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CULTURA, LAZER E CIDADANIA

Dança e arte marcam I Encontro de Cultura Warao, na UsiPaz Padre Bruno Sechi

Programação contou com esportes, debates políticos e lançou o Conselho Warao Ojiduna, organização representativa da etnia no Pará

Por Raiana Coelho (SECTET)
12/12/2022 16h58

Indígenas venezuelanos Waraos residentes em Belém e Ananindeua realizam, desde o sábado (10), o I Encontro de Cultura da etnia, na Usina da Paz Padre Bruno Sechi, localizada no bairro do Benguí, em Belém. Nesta segunda-feira (12), a programação contou com esportes, apresentações culturais e debates políticos, que, além de celebrar a resistência indígena na América Latina, também lançou o Conselho Warao Ojiduna, organização fundada para representar e fortalecer politicamente a etnia, no Pará.

O primeiro dia do encontro, sábado (10), foi dedicado aos esportes praticados pelos indígenas: futebol, voleibol, natação, e, ainda, às atividades como ralar macaxeira, cabo de guerra e arco e flecha. As oito comunidades Warao, de Belém e Ananindeua, disputaram entre si as partidas, retomando as tradicionais práticas de esportes nos encontros culturais.

Nesta segunda-feira (12), segundo dia do encontro, houve apresentação de danças e cantos tradicionais, lançamento do Conselho Warao Ojiduna, contação de histórias dos mais velhos e uma assembleia geral. Além dos Warao, outras lideranças indígenas, organizações da sociedade civil, instituições públicas e órgãos de governo também participaram.

“Para a gente esse evento é um marco, tanto pelo resultado dessa construção e organização social das próprias comunidades warao, como por ter sido realizado dentro de um equipamento que foi construído e pensado pelo Governo do Estado para que esteja à disposição das diversas comunidades. Esse não é o primeiro evento que a gente realiza com a Usina da Paz, mas esse ano a gente teve essa oportunidade de nos aproximarmos desse equipamento, de trazer essa população para dentro desses espaço, não só aqui do Benguí, mas de outras Usinas, de Belém e Ananindeua, para que eles possam conhecer esses serviços, sentir que são bem recebidos, que podem estar aqui, que pertencem a esta cidade a esses equipamentos. É um processo de construção em muitos níveis e a gente fica muito satisfeito em ter esse apoio do Governo do Estado, para que eles possam se apropriar desse equipamento e se sentirem acolhidos e pertencentes aos municípios de Belém é Ananindeua”. Traduz o significado do evento, a chefe do escritório da Agência da ONU para Refugiados (Acnur), Janaína Galvão.

A ativista falou da vulnerabilidade vivida pelos povos indígenas e da importância do  movimento de reorganização social. “Depois de tantos anos residindo em Belém e em Ananindeua, esse é o primeiro encontro que eles realizam por iniciativa própria e a partir de uma articulação ampla entre todas as oito comunidades que residem nesses dois municípios. Esse encontro é resultado de um trabalho muito longo que vem sendo realizado junto a população Warao e entre eles de fortalecimento comunitário, de reorganização social, porque quando as pessoas se deslocam de seu país por motivos de perseguição ou de grave e generalizada violação dos direitos humanos e cruzam a fronteira internacional, muitas vezes elas perdem o contato com seus parentes, o tecido social é muito afetado nesse processo de deslocamento e o que a gente tem observado e promovido aqui é que a comunidade Warao tem mostrado esse desejo de voltar a se organizar, de se articular enquanto povo, enquanto grupo indígena, a partir de diversos encontros que foram realizados ao longo dos anos, então esse momento é o ápice desse processo de construção, de organização social que vem se dando ao longo dos últimos anos em Belém e Ananindeua e é muito importante, é um momento de celebração, apesar de ainda continuarem em situação de extrema vulnerabilidade, apesar de ainda estarem lutando diariamente pela sua sobrevivência, a gente já consegue ver avanços no nível de acessos a serviços, a politicas públicas e também de amadurecimento deles no conhecimento de seus direitos e seus deveres”, disse Janaína Galvão.

Juliana Chaves, coordenadora-geral da UsiPaz Padre Bruno Sechi, enfatiza a missão das UsiPaz na promoção da cidadania. “Um dos princípios básicos da UsiPaz é promover a cidadania, então a cidadania independe de nacionalidade, se são brasileiros ou venezuelanos, todos precisam ser bem acolhidos e bem recebidos, a gente tinha feito um primeiro evento com eles, apresentando os serviços da Usina para eles conhecerem e a partir daí surgiu essa ideia de fazer o encontro de celebração da cultura Warao, e foi um prazer para a gente recebê-los aqui, promover esse momento deles, de reencontro”.

A educadora e promotora de esportes, Gardência kuperkiros, também indígena venezuelana da etnia Warao, morava na Ilha da Perdenales, Estado de Delta Amacuro, antes de vir para o Brasil, há três anos, dois deles vividos em Belém, com marido e quatro filho, além de parentes que, ao todo, somam 31 membros da mesma família. 

Hoje, ela faz parte do Conselho Warao Ojiduna, e explica que o maior sofrimento da etnia na Venezuela era a falta de alimentação, mesmo trabalhando, o salário não era o suficiente para sustentar a família. Ela conta que o encontro também foi realizado com o objetivo de marcar o Dia da Resistência Indígena, comemorado no país latino no dia 12 de outubro.

“Não podíamos deixar passar em branco essa data, não podíamos deixar de mostrar nossa força, essa motivação que nós temos, apesar de todas as dificuldades que temos aqui no Brasil. Com esse encontro nós queremos que todas as instituições dos governos vejam que estamos aqui para sermos iguais, independentes de sermos de outro país, somos irmãos”.

Sobre os Indígenas Warao – Os Warao são um povo indígena oriundo da região do Delta do Orinoco, na Venezuela, que iniciaram um processo de migração forçada massiva para os estados da Amazônia Brasileira, além de outras regiões do Brasil e outros países da América do Sul, por conta da generalizada crise social que atravessa seu país de origem.

Nessa condição, essas pessoas são acolhidas no país, reconhecidas como refugiadas.
Atualmente, cerca de 700 pessoas desse povo vivem em Belém e Ananindeua, distribuídos em um abrigo público municipal, terrenos ocupados e casas alugadas onde se organizam de forma autogestionada.

Além de enfrentar a vulnerabilidade socioeconômica, a dificuldade de acesso a direitos básicos, o racismo e a xenofobia, os Warao que vivem no Brasil também lutam para preservar sua cultura indígena tradicional e compartilhar com seus filhos que já nascem em território brasileiro.