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SETEMBRO DOURADO

Hospital Oncológico Infantil alerta para importância do diagnóstico precoce em crianças e adolescentes

No Pará não há filas para atendimento, mas já foram registrados mais de 200 casos de câncer em menores de 19 anos no primeiro semestre de 2020

Por Dayane Baía (ARCON)
10/09/2020 19h09

Rosinei (e) e Cristiana Figueredo, mãe e filha na luta contra o câncer, com todo o auxílio do Hospital Oncológico InfantilDurante todo este mês, o Hospital Oncológico Infantil Dr. Octávio Lobo, em Belém, referência em tratamento de câncer em menores de 19 anos, está envolvido no movimento nacional “Setembro Dourado”, que incentiva pais e responsáveis a estarem atentos a sintomas indicativos de câncer que podem ser confundidos com os de doenças corriqueiras em crianças e adolescentes.

De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), somente no primeiro semestre de 2020 foram registrados 202 casos da doença no Pará. Os tipos mais frequentes são leucemias, seguidas dos casos de linfomas, câncer de encéfalo, ossos, rins e ovários. “A estimativa de atendimento para todo o Pará é em torno de 130 casos por ano. Entretanto, o ‘Oncológico’ atende a média de 350. Estamos conseguindo atender essa demanda. Não temos fila de espera. Elas já conseguem ser atendidas o mais rápido possível”, informa Patrícia Martins, coordenadora estadual de Atenção Oncológica da Sespa.

O Hospital Oncológico Infantil foi inaugurado em 2015. Até então, os pacientes de câncer infantojuvenil eram atendidos no Hospital Ophir Loyola – também referência em tratamento oncológico -, onde Jaqueline Silva, 16 anos, iniciou o tratamento para leucemia. A mãe de Jaqueline, Rosa Maria Silva, conta que os primeiros sinais foram palidez, emagrecimento, fadiga, náuseas e febre persistente. “Ela tinha 10 anos e foi dando uma sonolência. Ela só queria dormir, não brincava, não comia. Depois começou a ter dores articulares, e eu fiquei muito preocupada”, lembra Rosa, moradora da Comunidade Flexal, em Santa Izabel do Pará, município da Região Metropolitana de Belém.A paciente Jaqueline e sua mãe, Rosa Maria Silva (d), confiantes no êxito do tratamento oferecido pela rede pública estadual de saúde

Os sintomas, muito parecidos com outras doenças, dificultaram o diagnóstico correto no município onde a adolescente reside. “Viemos para Belém, ela refez os exames e foi imediatamente tomar sangue, porque a anemia estava muito alta. Desde então começou a nossa luta. Ficamos oito meses na Casa de Apoio, ela fez quimioterapia quase todos os dias, que se estendeu por mais dois anos. Agora, ela está em acompanhamento, fazendo exames a cada quatro meses. Ela se sente bem, mas continua com restrições. A nossa batalha foi assim, mas acredito que ela está curada”, diz a mãe, confiante no tratamento.

Regulação e TFD - O atendimento no Hospital Oncológico Infantil ocorre por meio da Central de Regulação do Estado. “Qualquer criança com suspeita passa por uma consulta na Unidade Básica de Saúde (UBS) do município e depois segue para avaliação no Hospital Oncológico. Se for consulta, será agendada, e se for emergência, um caso de internação, ela também vai pela Central de Regulação para a liberação do leito”, informa Patrícia Martins.

Pacientes que residem fora da Região Metropolitana de Belém recebem o suporte do Tratamento Fora de Domicílio (TFD), disponibilizado pelos municípios. “Ainda existem as casas de apoio, como a Colorindo a Vida, que acolhe familiares de crianças e adolescentes. Geralmente, o tratamento é longo e as famílias acabam tendo que se mudar para a Região Metropolitana, por isso a rede de apoio é muito importante, dando o suporte enquanto ela está em tratamento, inclusive durante a janela de cura, que dura cerca de cinco anos”, complementa a coordenadora.

Diagnóstico - O que ocorreu com Jaqueline está longe de ser exceção. O diagnóstico não depende de exames muito específicos, mas precisa do olhar atento, tanto dos pais e responsáveis quanto dos profissionais de saúde. As consultas periódicas ao pediatra podem ser aliadas importantes, ao invés da cultura do pronto-socorro, que é para onde os pais costumam levar as crianças quando algo está errado. Porém, nas emergências geralmente são tratados os sintomas de forma isolada, e o verdadeiro motivo do adoecimento não é identificado.

Um hemograma básico já pode indicar a presença de leucemia. “A criança pode ter febre, palidez, dores no corpo, infecções de repetição (ouvido, garganta, pneumonia). Quando aparecem manchas roxas na pele é um quadro que já está piorando. O segundo câncer mais frequente é de tumor de sistema nervoso central, que aparece em duas faixas etárias. Até 4 anos de idade a criança está aprendendo a se movimentar e ter sua independência, e começa a regredir nos marcos do desenvolvimento. Já as crianças maiores começam a ter dificuldade de visão, dor de cabeça, principalmente de madrugada, e vômito pela manhã”, detalha Alayde Wanderley, oncopediatra do Hospital Oncológico Infantil.Alayde Wanderley, oncopediatra do Hospital Oncológico Infantil, lista sintomas que podem levar a um diagnóstico de câncer

Já para esses casos é necessária uma avaliação médica para direcionar exames como tomografia e ressonância magnética. Cristiana Figueiredo, paciente do “Oncológico Infantil”, conta que o primeiro sinal foi uma convulsão e desorientação, aos 14 anos. A tomografia indicou que o caso era cirúrgico. “Graças a Deus, ela reagiu bem. O resultado indicou um tumor raro e agressivo na cabeça, e que ela teria cerca de um ano de sobrevida. Eu pedi a Deus que mudasse tudo isso. Fomos para a luta. Ela fez 30 sessões de radioterapia e 17 ciclos de quimioterapia”, lembra Rosinei Figueiredo, mãe de Cristiana.

A humanização auxiliou na jornada. “Graças a Deus, aqui ela conseguiu encontrar carinho, amor, amizade com profissionais e outros pacientes. O tratamento terminou em 2018. Ela teve depois algumas dificuldades, mas hoje em dia faz só o acompanhamento a cada seis meses. Ela não teve recaída, e agradeço todos os dias a Deus pela saúde dela. Ela nunca parou de estudar, e hoje faz faculdade de Nutrição para ajudar outras pessoas”, complementa Rosinei Figueiredo.

Infelizmente, o caso bem-sucedido de Cristiana ainda não é maioria, por isso a importância do Setembro Dourado. “A semana de conscientização é importante porque é muito doloroso receber uma família com uma criança cheia de vida, mas com estágios mais avançados. A maioria dos nossos pacientes, 70%, chega em estágio avançado, um reflexo de todo o Norte-Nordeste e se estendendo para o Sul. Às vezes, não temos nem a oportunidade de tratá-los. Claro que ajudamos, mas o alicerce da oncologia pediátrica, que é curar, a filosofia do hospital, nem sempre é possível por conta do estágio tão avançado. Por isso, levantamos essa bandeira que, mesmo na pandemia, é preciso lembrar que o câncer infantil tem cura, mas precisa do diagnóstico precoce”, reforça a médica Alayde Wanderley.

Sinais de alerta - Nódulos no pescoço de aumento progressivo, que não desaparecem, associados à perda de peso, podem indicar linfoma, o câncer dos gânglios linfáticos, também muito frequente na Região Norte. O diagnóstico é feito por exame de ultrassonografia.O Hospital Oncológico Infantil é referência no atendimento a quase 350 pacientes por ano

Outro tumor comum em crianças no Brasil, e em outros países, é o de rim, que não costuma indicar dor. Ele é percebido por meio de inchaço discreto nas costas e presença de urina com sangue (hematúria), e principalmente por meio da ultrassonografia.

Já dores em um só membro e com aumento de volume podem indicar tumores ósseos, também frequentes e identificáveis por exame de raios X. “Não são exames tão específicos. Temos que conscientizar os pais que, mesmo no meio de uma pandemia, o câncer infantil não espera. Ele continua se manifestando e atingindo as nossas crianças”, ressalta a médica.

Ao contrário do câncer em adultos, o câncer infantil não está relacionado a fatores ambientais ou hábitos de vida, como radiação solar ou tabagismo e obesidade. “O câncer do adulto é relacionado ao estilo de vida adotado por anos. Já na criança é de uma linhagem embrionária, cresce conforme a criança vai se desenvolvendo. Por alguma alteração genética, aliada a vários fatores ainda não definidos, aquele tecido de crescimento acaba sofrendo uma malignização”, informa Alayde Wanderley.