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Vaqueiros mantêm a tradição de “batizar” as búfalas no Marajó

Todos os animais que participam do I Torneio Leiteiro de Cachoeira do Arari, que encerra neste sábado (31), receberam um nome que marca o afeto entre eles e o profissional

Por Governo do Pará (SECOM)
31/07/2021 12h58

“Banana”, “Favorita”, “Dengosa”, “Dona” e “Patury”. Você pode imaginar que esses são alguns nomes de búfalas? Em Cachoeira do Arari, no arquipélago do Marajó, mais precisamente na localidade de Retiro Grande, onde está situada a Fazenda Paraíso, cada animal ganha o nome que é dado carinhosamente por um dos vaqueiros que cuidam dele.

A cada chamada, a búfala responde com um mugir (som emitido pelo animal) sendo seguida pelo bezerro, que ainda novinho aprende o nome da mãe. Um dos profissionais que mais conhecem o dia a dia desses animais é o vaqueiro.  Em Cachoeira do Arari, por exemplo, onde ocorre até este sábado (31) o I Torneio Leiteiro de Búfalas do Marajó – apoiado pela Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap) - dois deles não escondem a afeição que sentem pela espécie. 

BÚFALA - BANANANas pastagens ou nos estábulos, Andrei Cardoso, de 23 anos e Luciel Bragança, de 37 anos, conhecem o comportamento das búfalas só pelo mugir ou olhar delas. E a recíproca é a mesma, pois o animal também já possui essa relação afetiva com o vaqueiro. 

 Na hora da ordenha, por exemplo, se o animal notar a presença de algum estranho, imediatamente para de produzir o leite. Essa etapa do torneio leiteiro – que antecede a pesagem - é limitada e não é permitida o acesso de outro profissional que não seja o próprio vaqueiro. “É importante essa restrição para não atrapalhar na hora da produção e consequente coleta do leite”, frisa o veterinário Ronnald Tavares, coordenador de produção animal da Sedap. O veterinário destaca a importância do trabalho do vaqueiro e diz que o manejo dos animais é uma das partes mais importantes na produção leiteira. 

O vaqueiro Andrei conta que aprendeu a lidar com o animal, considerado símbolo do Marajó, aos 15 anos. Só começou a trabalhar como vaqueiro depois que atingiu a maior idade. 

Vaqueiro Andrei e a BananaDisse que conhece cada uma das búfalas do curral da fazenda onde trabalha.  “Desde que dão a primeira cria, a gente traz elas para a doma, que aqui chamamos de amansar; tem um processo de passar a corda no pescoço e nesse momento, a gente já dá um nome para ela, que será para a vida toda. Começamos a chamar a búfala pelo nome e ela já responde”, ensina o profissional.   

Para cada nome escolhido, como revela o vaqueiro, há uma explicação.  Apontando para alguns animais no seu ambiente de trabalho, ele completa: aquela ali é a “Favorita”, por causa de uma novela; a outra ao lado é a “Entrevista”.  Busquei inspiração por causas dos jornais que eu sempre assisto na TV; tem também aqui a “Dona”, que eu coloquei por causa de uma senhora que gostava de ser dona de tudo e gostava de mandar", justifica Andrei.

Até o tamanho e formato do chifre do animal conta na hora da escolha do nome. "Nós temos aqui a “Banana”, porque o chifre dela é igual uma fruta", complementa Andrei se voltando para uma das maiores búfalas da fazenda.    

O vaqueiro diz ter um amor muito grande pelos animais que cuida, não só por conhecê-los desde criança e ter a memória afetiva com as búfalas, mas por se tratar de animais dóceis, ao contrário do que muita gente pode pensar.  "Eu trabalho muito com o búfalo. De onde tiro meu sustento e já tenho uma relação não só profissional, como de carinho com esses animais”, argumenta. 

Uma curiosidade em relação aos nomes é que no momento que o vaqueiro chama pelo nome da mãe para a ordenha, o bezerro também responde e segue junto para fazer o apoio ao manejo. 

Outro vaqueiro, Luciel de Bragança, de 37 anos, disse que aprendeu a lidar com o búfalo aos 18 anos. Além da profissão, também tem um apego grande com os animais." Eu conheço o comportamento de tanto lidar com eles. É uma profissão típica aqui do Marajó ", disse. Questionado se tem alguma preferida entre as mais de 30 que se encontram no estábulo, ele não titubeia: "A minha preferida é a “Tabuada”, nome que eu dei para ela por causa das contas", revela.  Lembrou também que Patury foi um nome que deu para uma das búfalas da propriedade. “No dia a dia, a gente vai chamando e elas vão aprendendo", diz o vaqueiro.

O proprietário da Fazenda Paraíso, João Rocha, aprova a prática de “batismo” adotada pelos vaqueiros da região. “É uma forma deles terem conhecimento e gravar a identificação das búfalas. No sul do país se fala em número. Aqui no Marajó, a tradição é o nome. A cada momento é uma coisa marcante. Agora nas Olimpíadas  eles devem tirar um bezerro ou uma bezerra e dar nome de algum atleta campeão”, anuncia bem humorado o criador. 

Texto: Rose Barbosa/Ascom Sedap