Processo de transexualização garante vida nova a quem não se reconhece no próprio corpo
Há cerca de 24 meses, nasceu Rafael Carmo Ramos, que na contagem oficial do tempo está com 24 anos. Isso por que, como biologicamente era uma menina, só conseguiu identificar quem realmente era e nascer para a vida almejada, quando iniciou seu processo de transexualização, que nada mais é, em linhas gerais, do que adequar o corpo a como a pessoa se sente.
Sem esse processo, o corpo se torna quase uma prisão. Somando-se a isso, o preconceito social ainda muito presente, acaba tornando a vida praticamente um sacrifício. “Sempre me senti um menino, aprisionado em um corpo de menina. E a partir do momento que tomei conhecimento do meu verdadeiro gênero, minha família não aceitou”.
A família não aceitava Rafael da forma como ele julgava ser a sua identidade de gênero. “Minha mãe achava que eu iria sofrer represálias, tanto dos parentes quanto das pessoas de fora e, por isso, não me deu apoio”, lembra. Sem encontrar auxílio em casa, ele resolveu por conta própria procurar ajuda. “Fui atrás de informações e acabei encontrando, dentro das políticas públicas oferecidas pelo Estado, o ambulatório para o processo de transexualização”, explica Rafael.
Após assumir publicamente sua imagem masculina, aos poucos Rafael começou a despontar para uma nova vida. Foi um dos primeiros transexuais a tirar a Carteira de Nome Social, disponibilizada por meio da Secretaria de Estado de Justiça de Direitos Humanos (Sejudh). Em seguida, procurou o Ambulatório de Saúde Integrada para Travestis e Transexuais do Pará, onde passou a fazer o tratamento. Atualmente, ele e a namorada, a jovem Isabella Santorinne, compõem o quadro de 180 pessoas atendidas no local.
O sonho de Rafael é fazer a cirurgia para a mudança de sexo. No caso dele, seria principalmente a retirada das mamas. De acordo com informações do Ministério da Saúde, atualmente o tempo médio de espera para a cirurgia de mudança de sexo é de 12 anos.
Em 2015, foram feitas 23 cirurgias desse tipo em todo o país e, no ano passado, 34. Os números baixos, em detrimento da alta procura, justificam-se pelo fato de, em todo o país, apenas cinco hospitais estarem autorizados a fazer cirurgia de redesignação sexual. Esses centros são ligados a universidades e ficam nos estados do Rio de Janeiro, de São Paulo, Pernambuco, Goiás e do Rio Grande do Sul.
Antes do procedimento cirúrgico, porém, é necessário fazer a terapia hormonal, com duração de dois anos. Ela é o primeiro passo para a mudança, mas também ainda é disponibilizado em poucos estados brasileiros. No Pará, o Ambulatório de Saúde Integrada para Travestis e Transexuais já faz a terapia hormonal desde 2015.
A unidade ainda está em fase de habilitação junto ao Ministério da Saúde, para que possa receber recursos específicos do Sistema Único de Saúde (SUS) para esse tipo de procedimento. “Já houve a visita técnica e a aprovação, agora só precisa ser publicada no Diário Oficial da União”, explica Beto Paes, gerente da Gerência de Livre Orientação Sexual (Glos), da Sejudh. Com a publicação da habilitação, ele ressalta que o ambulatório poderá ampliar os atendimentos.
A expectativa, afirma o gerente, é a de que o Estado também possa, no futuro, realizar a cirurgia para a mudança de sexo. Atualmente, é feito somente o encaminhamento para os locais que fazem esse procedimento. “Estamos almejando habilitar um hospital no Estado que possa fazer a cirurgia de mudança de sexo, feita apenas em cinco estados”, diz Beto.
Campanha
Este mês, quando se celebra o Dia Internacional de Combate à Homofobia (17 de maio), o Governo do Estado lançou a Campanha de Combate à LGBTFobia, com o objetivo de sensibilizar as pessoas sobre a necessidade do combater a violência e o preconceito contra esse público, a partir do questionamento: “Diversidade. Eu respeito. E você?”.
A campanha pretende ainda facilitar o acesso do público LGBT a toda a rede de atendimentos disponibilizada no estado, composta por ações que colaboram para a melhoria das condições de moradia, liberam crédito para atividades de empreendedorismo e promovem a inclusão social, como a carteira de identidade com o nome social para travestis e trans, além da atenção à saúde, por meio do atendimento feito no Ambulatório de Saúde Integrada para Travestis e Transexuais do Pará.
Essa é a terceira campanha promovida este ano pelo Governo do Estado, com temas como “Combate à violência contra a mulher” e “Incentivo à Leitura”, envolvendo de forma direta e indireta toda a estrutura do Estado de maneira integrada, e nesta edição, sob a coordenação da Sejudh, da Secretaria de Estado de Comunicação (Secom), da Fundação Pro Paz e da Cultura Rede de Comunicação.
Serviço:
Ambulatório de Saúde Integral para Travestis e Transexuais funciona no Centro de Testagem e Acompanhamento (CTA) Uredipe. Endereço: Travessa Magno de Araújo, Passagem Izabel s/n, Telégrafo (entre Senador Lemos e Curuçá). Horário de atendimento: manhã e tarde.