Filme provoca debate sobre violência racial e de gênero
A campanha “16 dias de ativismo pelo fim da violência contra a mulher”, realizada em vários municípios do Pará, proporcionou na tarde desta sexta-feira (24) a exibição do curta-metragem “O Xadrez das Cores”, de Marco Schiavon, no Cine Olímpia, em Belém. A produção aborda a rotina de Cida, uma mulher negra que sofre racismo diariamente na casa onde trabalha como doméstica. Alunos de diversas escolas públicas de Belém assistiram ao filme.
Maria Trindade Tavares, coordenadora de Integração de Políticas para Mulheres, da Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh), disse que o “O Xadrez das Cores” foi escolhido para integrar a programação da campanha porque “aborda o cotidiano de uma mulher negra em situação de violência racial e de gênero. A exibição é parte da programação da campanha ‘16 dias de ativismo pelo fim da violência contra a mulher’, que especialmente este ano tem um recorte sobre questão de raça, para evidenciar as discriminações vivenciadas pelas mulheres negras, por serem mulheres e negras. Estamos contribuindo para a desconstrução do racismo, e chamando a atenção da sociedade para a necessidade de enfrentar esses preconceitos”.
Ainda segundo Maria Trindade, “Dos 140 mil relatos em 2016 de violência contra a mulher, pelo Disk 180, 60% foram de mulheres negras. E o ‘Atlas da Violência’ coloca 65% de mulheres vítimas de feminicídio no Brasil como negras”.
Mais de 40 escolas foram convidadas para participar da sessão. Entre as instituições de ensino estava a Escola Francisco Nunes, representada pela professora Gisele Fonseca, para quem o respeito às mulheres precisa ser trabalhado sempre na escola, assim como o debate sobre violência e racismo sofridos por mulheres negras. “Sempre trabalhamos na escola, em nossos projetos, a questão do respeito às mulheres, dos valores, e sempre colocamos esses debates, que são direitos sociais, no sentido de que precisam ser respeitadas. A violência contra a mulher é uma situação gritante atualmente. A gente coloca a questão do respeito, da família e do racismo. No último dia 20 tivemos a comemoração da Consciência Negra, para as pessoas pensarem sobre o assunto. Isso não quer dizer que no restante do ano não se deve pensar a respeito disso. Então, um momento como esse, de eles (alunos) virem ao cinema, é importante para que possam fazer uma relação de tudo o que conversamos na escola, colocar em prática e reforçar a informação de que é necessário mudar. Não dá mais para pensar nesse assunto de maneira fragmentada”, afirmou Gisele Fonseca.
Violência diária - A estudante Vitória Souza, da Escola Francisco Nunes, do 9° ano do Ensino Fundamental, considera importante debater a violência sofrida por todas as mulheres. “Eu acho muito importante, porque a violência contra a mulher foi algo que aumentou muito através dos séculos. E é bom que jovens da minha idade saibam que é um assunto que não pode ficar sem ser discutido, que é importante, porque todos os dias uma mulher morre ou sofre violência. Falar sobre esse tema ajuda a abrir a mente das meninas e também alerta os meninos”, ressaltou.
Dirigido por Marco Schiavon, “O Xadrez das Cores” é um curta-metragem nacional, lançado em 2004, que conta a história de Cida, uma mulher negra de 40 anos, que vai trabalhar para Maria, uma viúva de 80 anos, sem filhos e extremamente racista. A relação das duas começa tumultuada, com Maria perseguindo Cida por ela ser negra. Por precisar do dinheiro, Cida aguenta tudo em silêncio, até que decide se vingar por meio de um jogo de xadrez. A produção ganhou diversos prêmios pela abordagem profunda sobre a questão do preconceito contra mulheres negras.cid
