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Dia da Consciência Negra reforça ações contra o racismo nas escolas

Por Redação - Agência PA (SECOM)
19/11/2018 00h00

A Escola Estadual General Gurjão, no bairro da Cidade Velha, encontrou uma maneira expressiva para valorizar a cultura e história do povo negro neste 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra. A partir das 14 horas desta terça-feira (20), a escola sediará a exposição “Minha Essência Humana”, que reúne fotos nas quais 15 alunas, professoras e servidoras da “General Gurjão”, aparecem com indumentárias típicas da cultura afro-brasileira.

Além de aulas abordando o significado da data e sobre a contribuição dos cidadãos negros à construção do Brasil e o racismo sofrido por essas pessoas até os dias atuais, os estudantes da “General Gurjão” também participarão de atividades como canções temáticas, rodas de conversa e exibição de documentários sobre a temática.

“A ideia da mostra de fotos foi exaltar a beleza das alunas, professoras e servidoras negras, trabalhando a autoestima, a identidade, com uso de turbantes, colares e outros acessórios expressivos da cultura negra, e eu notei o empoderamento delas como ‘eu sou o que sou independente de qualquer situação adversa’”, afirmou a fotógrafa e psicóloga da escola, Gracy Kelly Tobias, autora das fotografias feitas na própria unidade de ensino. A programação é coordenada pela diretora Jorgina Barros.

O 20 de Novembro é uma data especial para reflexão por parte das comunidades escolares da rede estadual de ensino. Tanto que a Secretaria de Estado de Educação (Seduc), por meio da Coordenadoria de Educação para a Promoção da Igualdade Racial (Copir), mobiliza as escolas estaduais na Grande Belém e interior do Estado para ações acerca da discriminação presente na sociedade brasileira. Este dia está incluído na semana da Consciência Negra e tem como objetivo um reflexão sobre a introdução dos negros na sociedade brasileira. O dia 20 de Novembro foi escolhido como uma homenagem a Zumbi dos Palmares, data na qual morreu, lutando pela liberdade do seu povo no Brasil, em 1695. Um quilombo é uma região que tinha como função lutar contra as doutrinas escravistas e também de conservar elementos da cultura africana no Brasil.

Para que a memória da história permaneça viva, as escolas promovem, ao longo deste mês, eventos sobre a temática com base na Lei 10.639/2003, que estabelece a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana na Educação Básica no País. As ações abordam a temática “Minha Escola Contra o Racismo". “Nós trabalhamos na formação de professores como multiplicadores de conhecimentos e na realização de eventos nas escolas, inclusive, escolas em comunidades quilombolas, conscientizando educadores e estudantes sobre os direitos dos cidadãos negros e contra o racismo, prática essa que, em muitos casos, afasta crianças e adolescentes da própria escola”, afirmou a coordenadora da Copir, Creuza Santos.

De 2011 até agora, a Copir atuou em cinco frentes, uma delas a sensibilização e formação de educadores e educadoras da Seduc e de secretarias municipais de Educação. Foram realizadas palestras, assessorias e repasse de material e informações sobre a temática.

A formação inicial e continuada para o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana abrange quatro categorias de formação: Aperfeiçoamento, Cursos, Educação Quilombola e Pós-graduação - nessas ações foram atendidos 67 municípios de todas as regiões do Estado, com 6.752 profissionais de educação capacitados.

Exatas 7.605 pessoas de comunidade escolares de 12 cidades paraenses receberam atendimento em ações educativas complementares de combate ao racismo, como exposições, caminhada temática e campanha.

A Copir presta assessoramento às Unidades Seduc na Escola (USE’s), Unidades Regionais de Educação (URE’s) e escolas, em ações voltadas para a temática afro-brasileira e promoção de seminários sobre educação das relações étnico-raciais. Nesse contexto, foram atendidas 7.190 pessoas, com foco na região metropolitana de Belém.

Valorização da cultura e da etnia estão em foco neste mês

O aluno do oitavo ano da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Rui Barbosa, Adriano dos Santos, 13, foi vítima de racismo em sua própria casa ao derrubar um prato e ouvir de uma tia que aquilo era “coisa de preto”. A também aluna do oitavo ano Giovana Santos, 14, faz questão de sentir orgulho de seus cabelos afro e sempre foi estimulada dentro de sua família a sentir orgulho de sua raça. Os dois fazem parte do universo de alunos que durante duas semanas participaram da Semana Biblioteca e Direitos Humanos e Semana da Consciência Negra na Escola Rui Barbosa.

Adriano dos Santos destaca que comemorar a data que lembra Zumbi dos Palmares é uma tradição em sua família. “Minha avó é da umbanda e eu respeito muito nossa religião. Este dia é muito especial para mim, pois acredito que homens e mulheres negras têm todos os direitos que outra pessoa de qualquer outra cor tem”, comenta.

Para Giovanna a voz do negro precisa ser mais ouvida neste mundo onde ainda há muita diferença entre negros e brancos. “Desde pequena meu pai me incentivou a usar meu cabelo afro e a ter orgulho da minha cor. Tenho que ser quem eu sou e não ficar me escondendo”, ressalta.

Segundo a gerente de Igualdade Racial da Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh), Mãe Nalva de Oxum, falar sobre racismo em um momento de perda de direitos é muito importante. “O racismo é perverso na sociedade e adoece todo mundo, o preconceito é ensinado no seio familiar, então a escola tem esta função de desconstruir este discurso”, ressaltou a gerente, que nesta segunda-feira ministrou duas palestras aos alunos da escola.

Realidade

De 2015 até 2017 nove lideranças afro religiosas foram assassinadas no estado do Pará. A Sejudh montou um grupo de trabalho voltado para a questão e alguns casos já foram solucionados. “O Governo do estado, ao chamar uma ‘Babalorixá’ para fazer parte do Governo permitiu e deu uma visibilidade, pois o grande objetivo do preconceito e do racismo é nos tornar invisíveis”, ressaltou Mãe Nalva.

O projeto nasceu da necessidade de criar um ambiente de respeito mútuo no espaço escolar, a partir da consciência da diversidade humana, bem como da importaância do reconhecimento de direitos básicos para a construção de uma cultura de paz, como explica o professor e coordenador do Espaço de Leitura da Escola, Elias Hage. Para Francione Sobral, professora de artes da escola, na programação, o aluno está tendo a oportunidade de enquanto negro ter orgulho de sua pessoa, sua aparência e deixar de ser discriminado.

(Colaborou Márcio Flexa/ Secom)