Imprensa Oficial imprimirá relatório sobre mortes, torturas e desaparecimentos na ditadura
Comissão da Verdade do Pará apura desde 2014 os crimes cometidos por agentes públicos durante o período militar, que revogou as liberdades democráticas
O presidente da Ioepa, Jorge Panzera, se reuniu com o deputado estadual, Carlos Bordalo e recebeu o relatório da Comissão da VerdadeO Relatório Final da Comissão da Verdade do Pará será impresso pela Imprensa Oficial do Estado do Pará (Ioepa). Lançada em 1º de setembro de 2014, a Comissão da Verdade no Pará investiga casos de tortura, mortes, desaparecimentos forçados e ocultação de cadáveres envolvendo paraenses ou pessoas que moravam no Estado no período da ditadura militar.
Na quarta-feira (3), o deputado estadual e presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Pará (Alepa), Carlos Bordalo (PT), reuniu-se com Jorge Panzera, presidente da Ioepa, para discutir detalhes sobre a impressão dos volumes da obra.
“O trabalho da comissão foi desenvolvido por técnicos e pessoas comprometidas em levantar o que ocorreu no período da ditadura em nosso Estado e como as forças de segurança pública paraenses se envolveram nesse processo”, relatou Jorge Panzera.
O presidente da Ioepa avaliou a importância da obra, informou que o título será lançado em outubro deste ano e que também será uma homenagem a Paulinho Fonteles, que faleceu nesse mesmo mês, em 2017.
“Esse documento é importante para tratar a história recente de nosso estado e pensar o olhar sobre o que estamos vivendo hoje e o que virá no futuro; para que o que aconteceu na ditadura militar não volte a acontecer no Brasil. Paulinho Fonteles foi uma pessoa importante nesse processo de construção do relatório no Pará”, disse Panzera.
RELEVÂNCIA
O deputado Carlos Bordalo ratificou a importância do trabalho da comissão e disse que, mesmo quando a democracia passa por momentos difíceis, ela é sempre melhor do que qualquer ditadura. Bordalo destacou ainda a relevância da obra para a sociedade, além do descortinamento de um período “tão sombrio” da vida dos brasileiros.
“O relatório é de suma importância para pesquisadores, estudantes, jornalistas, professores e quem mais decidir se debruçar sobre esse duro momento de nossa história”, opinou.
O deputado ainda frisou a importância da participação de Paulinho Fonteles como articulador da Comissão da Verdade do Pará e da atuação do presidente da comissão (também falecido), o advogado Egydio Salles Filho.
“Esses dois lutadores foram fundamentais para que o trabalho dessa comissão fosse levado a cabo e junto com tantos outros que trabalharam para isso, nos proporcionou um resgate de um momento triste de nosso passado, mas que deve servir de lição para que não ocorra nunca mais”, relembrou Carlos Bordalo
A COMISSÃO
Moisés Alves, da editora Ioepa; Carlos Bordalo, dep. estadual; Jorge Panzera, titular da Ioepa; Angelina Anjos, dir. do Inst. Paulo FontelesSegundo o Comitê Paraense pela Verdade, Memória e Justiça, desde 2009, cerca de 50 milhões de documentos arquivados pelo Conselho Nacional mostram que em torno de 150 políticos estão desaparecidos desde o período do regime militar e, possivelmente, metade dos desaparecimentos pode ter ocorrido no Pará.
A Comissão é formada por representantes da Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh), Arquivo Público Estadual, Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social (Segup), Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, Ordem dos Advogados do Brasil - Seção Pará, Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SPDDH), Comitê Paraense pela Verdade, Memória e Justiça, Conselho Regional de Psicologia-PA/AP e Sindicato dos Jornalistas do Pará (Sinjor).
HOMENAGEADOS
Paulo Fonteles Filho, o Paulinho Fonteles, 45 anos, foi vereador de Belém pelo Partido Comunista do Brasil (PC do B) e era conhecido pela defesa de Direitos Humanos. Morreu em 2017 de infarto, após ficar internado por cerca de 15 dias, lutando contra uma broncopneumonia.
Egydio Salles Filho era advogado e morreu vítima de infarto em 2020. Egidinho, como era mais conhecido, era professor de Direito da Universidade Federal do Pará (UFPA), foi vice-presidente da Ordem dos Advogados/Seção Pará, procurador geral do Município de Belém, membro da Academia Paraense de Letras Jurídicas e colaborador do “Projeto Brasil Nunca Mais”, que denunciou casos de tortura na época do regime militar.