Projetos culturais e esportivos desenvolvidos no Pará aproximam jovens da escola
O som do rock pesado que vem do auditório da Unidade de Educação Especial Yolanda Martins e Silva, no bairro do Marco, em Belém, impressiona por quem o toca. O local, que atende pessoas com necessidades especiais, formou a banda Revolução Nuclear, composta por 11 jovens que têm autismo ou TDAH (déficit de atenção), entre 20 e 33 anos de idade. Ensaios semanais, shows marcados e 10 músicas autorais são a prova de que o projeto, um dos incentivados pela Secretaria de Estado de Educação (Seduc), deu um novo significado à vida dos alunos, seus familiares e servidores da unidade.
A banda nasceu em 2012, após o professor de música Argentino Neto, do núcleo de música da unidade, formar o grupo. “O projeto Revolução Nuclear, que inicialmente se chamava Comando Nuclear, começou depois de eu ter visto os alunos dublando uma música do Stress durante uma aula de música. Depois, começamos a ensaiar canções temáticas, como preservação do meio ambiente. A habilidade da banda é aprimorada a cada ensaio, seus integrantes vão sendo inseridos socialmente e seu rendimento escolar progredindo, o que mostra que estamos alcançando nossos objetivos”, lembra o professor Neto.
Outro ponto destacado por ele é o formato auto-suficiente que a banda procura. A Revolução Nuclear, junto de outras bandas, irá se apresentar no dia 6 de maio no bar Templários, em uma feijoada que pretende angariar fundos para a aquisição de equipamentos profissionais. “Eles amam fazer shows, interagir com o público. Ficam motivados e isso faz a diferença no cotidiano deles. Estar no palco faz com que eles se transformem”, diz o professor, orgulhoso.
“O rendimento escolar dele melhorou, a relação interpessoal com parentes, vizinhos e amigos evoluiu e a coordenação motora está normalizada. Agora ele se sente parte do todo, diferente de antes, quando era excluído. A banda o despertou para que vivesse a vida de forma ativa, como precisava“, diz Edson Silva, pai de Glauber Santos, baterista da banda.
Assim como Edson, Maria Braga, mãe de Athos Magno, vocalista do grupo, conta que o filho se tornou outra pessoa a partir do momento em que começou a cantar, demonstrando aptidões artísticas como desenho, pintura e escultura. “O Athos mudou, mas para melhor, de uma forma como não esperávamos. Agora ele conversa, tem iniciativa. Ele vai se soltando mais com o tempo e é o projeto que causa isso”, conta.
Da arte ao esporte
Outra escola a promover a melhora de rendimento dos alunos por meio de projetos de inclusão social é a “Ruy Paramatinga Barata”, no bairro do CDP. Com 650 alunos em tempo integral, a escola tem como premissa envolver a comunidade em geral na sua rotina. Alunos, pais e até jovens que não são alunos da escola podem participar das atividades.
Um dos projetos oferecidos é o “Resgate”, criado por Orlandino Silva. Após atuar em praças por quatro anos, gratuitamente, a iniciativa chegou a duas escolas com 16 modalidades esportivas. “Atualmente, o projeto atende cerca de 350 famílias. Também oferecemos trabalho voluntário na escola Ilda de Oliveira, no bairro de Val-de-Cans e em breve alcançaremos outros locais. Entendemos que educar não é um dever só da escola, mas da sociedade como um todo”, diz Silva.
“Estamos tirando os jovens de uma vida ociosa, sem rendimento, que não lhes dava perspectiva. Os projetos exigem disciplina, o que reflete no dia a dia de quem participa. Os resultados não são perceptíveis apenas no rendimento escolar, mas, também, no convívio social”, explica Mariza Tavares, diretora da escola.
Aline Pereira, 10 anos, é uma das crianças beneficiadas pelo modelo de educação adotado pela escola. Aluna do 4° ano do ensino fundamental, Aline passou a integrar o coral depois de ter sua aptidão para o canto percebida nas aulas de música. “Estudo aqui há cinco anos e não tenho vontade de trocar de escola. Aqui eu aprendi a cantar, que é o que eu quero fazer quando me formar. Gosto daqui porque minha família participa, todos nós aproveitamos”, conta.
A professora de Aline, Raquel Aquino, explica que 125 crianças, do 4° e 5° ano, formam as turmas que têm aula de canto, práticas instrumentais e dança, de acordo com suas aptidões. “As aulas fazem parte da carga horária da escola. Os professores de outras disciplinas e inclusive os pais dos alunos nos informam sobre o comportamento dos jovens, que demonstram mudanças significativas. Mais do que ensinar, nosso objetivo é formar pessoas melhores, cidadãos de fato”, conta a professora.
Combate ao trabalho escravo
Com o objetivo de combater o trabalho infantil contemporâneo, o projeto “Uma Rosa de Liberdade”, realizado pela Escola Estadual Rosa Gatorno, com 800 alunos do 1° ao 5° ano, no bairro do Guamá, tem aproximado as famílias dos estudantes do local. Com eventos de conscientização, que contam com serviços de cidadania, a comunidade do bairro tem aprendido formas de exigir seus direitos trabalhistas.
“Perguntamos aos pais se eles têm carteira de trabalho, pois a escravidão se dá de diferentes formas, como o não pagamento justo pela atividade desenvolvida para manter a subsistência digna, por exemplo. Ter a documentação completa, consciência sobre formas análogas de escravidão e como combater essas práticas fazem a diferença na vida de suas famílias”, conta o professor Francisco Rodrigues, um dos coordenadores do projeto.
A aluna Stefane Oliveira, 9 anos, do 5° ano, conta que o projeto foi importante para a mãe dela, que é manicure no Suriname. “Meu pai morreu quando eu era recém nascida, então minha mãe assumiu a responsabilidade de me sustentar. Foi o projeto que a ensinou a como exigir seus direitos trabalhistas. Hoje, moro com meus avós, mas não perdi o contato com a minha mãe”, diz.