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Projeto estimula a leitura e a consciência ambiental em Cotijuba

Por Redação - Agência PA (SECOM)
22/04/2017 00h00

Batizada pelos seus primeiros habitantes, os índios Tubinambás, Cotijuba, uma das 42 ilhas da região insular de Belém, não traz esse nome por acaso. Na língua indígena, “coti” significa trilha e “juba” quer dizer dourada. O que mais se vê no local, aonde se chega em 45 minutos por barco, que sai do porto de Icoaraci, são trilhas tomadas por muita argila e lama, e o acesso a algumas escolas da comunidade é difícil.

E foi a partir dessa realidade que o projeto de uma professora da Universidade do Estado do Pará (Uepa) ganhou força. Para dar início a uma dissertação de mestrado que tinha como tema “O Modelo de Gestão Educativa no Educandário Nogueira de Farias”, a professora de Letras Izilda Cordeiro precisou se debruçar sobre a história, cultura e hábitos dos moradores da ilha.

Durante as pesquisas sobre a Colônia Reformatória de Cotijuba, para onde eram mandados menores delinquentes que ficaram órfãos depois da II Guerra Mundial, ela mergulhou no passado e acabou por se dar conta de um presente inquietante. “Eu não sentia nas crianças daqui nenhuma motivação ou envolvimento com a leitura. Como tenho uma disciplina de leitura e produção de textos na Uepa, me senti estimulada a iniciar esse projeto aqui na Ilha”, disse Izilda.

Foi então que, em 2009, a professora lançou o desafio aos alunos do curso de Pedagogia da Universidade Estadual do Pará. Nascia o Projeto Pará Leitura Vai-Quem-Quer. Mais de 200 crianças, adolescentes e adultos da Ilha de Cotijuba viram a pacata rotina ribeirinha se transformar em um mundo de novos estímulos, a partir de atividades de incentivo à leitura, educação ambiental e lazer.

O projeto é desenvolvido duas vezes por mês na comunidade de Poção, na Ilha de Cotijuba e atrai não só as crianças, como os pais, que também são estimulados por meio de palestras sobre o mesmo tema que é trabalhado junto aos filhos “Além de incentivar a leitura, queremos promover a interação educadores/educandos/comunidade e estimular o pensamento crítico dos alunos quanto à consciência ambiental”, reforçou Izilda.

Percepção crítica - A educação ambiental é trabalhada sob a perspectiva do método Paulo Freire, que parte do contexto para o texto, valorizando a visão de mundo do educando e inserindo-o no contexto da globalização, de forma crítica e libertadora. No trabalho deste sábado (22), por exemplo, as crianças foram estimuladas a desenhar a ilha de Cotijuba da maneira que elas enxergam

As atividades lúdicas fazem a pequena Elielma Santos, de 10 anos, esperar a semana toda pela chegada dos “tios” que vêm de Belém. “Eles têm um jeito de falar todo diferente com a gente, é mais divertido do que aprender na sala de aula”, conta a menina, enquanto capricha no desenho da janela de sua casa.

A equipe que atua no projeto de forma voluntaria reúne em torno de 20 estudantes de Pedagogia, Letras e outros cursos da Uepa. “É muito gratificante perceber a resposta dessas crianças. No início, elas eram muito retraídas e mal conseguiam abrir a boca. Hoje, nos dão um retorno maravilhoso com frases do tipo “queria tanto que todos os nossos professores fossem iguais a vocês...”, comemora Júlia Gonzaga, 19 anos, aluna do terceiro semestre de Pedagogia na Uepa e coordenadora discente do projeto na ilha de Cotijuba.

Inserção familiar - Refletir a realidade por meio de conversas, leituras e atividades lúdicas, como desenho e exibição de filmes, também vem sendo um estímulo para as mães. Mariele Santos, 22 anos, concluiu o Ensino Médio em Belém, mas teve que voltar a morar na ilha de Cotijuba, onde nasceu, para cuidar do filho, Dérik, de 3 anos, junto aos pais. Acompanhada do menino, ela chega para as atividades do projeto, curiosa para saber de tudo. Ela nem percebe, mas enquanto estimula o filho ela está sendo levada a mudar seus próprios hábitos. “Antes, eu não gostava muito de ler, mas aqui eles trazem livros diferentes e aí eu acabei me interessando”, conta Mariele.

Participante assíduo do projeto desde que tinha 7 anos, Elielson Santos, hoje com 12, vibra a cada vez que o barco trazendo os educadores desembarca na ilha. “O jeito como eles dão as aulas aqui é todo diferente. Eles trazem muitos livros, o que nem sempre acontece na escola. Melhorei muito na leitura depois disso”, diz o menino.

Doações - Os custos do projeto - que envolvem transporte, material e lanche para as crianças - é bancado pela Pró-Reitoria da Uepa, mas Izilda Cordeiro tem buscado meios de incentivar a doação de livros de História e, principalmente, de Literatura Regional. Quem puder colaborar com a iniciativa pode entrar em contato pelo telefone (91) 9 8326-0081.

Legado - Do Educandário Nogueira de Farias, que abrigava crianças de rua e estimulou a professora da Uepa a mergulhar na história da ilha, sobraram apenas ruínas que se tornaram o cartão de visitas de Cotijuba. Daqueles tempos até hoje se passaram 80 anos, mas a missão da transformação social por meio da educação permanece firme entre os educadores do Projeto Pará Leitura Vai-quem-Quer. “Nosso projeto completou oito anos e ainda tem fôlego para muito mais. É a nossa missão de resistência diante das dificuldades que essas crianças encontram para chegar à escola”, reforça Manoel Junior, um dos coordenadores do projeto.