Conhecimento produzido na Eetepa impulsiona empreendedorismo familiar em Salvaterra
Com formação, três estudantes da mesma família somam extrativismo com empreendedorismo para retirar da natureza local o sustento familiar de forma sustentável
Um exemplo da importância da educação técnica para o desenvolvimento do estado pode ser visto, sentido e degustado em Salvaterra, no arquipélago do Marajó. Utilizando o conhecimento adquirido em cursos ofertados pela Escola de Ensino Técnico do Estado do Pará (Eetepa) do município, três estudantes da mesma família somam extrativismo com empreendedorismo para retirar da rica natureza local o sustento familiar de forma sustentável.
Em visita à Eetepa Salvaterra nas últimas quinta (02) e sexta (03), representantes da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Educação Superior, Profissional e Tecnológica (Sectet) foram conhecer a Fazenda Curuanã, na comunidade de Jubim. “Conhecer o empreendimento da família foi uma experiência que aumenta a nossa convicção de que a educação técnica e profissionalizante é um dos caminhos mais promissores para a promoção do desenvolvimento do estado”, destacou o coordenador de ensino técnico da Sectet, José Neto.
“O exemplo dessa família é a comprovação de que o investimento na formação técnica, com a oferta de cursos que atendam a demanda de cada município, é um dos caminhos para o aproveitamento da riqueza natural do Pará em benefício de seus moradores, com sustentabilidade e responsabilidade social”, declara o titular da Sectet, Carlos Maneschy.
Feriadão
Aberta no mês de julho, a lojinha da Fazenda Curuanã reforçou o estoque de licores, óleos, geleias e trufas para receber os visitantes nesse feriado da Independência do Brasil. “Tivemos uma boa aceitação dos nossos produtos em julho e abrimos a loja também durante o feriadão de 7 de setembro”, comemora Sheila Herculano de Barros, concluinte do curso de Agroindústria da Eetepa Salvaterra. Ela conta que a família abre a loja somente nos meses de férias e feriados prolongados para aproveitar o movimento na cidade.
Para investir no projeto familiar, dois filhos de Sheila também estão fazendo cursos técnicos na Eetepa Salvaterra, que passou para a gestão da Sectet há pouco mais de um ano, junto com outras 21 escolas técnicas da rede estadual.
Projeto familiar
Sheila conta que a família mora numa propriedade rural, localizada na vila de Jubim, onde há uma variada produção de frutas nativas. Mangaba, bacuri, taperebá, tucumã, miriti e coco são alguns exemplos. O marido de Sheila, Márcio Bastos, conta que as frutas eram vendidas em época de safra, porém timidamente. Depois começaram a extrair a polpa de algumas delas. “A polpa da mangaba teve boa aceitação e decidimos investir na produção”, lembra.
Para profissionalizar e diversificar a produção, a família decidiu procurar cursos que os ajudassem a fazer a propriedade mais rentável. Assim, Sheila, aos 44 anos de idade resolveu voltar para a escola junto com os dois filhos. Márcio Júnior, 25, também fez Agroindústria e Maryane Bastos, 23, fez Turismo, pois a ideia é firmar a propriedade na rota turística do município.
Hoje eles já recebem grupos de turistas que vão até a Fazenda Curuanã para conhecer a produção da família e fazer um lanche ou almoço especial. “Já temos grupos agendados para setembro e novembro”, festeja Márcio Bastos.
Hoje os principais produtos são as trufas de chocolate com recheio de frutas regionais, geleia de bacuri e de pimenta, licor de jenipapo, bacuri e chocolate com pimenta. “Entre as novidades temos o óleo de bicho que é extraído a partir de uma larva que dá no caroço do tucumã. É um produto tradicional na nossa região. Traz benefícios para a saúde, tanto nutritivos como terapêuticos”, conta Sheila. Toda a produção é possível graças aos conhecimentos e técnicas aprendidos na Eetepa, principalmente na disciplina de Tecnologia de Frutas e Hortaliças.
Geleia de tucupi
É nessa disciplina, ministrada pelo professor Wagner Barreto da Silva, que os alunos aprendem as técnicas de produção de geleia e extração de óleo. “Estamos sempre fazendo experimentações para criar novos produtos que possam aproveitar o que a natureza nos oferece”, ressalta o professor.
Foi nas aulas de Tecnologia de Frutas e Hortaliças que o professor experimentou com os alunos a produção de uma geleia de tucupi. A preocupação era aproveitar o líquido que é um dos resíduos da produção de farinha de mandioca feita por várias comunidades quilombolas de Salvaterra.
Wagner conta que as comunidades não têm condições de fazer o beneficiamento do tucupi que acaba sendo desperdiçado e poluindo o meio ambiente. Orientados pelo professor, em 2019, os alunos imaginaram uma produção diferenciada com o tucupi, além de pratos tradicionais.
Depois de várias experimentações eles chegaram à textura e sabor de uma nova geleia de tucupi. “É um produto diferenciado e inovador que certamente tem seu espaço no mercado. E assim a função da nossa escola é cumprida, levando conhecimento técnico de maneira simples para que as famílias atendidas possam obter a renda principal ou uma renda extra”, finaliza.
Agora, o professor tenta encontrar investidores para a produção do tucupi em parceria com as comunidades quilombolas do município, inclusive almeja que o produto seja incluído no cardápio da merenda escolar.