Escola incentiva crianças a ler em família e contar histórias
“Era uma vez um docinho que o gato roubou. O gato fugiu com o docinho na boca e se escondeu no mato. Aí, veio o Saci Pererê e botou fogo na floresta. Mas o gato conseguiu escapar e depois o docinho voltou pra casa.”
A fábula do gato, o docinho e o Saci colocou o pequeno David Isaac no centro das atenções de uma turma de cerca de 20 crianças da 1ª série do ensino fundamental. Ele foi o aluno sorteado do projeto “Sacola Viajante” para levar pra casa o livro da semana. Na manhã desta quinta-feira, 6, foi a hora de contar para a turma o que tinha entendido do texto, que foi lido para ele pelos pais.
O projeto foi implantado em novembro do ano passado na Escola Estadual de Ensino Fundamental Anani, no município de Ananindeua. Duas vezes por semana, um aluno da turma é sorteado para levar para casa um livro à sua escolha. O senso de responsabilidade é estimulado no momento da entrega, com o compromisso de o aluno cuidar da publicação e fazer os pais lerem para ele. Dois dias depois, o livro é devolvido diante de colegas e professor atentos ao relato da história feito pela criança. Nasce um futuro leitor.
O projeto não se resume apenas ao estímulo à leitura. É uma realização pessoal da diretora da Escola Anani, Márcia Ferreira. A ideia foi colocada em prática por ela em uma escola particular da qual era coordenadora, em 2010. Mas quando assumiu o posto de diretora de escola pública, ela se viu diante de futuros leitores vorazes e apostou no projeto novamente. “Senti que nossos alunos têm uma necessidade muito grande de carinho. Eles precisam perceber que a gente faz as coisas por eles e, acima de tudo, são muito curiosos”, diz Márcia. “Mesmo com pouco tempo de projeto, o sentimento é de dever cumprido quando a gente os percebe com olhinhos brilhando, ao levar aquela sacola colorida pra casa”, conta. “Eles se sentem importantes e acolhidos”.
Pais leitores – Os pais têm papel fundamental nesse processo pedagógico de estímulo à criança. Após a primeira reunião com os responsáveis depois da implantação do projeto, a mudança já foi percebida. “Os pais receberam com muito entusiasmo a Sacola Viajante. São pessoas que não têm tempo para dedicar atenção aos filhos e, de repente, se viram na missão de trocar a televisão à noite pela leitura com eles”, comemora a professora Kaline da Costa.
Mais perto dos pais - Diferente do pequeno David, Aline Pinheiro já aprendeu a ler. Com 10 anos, está na 4ª série do ensino fundamental e levou pra casa um livro da “Turma da Magali”, de Maurício de Sousa. Mais do que uma leitura divertida, a experiência proporcionou à menina o que possivelmente sente falta: estreitar a relação com os pais. “Foi muito bacana porque com ele eu aprendi a ler melhor, e meus pais me ajudaram a descobrir o que são algumas palavras que eu não entendia”, disse Aline.
O projeto “Sacola Viajante” pretende ter vida longa, na Escola Estadual Anani. Para isso, a sociedade também pode ajudar, doando livros para as crianças. As doações podem ser entregues na própria escola, que fica na rua II, quadra 15, número 8, no bairro do Aurá, em Ananindeua.
Com o acervo de livros cada vez maior, as professoras do colégio e as crianças do projeto têm a garantia de que toda aula de leitura sempre termina com um final feliz.