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Operação de Carnaval garantiu folia no domingo em Mosqueiro

Por Redação - Agência PA (SECOM)
26/02/2017 00h00

Apesar do sol tímido e da procura mais amena que a registrada nos festejos do ano passado, este domingo (26) de carnaval no distrito de Mosqueiro foi marcado por muita animação e tranquilidade nas praias e nas ruas da Vila. Desde cedo, a operação montada pelo governo do Estado para garantir segurança aos que viajaram para aproveitar a folia na ilha também reforçou os cuidados do acesso de motoristas que se deslocaram hoje em direção ao balneário, pelas rodovias BR-316 e também na estrada Belém-Mosqueiro (PA- 391).

Cerca de 350 mil visitantes são esperados na Bucólica neste ano durante os cinco dias de folia. Ainda às 9h da manhã, uma média de 18 carros por minuto já era registrada no trânsito da ponte que liga Belém a Mosqueiro.   

No pórtico de entrada do distrito de Mosqueiro, uma grande movimentação resumia na manhã de hoje o espírito da ação concentrada do Estado para o apoio aos foliões durante os dias de carnaval. Vários agentes do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), Agência de Regulação e Controle de Serviços Públicos (Arcon), Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará (Sespa) e Polícia Militar prestavam atendimentos e fiscalizavam o acesso ao balneário.

“Embora tenhamos um fluxo menor que o do carnaval do ano passado, o nível de atenção continua”, avaliou a supervisora da fiscalização da Arcon-PA, Haissa Kataoka, na entrada de Mosqueiro. Iniciada sexta-feira (24), com cinco integrantes distribuídos entre a entrada da ilha e o terminal rodoviário da Vila, a ação já tinha um saldo de 150 veículos de passageiros fiscalizados, entre vans de transporte alternativo e ônibus. Ao todo, cinco autos de infração já haviam sido registrados, principalmente por condições de segurança dos veículos e também por lotação excessiva. Dois autos de infração foram registrados apenas neste domingo (26), nas duas primeiras horas de fiscalização, entre 7h e 9h da manhã.

Enquanto isso, carros de passageiros abordados e liberados pelo Detran ganhavam a atenção também dos agentes da operação de carnaval da Sespa. Panfletos com orientações contra doenças sexualmente transmissíveis e camisinhas eram distribuídos a passageiros e motoristas.

“O material é muito procurado, mesmo com fluxo menor de foliões. Há quatro anos participo de ações como essa na ilha. Já faz parte do que a população espera que o governo faça por todos”, atesta o agente da Sespa Ducival Brito, 35. “Para o folião, é uma sensação de segurança criada em todas essas ações do governo. E quando não há isso, eles cobram. Já é uma relação, um bom hábito”, pondera o agente Zeca Dutra, 36.

A poucos quilômetros antes do pórtico, parados junto a uma banca de venda de camarão, aos pés da saída da ponte que liga Belém a Mosqueiro, o funcionário público federal aposentado Antônio José Biffi, 64, e a atendente odontológica Ana Célia Souza, 47, concordam: “O trânsito mais pesado foi até o entroncamento de Mosqueiro, mas a viagem foi tranquila e segura de Belém para cá. Espero que esteja assim na ilha toda”, dizia Biffi. “Adoramos vir para cá. É o carnaval mais tranquilo, e próximo de Belém”.

Um pouco antes, quando iniciaram o trajeto para a Bucólica, já via PA- 391, o aposentado José Biffi e Ana Célia cruzaram, na barreira da Polícia Rodoviária Estadual em Santa Bárbara do Pará, com uma ‘blitz’ diferente, iniciada ainda às 8h da manhã. Além dos oito homens da PM que davam reforço à fiscalização da estrada, oito integrantes do Detran faziam abordagens educativas. Distribuindo brindes como máscaras de carnaval, sacos de lixo, folhetos e jogos educativos para crianças, eles davam dicas de como fazer uma viagem mais segura e de como dirigir com maior prevenção contra acidentes no trânsito.

“Muita gente toma um susto, porque está acostumada com a cobrança de documentação e outras coisas em ações como essas, mas abrem um sorriso quando notam que estamos querendo também que tenham uma viagem mais segura e mais consciência na direção. E ficamos muito satisfeitos também em ver que nosso trabalho pode salvar vidas, com dicas educativas”, disse Elizabeth Carvalho, pedagoga e analista de trânsito que coordena a ação na barreira de Santa Bárbara.

As infrações mais recorrentes observadas pelos agentes são o não uso do cinto de segurança, tanto nos bancos da frente quanto no de trás, objetos soltos no carro, o transporte inadequado de animais e a não utilização do dispositivo de segurança para crianças.

Trabalho e folia

Passavam das dez da manhã, no mercado municipal da Vila de Mosqueiro, quando o aéreo burburinho que preenche os respiros entre verduras, vítreos olhares de peixes enfileirados e tabuletas surradas com números sinuosos é rasgado desconcertantemente. Pelos corredores quentes, onde o cheiro de alimento fresco se mistura com o do sangue, do pitiú, do suado dinheiro e o odor do resto que ainda sobrou pisado, de repente trompetes, clarinetas, taróis e um surdo irrompem. Marcam o tempo e gritam pelos galpões, ao fôlego de dez músicos fantasiados com quepes de marinha.

Perto dali, os concunhados Carlos Alberto Moura, 65, e Carlos Alberto Vasconcelos, 65, vagam nas calçadas da principal área comercial da ilha. Passeiam despreocupadamente, paramentados de peruca e quepe. Procuram pelas suas esposas, duas senhoras que acabaram de dobrar por um dos estabelecimentos da Vila. Só irão reencontrá-las à porta do mercado, por causa da música. “Adoro o carnaval de Mosqueiro, desde que era novinho. Viemos todos. São dezoito aqui na nossa casa no Murubira. E daqui a pouco sai nosso bloco, o Covil da Cobra”, disse animado Carlos Alberto.

Moura e Vasconcelos correm atrás dos naipes de sopro que soam pelo mercado. E tudo parece fazer parte de um único ato, que finalmente faz sentido, amarrado a algum enredo ou direção: as marchinhas de carnaval, bradadas por metais, madeira e peles roubam sorrisos. E fazem vibrar portas-moedas, sacolas, copos e também cada fibra das bancas por onde a pequena bandinha se detém por alguns instantes - dos tenros rubros músculos esquartejados a pregos e às ripas dos telhados.

Seu Nilton Amaral, 59, balança dentro de seu avental branco sujo de sangue. De luvas e botas de borracha, o açougueiro se rende à folia dos que sopram, batucam e também dos que simplesmente passam pelo corredor do mercado: bate no ritmo a grande faca de corte que tem às mãos na pedra de mármore de sua banca, ao som do hino de seu time preferido. E por várias vezes ergue os braços, animadamente, em contraste às peças bovinas quedadas sobre a pedra diante de si. Não há moldura que naquele momento expresse melhor o sentido do termo ‘festa da carne’, ou ‘carnivale’.

“Trabalho aqui há 40 anos. E todos os anos é assim: reunimos uns trocados para trazer a fanfarra e animar os clientes da folia do domingo. O carnaval é tudo. É a maior alegria do brasileiro”, sorri seu Nilton, que hoje é representante dos açougueiros do mercado de Mosqueiro.

A onda de alegria instalada pela fanfarra do mercado é contagiante. Anima donas de casa, crianças, patrões, cães e feirantes. Sacoleja ombros que escolhem tomates e chinelos gastos que compraram o peixe. Acende a manhã, até fazer tudo literalmente transbordar pelas ruelas laterais do velho prédio municipal do distrito de Belém. Lá fora, a música já vai atraindo ouvidos, olhos e depois outros sorrisos dos que passeiam e trabalham debaixo do sol tímido. Ainda assim, o mormaço que esquenta a grama pisada e o coreto enfeitado já lota de tons coloridos o largo em frente à igreja de Nossa Senhora do Ó.

É onde trabalha o vendedor Márcio Santos, 40, de chapéu de pirata na cabeça, o mais vendido da manhã. Seis ripas e um suporte bastam para expor ainda todas as perucas loiras, máscaras de horror, enfeites de cabeça, sprays de cabelo e de espuma e tudo mais que qualquer folião, que acabou de chegar à ilha, precise para pegar o primeiro bloco que passar. “Aqui tem tudo, de R$ 5 a R$ 25”, assevera. “É época de ganhar um trocadinho. E daqui a pouco já vai sair o ‘Piratas da Batucada’”, justifica sobre o item mais procurado do dia.

Na banca de Márcio, o gestor de sistemas de informação Yuri Takeuchi, 30, conta cédulas debaixo de sua peruca de nega maluca. Acaba de conseguir tubos de spray para o bloco ‘Perdi o Juízo’, que arrastará mais de cem conhecidos, familiares e amigos da frente da sua casa, na Vila. “Só lá somos umas cinquenta pessoas. Chegamos ontem [sábado] e só vamos segunda-feira. É a primeira vez que o bloco sai”, sorri.

Ali, na praça central da Vila de Mosqueiro, onde as mesas ainda fervilham daqueles que procuraram a vila para o café da manhã, após as brincadeiras e o descanso do sábado, o trânsito engarrafado também já abraça a pracinha antes das onze da manhã. São carros de passeio, vans e também coletivos que freneticamente desembarcam gente a cada nova meia hora. E faltam poucas voltas do relógio para tudo começar a virar a grande festa dos blocos independentes que se multiplicaram em Mosqueiro.

“É um carnaval bonito, de famílias, tranquilo, com amigos e perto de casa, em Belém. Não tem melhor”, garante a odontóloga Raíssa Araújo, 26, acompanhada da também odontóloga Elma Vieira, 26, já com os adereços a postos. É mais uma vez a hora dos dias da alegria do brasileiro - essa folia ano a ano renovada, ainda que seja colocada à prova tantas vezes.