XXI Festival no 'Da Paz' anuncia sua primeira ópera barroca, a última da temporada 2022
‘Armide’ encerra a temporada 2022 do Festival de Ópera
O Festival de Ópera do Theatro da Paz encerra sua 21ª temporada com a montagem da primeira ópera barroca em 21 anos de existência. Estamos falando do clássico ‘Armide’, que será apresentado nos dias 30 de novembro, 02 e 04 de dezembro. O Theatro da Paz, um dos mais luxuosos do Brasil e considerado um dos Teatros Monumentos do país, será palco do espetáculo, oferecido ao público sempre às 20h.
A montagem paraense de ‘Armide’, do compositor Jean-Baptiste Lully (1632-1687), tem direção musical e regência do maestro e cravista carioca João Rival, que reside em Haia, na Holanda, há mais de uma década. João Rival, vai comandar uma orquestra de vinte e dois músicos, sendo nove da Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz (OSTP). O maestro o já teve a oportunidade de reger trechos dessa ópera muitas vezes, porém, será a primeira vez que regerá toda a obra, com elenco e músicos brasileiros. “Estou muito feliz com esta oportunidade maravilhosa de apresentar a primeira versão de ‘Armide’ no Brasil (após mais de 300 anos de sua estreia na França) em Belém e no Theatro da Paz. Será um marco na história da música brasileira, feito com muita dedicação, apoio genial Governo do Estado do Pará, muita competência dos músicos, um momento especial, único, de alta qualidade artística, para o deleite de todos. Tenho certeza este espetáculo tocará aos ouvidos, olhos e alma do público. ‘Armide’ trata de questões inerentes da vida humana, sentimentos que todos vivenciamos ao longo de nossas vidas. É uma ópera atemporal, extremamente tocante aos sentidos e o meu desejo é que todos se sintam profundamente envolvidos pela mensagem”, explicou o maestro.
De acordo com Daniel Araujo, diretor do Theatro da Paz e diretor geral do Festival de Ópera é a primeira vez que uma ópera barroca é apresentada no Festival e a expectativa na equipe é a melhor possível. “A primeira grande ópera da história foi encenada pela primeira vez em 1607, na cidade de Mântua, Itália. Com música de Claudio Monteverdi e libreto de Alessandro Striggio, ‘Orfeu’ foi a primeira peça teatral em que os atores cantavam todas as falas do espetáculo. Assim, podemos dizer então, que ‘Armide’ faz parte dos primórdios do gênero operístico e é uma ópera do barroco francês belíssima, de uma sonoridade muito bonita e nós estamos muito esperançosos que sejam récitas lindas, que vão trazer o público para uma experiência nova, de poder apreciar como a música era executada lá atrás”, definiu Daniel.
Sobre a produção musical e os detalhes, Daniel Araujo complementa que apesar de muito trabalho, a produção está tendo muito carinho com a montagem. “Nosso esforço agora é aproximar a sonoridade dos nossos instrumentos aos instrumentos como eram tocados no período barroco, com a sonoridade que eles tinham na época. As cordas dos instrumentos estão sendo trocadas por cordas como aquelas usadas no período barroco, a afinação da orquestra é diferente, próxima da afinação que era usada à época e estamos preservando toda a questão estilística, como se canta a música barroca, como se canta o barroco francês. Então, o público que comparecer ao Theatro da Paz não vai se arrepender e vai ter uma ótima experiência ao apreciar a música barroca da melhor qualidade”, finalizou.
O diretor de teatro e figurinista Marcelo Marques, assina a direção de cena, figurino e cenografia da versão paraense de ‘Armide’ e com sua equipe vem mantendo suas criações em sigilo, gerando muita expectativa. “Essa ópera fala de amor e o amor é sempre positivo, a experiência mais transformadora da vida, a mais fundamental, porém, a história já provou que pode ser terrível também. ‘Armide’ não é diferente disso. Foi escrita no século XVII e o nosso trabalho aqui é fazer ‘Armide’ respeitando seu tempo, mas olhando para os dias de hoje, nos debruçando sobre o mundo em que vivemos. Então, a visão que se tinha da mulher no século XVII era muito diferente do que temos hoje e ainda mais do que se pretende para a mulher em curto e médio prazo”, explicou o diretor.
Para Bruno Chagas, secretário de Estado de Cultura do Pará, em 144 anos o Theatro da Paz vem ajudando a escrever diversas páginas da rica arte amazônida, reunindo artistas de diversas áreas, cujos ofícios se complementam, resultando no árduo trabalho de profissionais do canto lírico, dança, orquestra, cenografia, visagismo, figurino e cenotécnica. “A ópera ‘Armide’ finaliza uma temporada muito importante para o Theatro da Paz, que em 2022, viu surgir sua Academia de Ópera, que contribuiu para a formação de diversos profissionais; a continuidade do projeto Sons de Liberdade, que visa a reinserção de egressos do Sistema Prisional no mercado de trabalho da economia criativa; e uma parceria com a Embaixada da Áustria no Brasil, que acenou com o patrocínio de parte do orçamento do Projeto. Todas essas conquistas ressoam a esperança em um novo ano ainda mais promissor para a economia criativa do Estado, para a cadeia produtiva da ópera e para os amantes da arte em todas as suas dimensões”, finalizou o secretário.
Ópera Armide
A história da feiticeira Armide é uma adaptação de um poema épico de Tasso. Ela captura suas vítimas masculinas usando as artimanhas de seu sexo, fazendo com que se apaixonem por ela sem retribuir o amor. No entanto, quando a própria feiticeira se apaixona, tudo muda. Ela está dominada pelo amor que a consome à ruína. O herói, Renaud, é subjugado pelo charme erótico e corruptor dela.
Ambientada na Primeira Cruzada, é a história da paixão da feiticeira Armide por seu ferrenho inimigo Renaud. Incomum na época, a ópera concentra-se quase toda no personagem-título e em suas emoções conflituosas. Lully também é cativado pelo charme de sua feiticeira apaixonada. É o personagem que menos se espera inspirar nossa empatia que acaba conquistando pela beleza, emoção e poder expressivo de sua música.
‘Armide’ foi um sucesso imediato e tornou-se um clássico do repertório francês. Foi a ópera de Lully montada com mais frequência em Paris no séc. XVIII.
De acordo com Marcelo Marques, sua proposta para Armida é encontrar no texto de Philippe Quinault, que é espetacular, além da música, elementos que justifiquem a importância da mulher e suas qualidades em qualquer tempo da história. “Esta é uma história muito feminina, que não possui vilões e sobretudo um encontro fortíssimo de almas. São dois grandes heróis, ela é uma mulher de uma estatura enorme, ética e ele também, um homem grande, ético, que não renuncia ao que pensa e acredita. Então, é natural que se tenha uma ligação intensa. Como toda heroína trágica, Armide tem consciência de toda a sua desgraça, de seus erros e sabe que o pior erro dela foi tentar manipular o livre arbítrio de um homem. Ela erra, mas todos erram. Nosso desavio é retirar essa demonização da mulher e nos comunicar com a nossa plateia, já ambienta com o gênero operístico e que também é muito feminina”, explica Marcelo Marques.
Academia de Ópera do Theatro da Paz
A grande novidade do XXI Festival de Ópera do Theatro da Paz foi criação da Academia de Ópera do Theatro da Paz, que permitiu aos cantores líricos a prática dos conhecimentos adquiridos nos últimos três anos de formação, dentro de um ambiente pedagógico sistematizado.
O projeto Sons de Liberdade, que está inserido no Festival de Ópera do Theatro da Paz, têm chamado atenção pela proposta inovadora de capacitação de mão-de-obra especializada para a produção de ópera, visando a reinserção de egressos do Sistema Prisional no mercado de trabalho da economia criativa. O projeto também contempla oficinas de cenografia, marcenaria, figurino, visagismo e outras que os ajudam a obter um novo olhar positivo para a vida, ventilando novas possibilidades por meio da expansão da consciência. São as oficinas de filosofia e de meditação, por exemplo. Com um conjunto de ações integradas, esses egressos estão tendo condição de se colocar não só no mercado de trabalho, mas também na vida.
De acordo com o diretor do Theatro da Paz, Daniel Araujo, estatisticamente grande parte desses egressos voltam para o crime. “A ausência de oportunidade leva a isso. Eles ainda carregam o estigma de serem ex-custodiados e é justamente quando se entra lá e se capacita essa pessoa, a gente abre a condição dela poder ter algum tipo de trabalho digno”, afirmou.
A Embaixada da Áustria no Brasil acenou com o patrocínio de parte do orçamento do Projeto Sons de Liberdade desenvolvido pelo Governo do Pará, por meio da Secult e Theatro da Paz. “Ao longo do ano de 2022 foram envolvidas cerca de cinquenta pessoas atendidas pelo projeto Sons de Liberdade. Algumas na condição de egressas, já com as suas penas cumpridas e a grande maioria na condição de custodiadas do Sistema Prisional”, explicou Daniel.
Nesse momento, cinco egressos puderam ser contratados através do projeto Sons de Liberdade em parceria com a Embaixada da Áustria, para a confecção de parte dos figurinos e dos cenários para obras que já foram encenadas este ano e ‘Armide’, que estreia no dia 30/11 e que conta com quatro egressas trabalhando no figurino. É o caso de Ana Vitória Palhares, de 21 anos, a primeira mulher trans no Pará a ir para o presídio feminino.
“Sons de Liberdade para mim é sinônimo de apoio, descoberta e aprendizado, desse universo que eu conhecia pouco. É descoberta porque eu acabei vendo que sou boa em algumas coisas e sou criativa para outras e só descobri isso aqui. Então, está sendo muito bom para mim colocar em prática aqui fora o que aprendemos lá dentro. Nós só queremos viver normalmente igual a todo mundo porque a gente errou, mas pagamos pelos nossos erros e só queremos seguir em frente. Sons de Liberdade é um som de libertação”, definiu.
Ficha técnica
Direção de cena, figurino e cenografia: Marcelo Marques
Assistente de direção: Lucas Speck
Assistente de figurino: João Victor D’Alcantara
Maestro e cravista: João Rival
Regente do coro: Maria Antonia Jimenez
Iluminação: Rubens Almeida
Visagismo: Omar Junior
Armide: Carolina Faria
Renaud: Lucas Gabriel
Hidraot: Fellipe Oliveira
La Haine (o ódio): Idaias Souto
Phènice: Tássia Tavares
Sidônia: Thaina Souza
Lucinda: Dhuly Contente
Melisse: Dulcianne Ribeiro
Bergére e Ninfa: Elizabeth Moura
Le Chavalier e Artémidone: Tiago Costa
Aronte: Hugo Harley
Ubalde: Ytanaã Figueiredo
Um amante: Alexsandro Brito
Diretor geral do Festival: Daniel Araujo
Diretora artística: Jena Vieira
Diretora de produção: Nandressa Nuñez
Vendas de ingressos
A venda de ingressos para a Ópera ‘Armide’ inicia quinta-feira (24), na bilheteria do Theatro da Paz ou por meio do site: www.ticketfacil.com.br.
O Festival de Ópera do Theatro da Paz é uma realização do Governo do Pará, por meio da Secretaria de Estado de Cultura (Secult) em parceria com o próprio Da Paz e Academia Paraense de Música (APM).
Texto: Úrsula Pereira (Ascom Theatro da Paz)