Projeto capacita para o diagnóstico precoce de hanseníase
Belém recebe, desde a segunda-feira, 20, a primeira etapa do Projeto Abordagens Inovadoras para Intensificar Esforços para um Brasil Livre da Hanseníase, que é desenvolvido pelo Ministério da Saúde, em parceria com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e apoio da Fundação Nippon do Japão. No Pará, tem apoio da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) e das Secretarias de Saúde dos municípios participantes, que são Belém e Marabá, sendo que nesse último a primeira etapa já foi realizada no mês de outubro.
Na capital paraense, a primeira etapa será encerrada neste sábado (25), com um mutirão na Unidade Municipal do Tapanã, com a realização de exame dermatoneurológico para diagnóstico, avaliação para prevenção de incapacidades, além de atividades que alertam à população sobre os sinais e sintomas da doença. A próxima etapa do projeto será realizada em 2018 e a terceira em 2019. Nos intervalos, a supervisão dos resultados será feita por técnicos do Ministério da Saúde e da Sespa e também por meio do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan).
Abrangendo 20 municípios nos Estados do Maranhão, Mato Grosso, Pará, Pernambuco, Piauí e Tocantins, o projeto tem a finalidade de reduzir o número de casos de hanseníase nas cidades selecionadas, com a ampliação do trabalho de detecção de casos novos; promoção da educação permanente para os profissionais da Atenção Primária à Saúde; fortalecimento dos centros de referência; redução da proporção de casos novos com grau 2 de incapacidade física (GIF 2), por meio do diagnóstico precoce e ações de prevenção de incapacidades, e combate ao estigma e discriminação contra os doentes de hanseníase.
Para a seleção dos municípios participantes, o Ministério da Saúde usou como critério os que registraram maior número de casos novos de hanseníase, tanto na população geral como em menores de 15 anos de idade, tendo como base o ano de 2015. A escolha também foi baseada na disponibilidade de serviços, de profissionais de saúde e intervenção pedagógica.
Em Belém, que ocupa 23ª posição no ranking nacional de casos novos de hanseníase, o projeto é realizado nas Unidades Municipais da Marambaia, Benguí, Cabanagem, Jurunas, Cremação, Terra Firme, Telégrafo, Providência, Sacramenta, Fátima, Icoaraci, Maguari e Tapanã, reunindo médicos, enfermeiros, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas e agentes comunitários de saúde dessas unidades e das unidades e Equipes de Saúde da Família (ESFs) das áreas adjacentes.
Uma das especialistas do projeto é a terapeuta ocupacional Suziane Franco, do Centro de Referência Nacional em Dermatologia Sanitária Dona Libânia, de Fortaleza. Ela disse que esse treinamento é para que os profissionais de saúde possam implantar e implementar de fato a prevenção de incapacidades físicas. “Quanto mais rápido a gente fecha o diagnóstico do paciente, mais chance ele tem de evitar as incapacidades. É importante que os pacientes sejam acompanhados durante o tratamento com avaliação neurológica para prevenir essas incapacidades porque quando o bacilo atinge o nervo, ele pode comprometer as fibras motoras sensitivas e causar incapacidades como garras, pé caído, lagoftalmo (incapacidade de fechar os olhos) prejudicando a vida do indivíduo em todos os seus aspectos”, explicou a especialista.
Suziane observou que tanto em Belém como em outras cidades participantes do projeto, a dificuldade para um diagnóstico precoce de hanseníase tem vários motivos, tais como rotatividade de profissionais, falta de capacitação e até mesmo falta de compromisso. “A gente sabe que é necessário ter compromisso, estar dentro do programa e assumir esse paciente. Não basta dispensar a medicação, é preciso acompanhar com avaliação neurológica juntamente com a consulta médica para que se possa identificar as reações e as neurites que vão gerar essas incapacidades”, disse Suziane.
Ela destacou, ainda, a importância do trabalho do agente comunitário de saúde, afirmando que é a base primordial. “O ACS está todo dia na comunidade e se ele for bem treinado, bem capacitado, ele vai identificar os casos de forma precoce e trazer para a unidade. E aí a gente vai desenvolver um bom trabalho, nós não vamos ter pacientes com incapacidades porque o agente vai resgatar o paciente no início. E aqueles regatados com algum comprometimento nós vamos evitar que o caso venha a se complicar e piorar cada vez mais”, justificou a especialista.
Segundo a enfermeira tecnologista da Coordenação Geral de Hanseníase e Doenças em Eliminação (CGHDE), Jurema Guerrieri Brandão, o trabalho está possibilitando que os casos de hanseníase sejam discutidos dentro das unidades de saúde. “Eles já atendem a essa população e, a partir de agora, podem fazer diagnóstico, acompanhar o tratamento e identificar as necessidades de medidas voltadas para a prevenção de incapacidades e reabilitação, pois antes, em muitas situações, eles precisavam encaminhar para a referência”, explica.
Quando o paciente consegue fazer todo o seu tratamento na Unidade Básica de Saúde há ganho de tempo e resultado. “O encaminhamento para a referência distante da casa do paciente pode resultar numa demora em fechar o diagnóstico e dificuldade para exame dos contatos. Então, com esse projeto, a partir da sensibilização desses profissionais, esperamos que as unidades estejam mais preparadas para fazer o diagnóstico local dos pacientes das suas áreas e com isso consigam acompanhar de maneira adequada os pacientes, porque os casos de hanseníase, de uma maneira geral, devem ser diagnosticados na Atenção Básica por profissionais dessa e, é claro, nos casos mais complicados, eles devem contar com o apoio da Referência”, detalhou a tecnologista.
Sobre o fato de haver apenas um Centro de Referência no Estado do Pará, a coordenadora estadual de Controle da Hanseníase, Rita Beltrão, disse que o ideal seria que houvesse pelo menos um Centro de Referência em cada Região de Saúde do Estado; e informou que a Sespa apresentou um projeto ao Ministério da Saúde para a criação de novas referências estaduais e municipais, porém ainda não houve retorno sobre essa demanda. “É fundamental que haja um fortalecimento da descentralização dos serviços com a implantação de referências em cada região de saúde, além da referência estadual e uma municipal em Belém”, afirmou.
A enfermeira Nádia Lameira, da Coordenação Municipal de Controle da Hanseníase, fez uma avaliação positiva do projeto. “Esse treinamento em serviço na própria unidade é benéfico por que garante a adesão dos profissionais para que eles trabalhem os pacientes do seu próprio território, não fugindo da sua localidade e da sua epidemiologia. Então, é de grande valia esse treinamento estar acontecendo in loco bem próximo dos profissionais que já atuam no seu território. Acredito que o treinamento vá empoderar os médicos para que eles fechem o diagnóstico de hanseníase com maior segurança, assim como os enfermeiros, terapeutas ocupacionais e fisioterapeutas. Todos estão aprimorando seus conhecimentos básicos para aplicar no seu dia a dia. É o que a gente espera”, concluiu.