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Vítimas de escalpelamento recebem atendimento integral na Santa Casa do Pará

Unidade hospitalar oferece acolhimento humanizado e continuado

Por Luana Laboissiere (SECOM)
28/08/2021 10h34

Kátia Batista é uma das pessoas atendidas pelo espaçoEm 2008, a Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará criou o Programa de Atenção Integral às Vítimas de Escalpelamento (PAIVE), e desde então vem trabalhando com uma equipe multidisciplinar treinada e capacitada para dar todo suporte necessário às vítimas de escalpelamento, tornando-se referência no atendimento. Atualmente o atendimento é feito por meio do Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas, cujo fluxo inclui Unidades Básicas de Saúde, Unidades de Urgência e Emergência, Hospitais Regionais e a Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará.

O acolhimento das vítimas de escalpelamento que chegam na Instituição é feito pela psicóloga Ana Carolina, que falou da importância do primeiro contato, pois é quando a família toma conhecimento do que aconteceu e de como é o tratamento, que em alguns casos dura a vida toda. A psicóloga explicou que o acompanhamento inicial é para tratar o estresse agudo, e quando a paciente recebe alta hospitalar vai para o Espaço Acolher, onde continua o acompanhamento psicológico para tratar o estresse pós-traumático.

"Devido ao risco de morte iminente, nesse primeiro contato elas nem falam do cabelo, ainda estão sob o impacto da ocorrência do acidente, muitas vezes presenciado pelos membros da família. A vinda para a capital e a estada em uma instituição hospitalar, é tudo muito novo para a vítima e para a família, que muitas vezes nunca necessitou de internação. É de suma importância que a gente consiga se colocar presente, ficando sempre ao lado da paciente e da família para que a paciente consiga elaborar todas as questões, desde a ocorrência do trauma físico e psicológico e até a nova rotina que vai se impor, que é a necessidade de permanência por um longo tempo na capital, não necessariamente no hospital, pois os tratamentos têm avançado muito, permitindo que a primeira internação não seja tão longa, para que elas possam ir logo para o Espaço Acolher, onde a estada, alimentação, transporte, consultas, exames e curativos são garantidos pela Instituição.”

A psicóloga Jureuda Guerra trabalha desde 2011 no PAIVE e conta que o espaço foi criado para que as pacientes possam sair do ambiente hospitalar, pois antes elas ficavam de 6 a 9 meses no hospital.

"Essas pacientes nunca tiveram contato com a capital e a psicologia também trabalha para que elas conheçam a cidade e comecem a entender que não há perspectiva de uma cura para encerrar o tratamento e que não vai nascer cabelo na área afetada, mas que existe uma continuidade. É aqui no espaço que elas vão tendo noção de como vai ser a vida delas e que elas precisam se ressignificar, pois antes do acidente elas tinham uma outra perspectiva de vida".

Jureuda explicou que na nossa sociedade, a estética é muito valorizada e por isso a equipe da psicologia trabalha para que elas percebam que possuem outros valores mais importantes que a aparência.

"Vivemos em uma sociedade que valoriza muito a aparência e muitas mulheres são deixadas pelos maridos logo após o acidente por conta da estética. Por isso trabalhamos com elas o empoderamento a feminilidade, o feminismo e a questão de gênero para que elas entendam que perderam um pouco da estética, mas possuem outros valores que vão além da perspectiva da aparência" 

 

Acolhimento

O Espaço Acolher foi criado, em 2006, para dar amparo aos pacientes oriundos de municípios distantes que precisam aguardar meses para realizar as cirurgias reparadoras ou outros procedimentos para melhorar seu estado clínico e psicológico. Lá o paciente recebe toda a assistência prevista no PAIVES e o acompanhante também é amparado, quando necessário.

Raiza Rodrigues de OliveiraKátia Batista, 46 anos, faz tratamento desde dos nove anos, quando sofreu o acidente. Ela conta que no Espaço Acolher se sente parte da família.

“O Espaço Acolher foi e é muito importante na minha vida. Quando eu cheguei aqui, com a cabaça bem feia, fui muito bem acolhida. Foi aqui que conheci amigos, sempre falo às meninas que apesar de eu ser mais velha, que elas são meu porto seguro. Não tenho o que falar da direção e dos funcionários, pois para mim são maravilhosos. Em especial a Santa Casa e a toda essa família que é o Espaço Acolher e que dá força para gente terminar o tratamento. Se hoje eu não tivesse o Espaço Acolher na minha vida, ia ficar onde? Não sou daqui, não conheço ninguém aqui. Então como seria para mim se não tivesse o Espaço Acolher? Então o Espaço foi é e sempre será importante na minha vida”.

A moradora do município de Curralinho, Raiza Rodrigues de Oliveira, 19 anos, sofreu o acidente quando tinha 10 anos e desde então faz o tratamento.

"Cheguei bem assustada na Santa Casa, mas tive bastante apoio. Parei de ficar assustada e me senti mais um pouquinho em família quando cheguei no Espaço Acolher. Aqui encontrei amigas que eram igual a mim, pensei que nunca mais ia estudar e quando cheguei aqui, encontrei professores. Aqui eu posso estudar, posso viver uma vida normal. Então para mim foi essencial conhecer esse espaço. Sempre falo para as minhas irmãs que aqui é minha segunda família. Me sinto feliz".

 

Eixo do motor  

Psicóloga Jureuda GuerraO escalpelamento é provocado pela falta de proteção no eixo do motor das pequenas embarcações, principal meio de transporte nas comunidades ribeirinhas. Desde 2009, uma lei federal tornou obrigatória a proteção do eixo do motor.

No entanto, apesar da fiscalização, embarcações ainda trafegam pelos rios da Amazônia com o eixo exposto, e a maioria das vítimas desse acidente são mulheres que ao se aproximarem do eixo do motor, sem a devida proteção, e têm os cabelos arrancados, muitas vezes lesionando outras partes do crânio, e em alguns casos as vítimas perdem também as orelhas, sobrancelhas e uma enorme parte da pele do rosto e pescoço, levando a deformações graves e até à morte. Cirurgias reparadoras são feitas, mas o cabelo não nasce mais. 

Serviço: Todas as pacientes recebem duas ou três perucas durante o ano, e a doação de cabelo é a única forma para que elas adquiram as perucas. As doações podem ser feitas pelo telefone (91) 3228-1609, ou no Espaço Acolher, que fica localizado na Av. Alcindo Cacela, 555 - Umarizal, Belém - PA, 66040-020.

Texto: Helder Ribeiro (Ascom/Santa Casa)