Seaster capacita empresas para atendimento em Língua Brasileira de Sinais
A ampliação do conhecimento sobre a Língua Brasileira de Sinais ajuda o acesso de surdos ao mercado de trabalhoViver como estrangeiros dentro do próprio País é uma realidade diária para pessoas com surdez. A falta de conhecimento sobre a Língua Brasileira de Sinais (Libras), por grande parte da população brasileira, dificulta o acesso de surdos a diferentes espaços sociais, como o mercado de trabalho. Diante dessa constatação, a Secretaria de Estado de Assistência Social, Trabalho, Emprego e Renda (Seaster) iniciou nesta sexta-feira (1º) uma oficina de nível básico de Libras para representantes de empresas públicas e privadas, parceiras do Sistema Nacional de Emprego, no Centro Integrado de Inclusão e Cidadania (CIIC), em Belém.
O objetivo é estimular empresas de diferentes segmentos a criarem estratégias de inclusão para esse público. “Os processos seletivos realizados nas empresas ainda são excludentes para as pessoas surdas, por adotar testes escritos que têm a predominância da Língua Portuguesa. A escrita do surdo é diferente da nossa, mas as empresas entendem que esses candidatos não sabem escrever pelo fato de desconhecerem a especificidade do surdo. Por isso, é importante que tenham profissionais dentro dos Recursos Humanos com o conhecimento de Libras”, explicou a assistente social Nazaré Saldanha, da Seaster, responsável por ministrar as oficinas.
Jaqueline Paixão, à frente do setor de Seleção e Recrutamento da empresa Colina Distribuidora, no município de Benevides (Região Metropolitana de Belém), disse que em sua rotina de trabalho já passou por situações constrangedoras por desconhecer a Libras. “É a primeira vez que estou trabalhando em uma empresa que tem pessoas com deficiência no seu quadro de funcionários. Eu já passei por várias situações de constrangimento por não saber me comunicar com os funcionários surdos, e o setor de RH é sempre muito procurado por eles”, contou.
A situação não é diferente para Gorete Canto, auxiliar em Saúde Bucal da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), que participa da oficina para se aprimorar no atendimento às pessoas surdas. “A comunicação é algo muito importante, sobretudo na área da Saúde. Eu sempre procurei aprender Libras por perceber essa barreira na comunicação entre as pessoas surdas e os profissionais da Saúde. No momento da prescrição da medicação, por exemplo, é de fundamental importância ter o entendimento de Libras para que não aconteça nenhum equívoco”, ressaltou.
A oficina de Libras reuniu representantes de empresas públicas e privadas, parceiras do Sistema Nacional de EmpregoLei de Cotas - A partir de 100 ou mais funcionários, as empresas são obrigadas a contratar pessoas com deficiência, por meio da Lei 8.213/91. Entretanto, as empresas encontram brechas para a não contratação de pessoas surdas. “Dentro da Lei não tem nada que especifique uma porcentagem para cada deficiência. Então, o que é diferente não é interessante para a sociedade. As empresas adotam estratégias e contratam pessoas com deficiências parciais ou mais leves. A diferença linguística com os surdos impede a contratação desse público”, afirmou a assistente social.
De acordo com pesquisa do Instituto Locomotiva, apenas 37% dos surdos estão inseridos no mercado de trabalho em todo o território nacional, e a maior dificuldade é a qualificação. Porém, o número de pessoas surdas qualificadas, cadastradas no Sistema Nacional de Emprego (Sine Pará), é significativo. “O nosso banco de dados apresenta um quantitativo significativo de surdos com ensino superior completo e até com pós-graduação, mas algumas empresas ainda têm resistência, principalmente para as funções administrativas, fora que muitas empresas entendem que o surdo não tem conhecimento de informática. Por isso, essa oficina é para estimular um ambiente mais inclusivo para as pessoas surdas dentro do mercado de trabalho”, complementou Nazaré Saldanha.
As oficinas de nível básico de Libras prosseguem até o final de novembro, sempre às sextas-feiras, pela manhã e à tarde. As duas turmas, com 25 participantes cada, no Centro Integrado de Inclusão e Cidadania (CIIC).