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JORNALISMO HUMANIZADO

Workshop debate cobertura sobre violência contra mulher

Por Redação - Agência PA (SECOM)
09/03/2017 00h00

“Precisamos discutir a responsabilidade dos veículos de comunicação. O respeito à dignidade deve ser repensado. Jornalismo humanizado é isso. Pensar cada vez mais nas pessoas como pessoas. Parece óbvio, mas muitas vezes isso não é feito”. O recado da publicitária Luíse Bello, integrante da ONG Think Olga, soou firme para o público de mais de 400 pessoas, entre um total de 688 inscritos, que se fez presente no workshop “Jornalismo humanizado - Combatendo a violência contra a mulher por meio da imprensa”, que a Secretaria de Estado de Comunicação (Secom) realizou na noite desta quinta-feira (9), no Teatro Margarida Schivasappa.

 

Formada em 2013 por mulheres profissionais de comunicação, a ONG Think Olga atua para defender e esclarecer pautas sobre direitos humanos e empoderar mulheres com a ajuda de ferramentas de comunicação.

Profissionais e estudantes lotaram o teatro para debater temas que ganham cada vez mais repercussão: como a mídia, incluindo grandes veículos e iniciativas independentes, pode se adequar para tratar melhor a cobertura e discutir a problemática que envolve a violência contra as mulheres, o racismo, a xenofobia, a LGBTfobia e outros contextos que ainda atingem grupos sociais minorizados ou em vulnerabilidade no Brasil. 

Nascida no Rio de Janeiro, Luíse Bello é coordenadora de conteúdo da ONG, que é responsável pela elaboração de uma cartilha de combate ao assédio, publicada pela Defensoria Pública de São Paulo.

A Think Olga também se destacou pelo alcance da campanha "Chega de Fiu Fiu", que também surgiu para combater o assédio contra mulheres, e também produziu a mini-cartilha “Jornalismo humanizado - Combatendo a violência contra a mulher por meio da imprensa”, voltada a profissionais de imprensa.

“Não se pode tratar o corpo de uma mulher vítima de violência como objeto, como coisa. E humanizar o jornalismo também é esvaziá-lo de todo tipo de pensamento que reproduza preconceitos, pré-julgamentos e crenças pessoais. O resultado do contrário disso é fortalecer as situações de violência que hoje vemos na nossa sociedade”, ponderou a publicitária.

Em sua apresentação, Luíse listou diversos exemplos de abordagem de casos de violência contra a mulher, apontando exemplos reais de situações em que a cobertura da imprensa agiu com machismo, preconceito ou discursos que agravam problemas. Mas também apontou soluções e alternativas para avanços de linguagem e abordagens.

Para Luíse Bello, instituições e cidadãos já não podem mais se esquivar de posicionamentos claros frente a problemas como a violência contra mulheres. E nesse contexto, a publicitária lembra que a grande mídia muitas vezes legitima discursos e práticas que ainda precisam ser mudados. Por isso a produção de notícias é uma ampla frente de batalha. 

Para Luíse Bello, é preciso proteger os discursos da mídia de “palavras e intenções que ferem pessoas e marginalizam grupos”.

Além de campanhas de grande repercussão, como a que se referia a relatos de mulheres sobre suas experiências de primeira violência sob a forma de assédio - que resultou em mais de onze milhões de buscas na Internet -, a ONG ainda gera conteúdo em vários formatos. 

Um exemplo é um banco de fontes femininas para pautas na grande mídia. “Hoje apenas 25% das matérias têm especialistas femininas como fontes, quando se sabe que temos mulheres atuando com competência em todas as áreas de conhecimento”, avalia.

“Vivemos hoje um momento crítico do País, onde o feminismo é visto como uma pauta de esquerda, o que é muito simplista. Não é possível que se admita a rejeição à ideia de que devemos tratar todos com o mesmo respeito e igualdade. Isso é o feminismo: a luta pelo mesmo respeito e igualdade entre homens e mulheres. E nas redações, é importante ressaltar que esse debate é sim político, mas não partidário”.

Para Luíse Bello, esse é ainda um problema que está acima das escolas de jornalismo e práticas das redações. “É uma prática profundamente enraizada na nossa sociedade, que muitas vezes também premia mulheres que reproduzem a lógica desse sistema”, avaliou.

Campanha - O workshop “Jornalismo humanizado - Combatendo a violência contra a mulher por meio da imprensa” foi oferecido de forma gratuita e faz parte das ações da campanha "Respeito às mulheres em sua diversidade", lançada pelo Governo do Estado na última terça-feira (7).

A campanha integra todos os órgãos da administração pública estadual numa frente de combate à violência contra a mulher no Pará. A campanha foi aberta com a apresentação do novo Plano Estadual de Combate à Violência Contra a Mulher.

O evento também é o primeiro de uma série de programações a serem agendadas pela Secom para levantar debates sobre os direitos humanos no Estado.  

“A violência contra as mulheres é um dos vários temas que serão tratados de forma aprofundada e integrada pelo governo do Pará ao longo do ano. E abrir espaço para esse debate é essencial para levar essa discussão sobre a cobertura da violência contra a mulher para as redações. Para termos ideia dessa questão, apenas 20% dos inscritos são homens”, avaliou o secretário de Comunicação do Estado, Daniel Nardin.

“Participar de um debate como esse é essencial para estudantes como eu entenderem esse problema da abordagem da violência contra a mulher e, principalmente, como ele é visto dentro dos bastidores que ajudam a construir a própria mídia”, dizia, minutos antes do workshop, a estudante de jornalismo da Feapa Andréia Melo, 45, acompanhada da colega de turma Marina Moreira, 24.

“Convocamos toda a turma, 26 alunos, como uma atividade da disciplina. Para além da teoria acadêmica ou da prática, é importante essa reflexão mais humanista sobre como estão sendo tratados certos temas na imprensa. Há muitos casos de abusos com relação a conteúdos como esses. Estamos lidando com a vida das pessoas”, ponderou o jornalista e professor do curso de jornalismo da Estácio-FAP, Pedro Loureiro de Bragança, 36.

“A comunicação pública, que envolve assessorias, precisa estar cada vez mais na mesa de decisões de gestores, ajudando a estabelecer políticas voltadas para o cidadão. E é muito bom que vejamos aqui também estudantes nesses debates, que ajudam a formar práticas cada vez melhores em comunicação”, pondera Daniel Nardin.

“A própria academia ainda é muito dura frente à necessidade desses debates. E o que estamos tratando aqui é da necessidade de uma verdadeira revolução no jornalismo. Poucos veículos hoje fazem coberturas de forma adequada e de qualidade com relação à violência contra a mulher”, reiterou Luíse Bello.

Comunicação - A programação realizada nesta quinta é uma das várias que já servem de preparação para a próxima edição do Publicom - evento voltado a debates sobre comunicação que anualmente é realizado em Belém e deve se realizar em novembro próximo, após etapas regionais a serem levadas a vários municípios paraenses. 

Em março, a Secom faz ainda outras duas oficinas de Jornalismo Humanizado pelo projeto Biizu. Elas acontecerão entre os dias 13 e 17, na escola Magalhães Barata, e de 20 a 24, na escola Anísio Teixeira. As duas escolas estaduais ficam no Telégrafo e são polos do projeto Biizu. As inscrições, gratuitas e abertas à comunidade, podem ser feitas nas próprias escolas.

As oficinas serão ministradas pela jornalista Márcia Carvalho, que é integrante do programa Enfoque de Direitos e Igualdade de Gênero em Políticas, Programas e Proteção da Organização dos Estados Americanos (OEA) e Comissão Interamericana de Mulher (CIM).