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Polícia e PCT Guamá trabalham em sistema de identificação de retrato falado com características regionais

Por Jackie Carrera (SECOM)
21/01/2020 14h03

Dos famosos cartazes de ‘Procura-se’, o retrato-falado sempre esteve no cinema e nos desenhos animados. Uma demonstração clara de que ele sempre fez parte do nosso dia a dia e é cada vez mais atual. Desde o primeiro retrato falado, datado do fim do século 19, até hoje, a representação descritivo-facial por meio de imagens continua sendo uma importante ferramenta na investigação policial.  

No Pará, a Diretoria de Identificação da Divisão de Homicídios da Polícia Civil iniciou uma parceria com o Parque de Ciência e Tecnologia - PCT/Guamá para instalar o primeiro Sistema Automatizado de Identificação Biométrica (ABIS) do Estado, que terá o primeiro retrato falado com características da região amazônica. Atualmente, a Polícia Civil do Pará utiliza o banco de imagens do Instituto Nacional de Identificação, em Brasília, que é o mesmo da Polícia Federal, e elabora os retratos com o uso do Photoshop. Mas o da Polícia Civil do Pará, com detalhes faciais característico da região Norte, será o único. 

“Através de um convênio com o PCT, nós estamos projetando um sistema biométrico, onde dentro dele teremos um banco de imagens regionais para fazer reconhecimento facial. Ou seja, detalhes do rosto, dos olhos, do nariz, da boca, queixo, tudo que remete às características de quem é da região Norte. Hoje nós temos peças universais, de outros países e regiões do Brasil. Mas o nariz de quem nasce no sul não é igual de quem nasce aqui. Então além das peças universais, teremos também a regional”, explica o diretor do setor de identificação, Jorge Almeida, que tem experiência de mais de 25 anos na área.

Segundo Jorge Almeida, apenas 17 estados brasileiros possuem o sistema de identificação biométrico, atendendo a implantação da nova carteira digital (Decreto 9278/2018). O sistema automatizado biométrico é o mais completo e moderno, pois cruza informações do retrato falado com informações de impressões digitais. 

“Os programadores já começaram a desenvolver o sistema biométrico, e nós estamos repassando todo o banco de imagens da Polícia Civil para que ele seja desenvolvido. O trabalho deve levar 4 anos para ser concluído. Estamos aguardando os recursos do BNDS (Banco Nacional de Desenvolvimento). O investimento é alto, mas de uma só vez. Porque se a gente fosse comprar um sistema aí do mercado, o ABIS de uma empresa privada, iria custar de R$12 a R$30 milhões, sem contar que seria por contrato temporário”, ressalta Jorge Almeida.

Ao longo dos anos, com o avanço da tecnologia, o retrato falado passou de um desenho feito à mão para a combinação de imagens digitais feitos em programas de computador. O processo de modernização é uma necessidade para atender os novos tempos.

“Isso confere agilidade no processo de inquérito policial e na solução de crimes”, reitera o diretor de identificação da PC.

Apesar de todas as mudanças na elaboração de um retrato falado, o que nunca mudou foi o fato de se basear na descrição de vítimas ou testemunhas sobre os rostos de criminosos. Essa é a parte mais humanizada do trabalho, que requer muita experiência e sensibilidade por parte dos papiloscopistas.

“Contamos com a informação que sai da mente de uma pessoa. E o nosso papel é materializar essa informação. Ela precisa lembrar e descrever, mesmo tendo passado por uma situação difícil. Por isso temos todo um traquejo para lidar com essa pessoa. Se ela está cansada, com sono, nervosa, em choque. Não podemos pressionar a lembrar. Ela que determina quando pode falar e o que falar. Geralmente, é agendado o dia para ela vir e fazer esse retrato sem pressa e mais tranquila”, conta a papiloscopista, Lúcia Oliveira.

Lúcia Oliveira, papiloscopistaCada detalhe é importante ser colhido para chegar a um retrato fiel do criminoso. Mas nem sempre isso é possível. Os profissionais contam que a experiência ajuda muito para identificar até mesmo que a vítima não tem ideia nenhuma do autor do crime. 

“Há casos que conseguimos perceber que essa vítima não viu o criminoso. Ela disse no primeiro momento ao delegado, mas quando chega aqui não consegue dar nenhuma característica. Em outros casos, a pessoa não lembra mesmo dos detalhes do rosto, mas conversando com a gente consegue lembrar de uma tatuagem, a estatura, alguma característica no corpo. Aí o retrato falado não é possível de ser feito, mas essas outras descrições nós relatamos no laudo enviado ao delegado”, conta Ana Pimentel, outra papiloscopista que faz parte da equipe de identificação forense da polícia civil.

O trabalho sério e relevante à sociedade tem ajudado a solucionar vários casos  policiais, de estelionato, a estupros e latrocínios. Um dos casos emblemáticos da história da Segurança Pública do Estado, foi o do esquartejamento do jovem, Joelson Ramos, em um motel na região metropolitana de Belém. A principal acusada, Savana Nathália, foi descrita por duas testemunhas, o taxista e a funcionária da lanchonete. 

Retrato falado de Savana Nathália“O retrato falado dela foi fundamental para chegar na namorada da vítima”, afirma Leuzimar Torres.  Na época, a polícia conseguiu traçar uma linha de investigação baseada na relação que ambos tinham pela internet, e descobrir um terceiro suspeito, o amante de Savana. “o retrato falado não é prova de crime. Não podemos afirmar que alguém parecido com a imagem é o criminoso. Mas o retrato se assemelha, é um forte indício que auxilia no inquérito policial. Serve como o norte para identificar o verdadeiro suspeito”, disse Leuzimar Torres, papiloscopista.

O trabalho de identificação por retrato falado é feito pela equipe da Divisão de Homicídios em Belém, mas também nos municípios de Santarém, Marabá e Castanhal. Nos outros municípios são atendidos casos prioritários, sobretudo para identificação de quadrilhas de roubo à banco que atuam no interior do Estado.