Cultural Boiunas e Aslan Idiomas.