Fórum de oncologia agrega crianças e mães no tratamento humanizado
Heloisa, de apenas 3 anos, não parou um minuto sequer de brincar e correr na manhã desta quarta-feira, 21, em uma sala do hotel Princesa Louçã, no centro de Belém. Internada no Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo, no tratamento de uma leucemia, hoje a carequinha sorridente deixou o leito do hospital para se divertir. Ouviu histórias e pulou amarelinha, enquanto pedagogos ensinavam a ela e outras crianças a importância de tomar os remédios na hora certa.
Na sala ao lado, um pouco mais acostumado com a rotina das crianças que lutam contra o câncer, Jerlysson de Paula, 12 anos, comemorava a manhã diferente enquanto brincava de mímica. “Este dia está sendo muito legal. A gente nem lembra o quanto é chato ficar internado e fazer quimioterapia”, disse o menino.
Junto com Heloisa e Jerlysson, mais 58 crianças, de 2 a 14 anos, pacientes do Hospital Oncológico, participaram do I OncoJúnior - Fórum de Oncologia para Pacientes. A programação envolveu jogos, brincadeiras, gincanas, bate-papos e trocas de experiências, animados por personagens infantis. “Já temos várias atividades rotineiramente com as crianças e sentimos a necessidade de reforçar ações educativas. Ainda mais que, neste ano, a Pró-Saúde está completando 50 anos e a gente sabe que quanto mais a gente investe em educação, mais a gente tem retorno em um autocuidado. Queremos trabalhar estas crianças sobre o tratamento delas, de uma maneira lúdica e divertida”, disse Paula Viana, coordenadora de humanização do Oncológico Infantil.
“A importância desse fórum é valorizar o olhar da criança em meio ao tratamento”, disse Roberto França, coordenador pedagógico do projeto “Prosseguir”, que desde 2002 traz um grupo de 14 professores ligados à Secretaria Estadual de Educação (Seduc), que atuam em oito hospitais do Estado no reforço escolar às crianças com enfermidades.
Workshop - As mães das crianças também participaram do I Workshop Empreender - Fortalecendo o Protagonismo das Mulheres. “Queremos despertar as mulheres para que elas possam viver mais e melhor, através de suas próprias iniciativas. Sensibilizar essas mulheres, que costumam abdicar de tudo para se dedicar ao tratamento dos filhos com câncer que dura de dois a três anos, para que elas possam desenvolver novas atividades”, disse Alba Muniz, diretora geral do Hospital Oncológico Infantil.
“Eu considero este um marco histórico dentro da saúde do Pará, na forma como está sendo conduzida as relações e os avanços que serão traduzidos em uma rede, criando uma cultura a curto e médio prazo para a comunidade sentir esses avanços. Agregar a diretoria, equipes assistenciais, pacientes e famílias nesse processo é salutar. Isso pode proporcionar um tempo maior de vida com muito mais qualidade e ainda aumentar os nossos índices de cura”, comemorou Paulo Czrnhak, diretor regional da Pró-Saúde, Organização Social que administra o Oncológico Infantil.
“Se a gente quer alcançar um planeta bom para todos, a gente precisa que a humanização seja valorizada em todas as organizações. Na área da saúde, essa agenda, mais do que nunca, é importante. A gente precisa desse olhar de empatia para com o outro”, disse Adriana Carvalho, a primeira palestrante do workshop.
Depois de ouvir atentamente a palestra, a dona de casa Patricia Oliveira já pensa na possibilidade de buscar uma forma de ganhar dinheiro. Há nove meses, ela se dedica integralmente aos cuidados com o filho Kaio, de dois anos e meio, portador de leucemia. “Além de me fazer pensar sobre ter um trabalho para ajudar também na criação da minha filha mais velha, esse evento me distraiu um pouco. Porque tem horas que a gente se sente muito triste, naquele dia a dia do hospital”, disse a mãe.
Referência - Inaugurado em outubro de 2015, o Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo é uma referência no Norte-Nordeste no atendimento especializado do câncer na infância e adolescência. Em menos de dois anos, o Oncológico quintuplicou o número de leitos para o tratamento de câncer voltado a esse público.
Hoje, o Pará não tem filas para quem busca esse atendimento especializado. A cada mês, o hospital realiza cerca de 550 consultas, além 2.500 sessões de quimioterapia e uma média de 110 internações. Dos 89 leitos disponíveis, dez são destinados à UTI. Os pacientes em terapia no hospital também têm acesso a atendimento no pronto-socorro, que no Oncológico Infantil fica aberto 24 horas por dia. São cerca de 20 atendimentos diários.
Entre janeiro de 2016 a abril de 2017, o hospital registrou um volume total de 25.725 atendimentos, entre consultas, infusões quimioterápicas, cirurgias e exames. Em abril do ano passado, o Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo foi habilitado pelo Ministério da Saúde (MS) como a mais nova Unidade de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon) da região Amazônica, com atuação dedicada à oncologia pediátrica.