Após a pandemia, ex-votos do Círio são ligados à recuperação da Covid-19
Pesquisador avalia que a crise do coronavírus fortaleceu a religiosidade entre as pessoas
Na primeira celebração do Círio de Nazaré passado o auge da pandemia de Covid-19, os sinais do período marcante para a humanidade estão presentes em objetos de promesseiros. Devotos estão ansiosos para o reencontro de fé.
Para Rodrigo Nunes, os motivos de agradecimento são pela saúde dos familiares. “Logo no início, eu lembro que nós rezávamos o terço da misericórdia e passamos praticamente ilesos pela pandemia. Nesse contato que eu tenho com Nossa Senhora desde criança, estudei em escola de freira e trabalho no Colégio Marista. Olho pra trás e vejo a minha trajetória, não é nada por acaso. O maior exemplo que ela deixa é a humildade, se dedicar em serviço”, comenta.
O devoto conta que teve Covid-19 em 2022, mas que os sintomas foram leves em função da vacina e vai agradecer nas procissões pela chegada dos imunizante. “Eu acho que não só a minha expectativa, mas, de um modo geral, do povo católico paraense e das pessoas que vêm de fora vivenciar essa experiência. Os romeiros passando, pagando suas promessas. De certa forma, aquele esgotamento da pessoa não é de pagar a promessa, mas traz um certo alívio para a sua alma, no lado espiritual”, acrescenta.
A fábrica de velas da empresária Luciana Brahuna produz itens de cera para promesseiros há mais de 70 anos. Ela sente um aumento nas vendas de artigos religiosos, de modo geral, mas percebe o impacto de votos relacionados à recuperação da saúde após contágio de Covid-19.
“Esse ano, tivemos uma procura muito grande por itens representando o pulmão, algo que não era tão frequente, e também de coração, que já era recorrente antes, mas não tanto quanto agora. Também percebemos, em 2022, um aumento da procura não só por velas para promessas, mas também por artigos religiosos em geral. Uma procura maior do que o patamar anterior, em 2019. As pessoas estão muito animadas para o Círio”, avalia a empreendedora.
Esse processo é explicado pelo fortalecimento da religiosidade com a pandemia, como explica Walison Dias, professor mestre e pesquisador das Ciências da Religião na Universidade do Estado do Pará (Uepa).
“Acreditamos que será um Círio histórico, por uma série de fatores: a perda de entes queridos, a retomada da economia, a possibilidade de aglomerar, as promessas que se voltam muito mais para a saudade, entre outros. Analisamos também que as peregrinações domiciliares foram muito mais intensas. As peregrinações de outros municípios para Belém já começaram e têm toda uma conotação de superação da pandemia”, pontua o estudioso.
Um Círio de múltiplas vozes que, de alguma forma, terão relação com a pandemia, segundo Walison. “A partir das nossas observações do cenário, que discutimos na Universidade, analisamos, por exemplo, as peregrinações domiciliares conduzidas pelas paróquias. Dois fatores foram unânimes em toda a região metropolitana de Belém: a forte participação da comunidade, o que não se percebia até 2019; e as promessas e orações que se voltam para uma vitória e superação da Covid-19”, destaca o pesquisador.