Governo alerta sobre problemas neurológicos relacionados à infecção pelo Covid-19
Saiba mais sobre a assistência do Programa de Atenção Integral à Saúde de Pacientes Pós-Covid-19 oferecida pela Uepa. A previsão é que haja a abertura de novas inscrições no mês de agosto
Em referência ao dia do cérebro, lembrado nesta quinta-feira (22), o Governo do Estado alerta sobre problemas neurológicos relacionados à infecção pela Covid-19. A alteração de memória é uma das principais manifestações relatadas por pacientes após o término do ciclo da doença. Pesquisadores americanos estimam que cerca de 80% das pessoas que foram infectadas pelo vírus desenvolveram sintomas ou sequelas neurológicas a longo prazo.
O médico Eric Paschoal, neurocirurgião e neurorradiologista do programa Triagem Pós-Covid, desenvolvido pela Policlínica Metropolitana, explica que o Covid-19 age pelo receptor da enzima conversora de angiotensina 2, que está presente em grande quantidade nas células do sistema nervoso central, no qual o cérebro é o principal órgão. Por isso, os indivíduos com uma carga viral maior acabam tendo maior pré-disposição a alterações da memória.
“O vírus é respiratório e por meio do trato olfatório, pelo nariz, consegue adentrar no sistema nervoso central. Pode penetrar no encéfalo pelas regiões medial e lateral/temporal. Nesta última, consegue ter íntimo contato com os neurônios situados na região relacionada à memória, que pode gerar alteração cognitiva de longo ou curto prazo”, explica o médico.
O médico alerta sobre pacientes que são submetidos à intubação por longos períodos e podem apresentar lesões neurológicas e ainda sobre o desenvolvimento do transtorno de ansiedade que muitas pessoas desencadearam por conta da pandemia, seja por problemas psicológicos, sociais, financeiros ou pelo temor da doença.
“A ansiedade pode gerar mais dificuldade para dormir e, com isso, mais chances de apresentar perda da memória, mais estresse, dor de cabeça e alterações neurológicas. Na Poli Metropolitana temos um equipamento de tomografia que permite identificar lesões específicas e um estudo com a polissonografia, que mede a atividade respiratória, muscular e cerebral durante o sono e que auxilia muito os pacientes com alteração da memória”, informa Eric Paschoal.
Programa Pós-Covid-19
Para tratar sequelas que permanecem em pacientes após a infecção pelo coronavírus, o Governo do Estado, por meio da Universidade do Estado do Pará (Uepa), desenvolve o Programa de Atenção Integral à Saúde de Pacientes Pós-Covid-19. Dados científicos apontam que entre as sequelas estão complicações neurológicas, declínio cognitivo, insônia, cefaleia, disfunções olfativas, ansiedade e depressão no pós-Covid-19.
A terapeuta ocupacional Carol Paranhos, que coordena a área de complicações neurológicas do programa, afirma que são mais de 5.000 pacientes cadastrados. “Cerca de 30% destes pacientes procuram o serviço por queixas de memória e outras complicações neurológicas. Um estudo de pesquisadores da UNICAMP e USP Ribeirão Preto estimou que entre 28-55% dos pacientes que desenvolveram a forma leve ou moderada da doença podem manifestar sintomas neuropsiquiátricos e/ou neurológicos”, alerta.
O SARS-CoV-2, segundo a pesquisa, é capaz de causar alterações estruturais e funcionais no cérebro por meio da destruição dos astrócitos, que são células neuronais responsáveis pela sustentação e nutrição dos neurônios.
A estudante Waneza Silva, de 37 anos, é uma das pacientes atendidas pelo programa da Uepa que apresentou perda de memória e dificuldades de raciocínio. As sequelas da Covid-19 fizeram com que ela precisasse trancar a faculdade, por não conseguir acompanhar o ritmo das aulas.
“Em novembro de 2020, comecei a sentir muita dor de cabeça. Não conseguia raciocinar. Ao conversar com as pessoas, dava um branco na minha mente, esquecia de tudo. Fiquei com uma fraqueza nas pernas que me impossibilitam até de trabalhar, o que gerou em mim muita ansiedade”, relata.
Indicada por uma amiga, Waneza Silva buscou atendimento na Uepa, passou pela triagem e segue com o tratamento. “É muito boa a proposta do projeto, tem ajudado muitas pessoas e realmente traz melhorias de qualidade de vida ao paciente que ficou com sequelas. Só tenho a agradecer a Deus e a todos os profissionais da Uepa que estão me acompanhando nesse processo”, explica a estudante, que além de fazer atividades para exercitar o cérebro, como cruzadinhas, jogos de raciocínio e leituras, também iniciará a reabilitação muscular.
O Programa Pós Covid oferece um acompanhamento multidisciplinar destes pacientes. Carol Paranhos explica que o tratamento pode ser farmacológico como nos casos de cefaléia e insônia grave, ou não farmacológico como treino cognitivo para recuperação da memória, treino olfativo para os casos de perda de olfato ou ainda grupos terapêuticos para os casos de transtorno de ansiedade.
O programa da Uepa prevê a abertura de novas inscrições no mês de agosto.