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AGRICULTURA E PESCA

Emater auxilia a produção e garante assistência à Comunidade quilombola do Abacatal

Nesta sexta-feira (20), quando é celebrado o Dia da Consciência Negra, o sentimento de resistência é reforçado

Por Giovanna Abreu (SECOM)
20/11/2020 15h35

“O que dizer no dia de hoje? Eu também sou vítima de sonhos adiados, de esperanças destruídas, mas apesar de tudo isso, ainda tenho sonhos. Não devemos e não podemos desistir da vida. Nada, nada justifica a falta de esperança”. Os versos foram recitados por Vanuza Cardoso, líder comunitária e espiritual da Comunidade quilombola do Abacatal, em homenagem ao Dia da Consciência Negra, celebrado nesta sexta-feira (20).

Os sentimentos de resistência, luta e fortalecimento da identidade de raízes afro descendentes estão presentes em cada passo da Comunidade do Abacatal, localizada em Ananindeua. Assistida pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater), no âmbito da produção da agricultura familiar rural e assistência social, a Comunidade busca fortificar as suas tradições.

Desde 2018, após a visita da Yabá Ancestral, que é a Mãe Rainha da comunidade, o resgate da espiritualidade e da crença foi intensificado no dia a dia do Abacatal e sem dúvidas, segundo Vanuza, veio o maior aprendizado: a gratidão.

“A gente recebe muita coisa e pouco agradece. Precisamos agradecer por tudo, por essa terra, pela natureza, aos ancestrais, seres de luz, orixás e guias que nos acompanham. Além de todos que foram escravizados, lutaram por nós e nos deram a possibilidade de estar aqui falando sobre consciência negra, levando em frente a nossa cultura, ancestralidade e a nossa crença”, ressalta a líder espiritual do Abacatal.

Cerca de 518 hectares são o lar de mais de 500 pessoas que fazem parte da Comunidade. Vivia Cardoso, produtora rural e uma das guardiãs do Conselho do Abacatal, ressalta a importância da defesa da terra e da rede de territórios quilombolas do Estado. “Precisamos defender onde pisamos, plantamos, nos alimentamos e nos curamos. Para muitos, a terra é um negócio. Para nós, é vida. Não somos contra o progresso, mas sim sobre a forma exclusiva de como é feito, quando relacionado aos negros”, explica.

EMATER

Aliar os conhecimentos ancestrais às informações técnicas e às assistências oferecidas pela Emater, segundo Vivia Cardoso, é essencial para o desenvolvimento das Comunidades quilombolas.  “Nós trocamos experiências. A Emater se faz presente e realmente é parceira do Abacatal, nos oferecendo apoio e fortalecendo a nossa Comunidade”, afirma.

A extensionista rural, Tangrienne Nemer, compõe a equipe da Emater, que atua no Abacatal e desenvolve projetos voltados para a agricultura familiar rural, como o “Projeto Galinha Caipira”, no qual agricultores da Comunidade aderiram à criação das aves para o consumo próprio e para a venda do excedente, tanto da carne, quanto da produção de ovos.

“Trabalhamos com o ‘Quintal Produtivo’ e já conseguimos implantar mais de 15 espécies frutíferas na Comunidade, como mangustão, pitaia, muruci, açaí, pupunha, entre outras. Também estamos no processo de implantação de um Sistema Agroflorestal para subsistência da comunidade”, ressalta a extensionista.

A Emater produz Feiras Itinerantes desde 2019 e incentiva a participação das produtoras da Comunidade. “Elas vendem artesanato de bambu, telhas decoradas, camisas com tema afro, licores de frutas cultivadas no território, bombons exóticos com frutas que não são comuns, como muruci e tucumã, produzem beiju de mandioca e macaxeira, entre outros produtos”, afirma Tangrienne Nemer.

Para Wanderley Ribas, chefe do escritório local da Emater, em Ananindeua, a Empresa sonha junto com a Comunidade. “Buscar essa aproximação e construção coletiva é muito importante. Viver o Dia da Consciência Negra, dentro de um território quilombola, e poder acompanhar o crescimento espiritual da comunidade, sentindo a vivência do lugar, é muito gratificante”, ressalta. A Emater atendeu, de janeiro a outubro de 2020, 1.357 quilombolas no Pará.

QUILOMBO DO ABACATAL

A história oral conta que o Quilombo do Abacatal foi formado por três Marias, mulheres negras que deram origem à Comunidade, que é referência dentre os territórios, por ser coordenada, em sua maioria, por mulheres.

“Nossa origem representa muito para nós, mulheres negras, que muitas vezes desconhecemos o poder que temos. Venho de uma linha de mulheres que lutaram e permitiram que outras pudessem estar dando continuidade a tudo isso hoje. Precisamos entender que nada pode ser feito para nós, sem nós”, reforça Vanuza Cardoso.

O caminho das pedras é um dos principais símbolos da Comunidade, que foi construído por homens escravizados, por volta de 1710, para que o Conde Coma de Melo não pisasse na lama. Segundo Vivia Cardoso, o espaço é um território sagrado, por tantos ensinamentos deixados no caminho e a gratidão por toda a força e resistência que eles tiveram naquele período.

“Não trazemos o sofrimento deles aqui, mas sim a energia. Se estamos aqui é por todos que vieram antes. Não cultuamos tristeza, mas sim alegria e amor. Se alguém te fere, de alguma forma, em troca você deve dar amor”, conta.

CONSCIÊNCIA NEGRA

A data foi celebrada pela primeira vez em 1971, escolhida em menção ao dia da morte de um dos maiores líderes antiescravagistas: Zumbi. Último líder de um dos maiores quilombos do Brasil, o de Palmares, Zumbi enfrentou as investidas da Coroa portuguesa em defesa dos escravos que fugiam do trabalho desumano e das torturas vigentes nas fazendas da época. Palmares chegou a receber, em seu auge, cerca de 30 mil escravos fugitivos.

O mês de novembro traz a reflexão de que mesmo com a abolição da escravidão, ainda há muita coisa a ser mudada no que diz respeito aos direitos e ao respeito à pessoa negra.