Juventude indígena aposta na valorização cultural para afastar jovens das drogas
Para tentar combater o uso de álcool e drogas entre jovens, indígenas do grupo “Intercâmbio de Jovens Indígenas” formado por três aldeias diferentes, se uniram para promover uma ação durante uma ação de cidadania realizada pelo Governo do Pará na Aldeia Tekohaw, que integra parte da Reserva Indígena Alto Rio Guamá, a 160 km de Paragominas. O grupo vem promovendo encontros para recrutar jovens de diferentes etnias com o apoio da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai).
Diaah Tembe, de 25 anos, é um dos participantes que iniciou o grupo. Ele explica que sentiu a necessidade de se unir a outros jovens ao ver o quanto o uso de álcool e outras drogas estava se tonando comum na região. O grupo promove encontros com palestras e depoimentos sobre o combate as drogas, além de rodas de conversa para falar sobre os rituais e tradições dos seus povos. “Nós só tínhamos 15 pessoas participando do grupo quando iniciamos e agora estamos recrutando cada vez mais jovens. Nós queremos mostrar para eles o quanto a nossa cultura é importante, que a nossa história é importante e dessa forma afastá-los do aliciamento para as drogas, que muitas vezes ocorre. Além disso, essa também é uma maneira de mostrarmos para os nossos pais, para os mais velhos, que estamos prontos para ficar no lugar deles. Estamos prontos para lutar pelos nossos direitos e por melhorias para o nosso povo”, explica.
“Com este projeto nossos jovens estão voltando a dançar, a se pintar, a ter orgulho da sua cultura. É muito importante para o futuro dos nossos povos que esse tipo de atividade aconteça”, afirmou Sérgio Muxi Tembé, cacique da aldeia Tekohaw. Os primeiros encontros do intercâmbio de jovens indígenas foram promovidos nas aldeias Tekohaw, Cajueiro e Barreirinha.
Ação – A apresentação dos jovens aconteceu durante ação de cidadania realizada pelo Governo do Estado através da Secretaria de Estado de Assistência Social, Trabalho, Emprego e Renda (Seaster), de Direitos Humanos e Justiça Social (Sejudh) e Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai). Entre os dias 22 e 25 de agosto foi realizado, na aldeia Tekohaw, emissão de 1ª e 2ª vias de certidão de nascimento, emissão de registro civil (Rg) e cadastro para a carteira do artesão. No total, aproximadamente 500 documentos foram emitidos.
Seja por desconhecer a importância da emissão da certidão de nascimento, por dificuldades em ir até um cartório, ausência dos documentos dos pais e até por não saber da gratuidade da emissão do documento, milhares de crianças, principalmente entre 0 a 10 anos, vivem sem o primeiro documento civil no Pará. Muitos indígenas também acreditam que o Rani - Registro Administrativo de Nascimento de Indígena - equivale a certidão de nascimento, informação que é equivocada. A certidão de nascimento não anula nenhum direito garantido pela Constituição Federal aos povos indígenas e é expedida para obter a documentação básica como a carteira de identidade (RG) e cadastro de pessoa física (CPF) essenciais na inclusão destas populações em programas sócios assistenciais do Estado.
“Trazer esta ação para cá é muito importante porque quando as emissões são na cidade nem sempre a informação chega e não é fácil para eles, que moram em uma localidade distante, conseguir transportar todo mundo da aldeia para a cidade, nós sabemos que o acesso é difícil. Além disto, trazer a carteira do artesão até eles é importante porque é a valorização cultural desta população. Os Tembé historicamente sempre produziram bastante artesanato e é necessário fazer esse cadastro para que eles se profissionalizem e possam se beneficiar com as políticas públicas que existem para eles”, explicou Ana Claudia Cunha, secretária adjunta de assistência social.
É através da emissão e cadastro no Sistema de Cadastro do Artesão Brasileiro (SICAB) que o artesão pode ter acesso às linhas de créditos e finanças, além de processos de formalização de empreendimento individual ou coletivo. “É a primeira vez que recebemos uma ação como essa na nossa aldeia, inclusive com o cadastro do artesão, que é uma ação que valoriza a nossa cultura e nosso povo. Muita gente que já não fazia mais artesanato está voltando a fazer ao saber dessa emissão. Valorizar nosso artesanato é trazer desenvolvimento para a nossa comunidade, porque é através dele e com a carteira que podemos fazer a comercialização de forma organizada dos nossos produtos”, finalizou o cacique Sérgio Muxi Tembé. A ação na aldeia Tekohaw foi terceira de uma série que irá atender populações tradicionais de diferentes regiões do Estado no segundo semestre de 2018.