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Tradição e tecnologia movimentam cadeias produtivas de açaí e cacau em São Miguel do Guamá

Emater reuniu doze produtores de quatro comunidades do município para conhecer uma experiência bem-sucedida de plantio consorciado de açaí e cacau

Por Luana Laboissiere (SECOM)
14/01/2022 13h45

O agricultor Edson Sebastião Cardoso, 82 anos, só se alimenta se houver açaí junto, por isso sentido há alguns anos ele resolveu plantar as próprias palmeiras, para não precisar mais comprar de sítios vizinhos. 

Proprietário de mais de 50 hectares onde o destaque é a pimenta-do-reino, na Vila Seca, Comunidade Sagrada Coração de Jesus, município de São Miguel do Guamá, na zona guajarina, e atendido pelo escritório local da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater), o patriarca criou os três filhos na roça. A prole cresceu e assumiu lotes ali mesmo, dentro do terreno original, o Sítio Cardoso. 

“Um dia nosso pai olhou pro céu e sonhou que era possível plantar o açaí pra encher a barriga, outro dia também olhei pro céu e sonhei que era possível plantar mais açaí, pra produzir em quantidade e qualidade suficientes pra comercializar”, conta Edinei Cardoso, 34 anos.

Cada herdeiro estruturou seu sistema de produção com um toque pessoal. Em cerca de oito hectares, uma soma dos herdados mais outros adquiridos, Edinei e a esposa Regiane Guedes, 28 anos, por exemplo, já trabalham sobre mais de mil pés de açaí, com os quais pretendem consorciar mil pés de cacau no próximo mês. 

A família mantém, ainda, áreas de banana, mandioca, milho e pimenta, além de duas vacas leiteiras e três canteiros de cheiro-verde orgânico.

“Colho por volta de cem maços por semana e vendo tudinho. O pessoal vem buscar aqui em casa pra revender nas feiras por perto e até em feiras de Belém [capital]”, detalha Regiane, mãe de Bárbara, 8 anos, e Cynthia, de dois meses. 

A mulher diz que o feminismo no campo é gerar renda, liderar as decisões do lar lado a lado com o marido, observar as filhas e perceber que as chances delas serão imensamente mais generosas: “Poderão estudar e continuar agricultoras, com mais conforto, mais saúde”, confia. 

Intercâmbio

Em 22 de dezembro, Edinei e o irmão Elielson, 42 anos, participaram de um intercâmbio técnico promovido pela Emater e parceiros para troca de conhecimentos. Doze produtores de quatro comunidades de São Miguel do Guamá viajaram para o município limítrofe de Santa Maria para conhecer uma experiência bem-sucedida de plantio consorciado de açaí e cacau.

As famílias das comunidades Ladeira, Santo Antônio, Sete de Setembro e Suassuy visitaram os 25 hectares do Sítio Bem-Aventurado, na Vila Anapolina, onde Antônio Valdecy da Silva, 56 anos, e os filhos, André da Silva, 33 anos, e Andreza da Silva, 30 anos, cultivam açaí e cacau, sob um complexo consorciado e irrigado. Ademais, a propriedade se constitui de 22 placas de energia solar e de lavouras de cupuaçu e pimenta-do-reino. 

O mais atrativo é uma variedade de açaí com precocidade especial. Oriunda do município de Moju e introduzida por acaso por Valdecy, a variedade chega a frutificar um ano antes do que a variedade tradicional na região, sem tratos exigentes. 

“A gente considera que está num bom patamar, sim, tanto que recebe muitos agricultores, muitas pessoas vêm entender nossas estratégias, só que achamos que a Emater pode contribuir em vários quesitos, como análise de solo, crédito rural, prospecção de mercados. É um apoio válido!”, avalia André. 

De acordo com o chefe do escritório local da Emater em São Miguel, o técnico em agropecuária Odiwaldo Portela, o entrosamento entre diferentes agricultores de diferentes municípios, com perspectivas de cultura e tecnologia semelhantes, costuma repercutir com bastante vantagem, para ambos os lados: “Aí são de verdade networking e reciprocidade. Todos se comunicam e aprendem. É uma oportunidade in loco de perceber o que está dando certo em cenários parecidos. A questão de novas variedades de açaí é um dos pontos, porque transforma escalada de produção”, avalia.

Novas experiências

“A gente sai do nosso lugar é pra saber que tem muitos na  luta. Vimos que dá pra reproduzir ferramentas e mecanismos. É o caso do espaçamento entre açaí e cacau e das mudas de novas variedades”, conta Edinei.

Quanto à nova variedade, a Emater está multiplicando em dois viveiros comunitários e distribuirá 19 mil mudas em fevereiro.

“A ideia é aliar vivência e novidade. O caminho da agricultura familiar não é negar raízes, nem modernidade; pelo contrário. É valorizar toda a tradição, abraçando o que vier de evolutivo, para referendar cada vez mais produtividade e qualidade de vida”, completa Portela.

Texto: Aline Miranda/Ascom Emater