Treinamento enfatiza prevenção de morte materna por hemorragia
O treinamento é necessário para o salvamento de inúmeras vidasFoto: José Pantoja / Ascom SespaA prevenção de morte materna por hemorragia durante o parto começa no pré-natal, com a identificação dos principais fatores de risco apresentados pela gestante. O alerta é da médica obstetra Laíses Braga, instrutora da Organização Pan-Americana (Opas) para a Estratégia Zero Morte Materna por Hemorragia (0MMxH) e coordenadora do Serviço de Obstetrícia da Fundação Hospital de Clínicas Gaspar Vianna.
Ela foi uma das ministrantes do treinamento Zero Morte Materna por Hemorragia – Prevenção e Manejo Obstétrico de Hemorragia, realizado pela Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), por meio da Diretoria de Políticas de Atenção Integral à Saúde (Dpais), no dia 12 de setembro, no auditório da Escola de Governo. Esse foi o segundo treinamento de 2019. O primeiro ocorreu em abril.
A coordenadora estadual de Saúde da Mulher, Itamara Santana da SilvaFoto: José Pantoja / Ascom SespaSegundo a coordenadora estadual de Saúde da Mulher, Itamara Santana da Silva, o objetivo do evento foi treinar cerca de 80 médicos e enfermeiros para essa estratégia, que importante para a redução da mortalidade materna no Pará. “Participaram representantes dos Centros Regionais de Saúde e profissionais de todos os municípios paraenses”, informou Itamara Santana.
Segundo Laíses Braga, no pré-natal já é possível corrigir a anemia e identificar precocemente se a paciente tem história de hemorragia (coagulopatia). “Podemos perguntar, por exemplo, quando você extrai o dente, sangra muito? Quando você se corta demora a parar de sangrar?”, disse a obstetra.
Também é importante saber se a gestante tem ou já teve hemorragia nos partos anteriores, se tem pressão alta na gravidez, se há história de hemorragias na família, o que pode indicar fatores hereditários para o problema.
Fatores de risco – Laíses Braga explicou que a hipertensão arterial e cesáreas anteriores também são fatores de risco para hemorragia. “A cesárea é um fator predisponente para a placenta acreta, que é aquela que gruda no útero e não consegue sair depois do parto, e também para placenta prévia, que em vez de ficar localizada no fundo do útero ou na parte anterior ou posterior, fica bem em cima da cicatriz uterina, fazendo com que a placenta cresça para cima do colo uterino. Placenta prévia fica entre a cabecinha do bebê e o colo. Então, a criança não pode sair ou, ao se iniciar o trabalho de parto, a placenta começa a se descolar com a abertura do colo levando a um sangramento”, detalhou a especialista. “Tem que saber se a paciente tem cicatriz cirúrgica anterior, seja de cesárea, retirada de mioma ou outro tipo de cirurgia, porque isso vai predispor à hemorragia, tanto pelo acretismo quanto pela placenta prévia”, alertou a médica.
A médica Laíses Braga garante que é possível corrigir a anemia e identificar precocementeFoto: José Pantoja / Ascom SespaConforme Laíses Braga, ao detectar esses fatores de risco na paciente, o profissional já deve direcioná-la para um hospital que atenda à gravidez de alto risco. “Não adianta mandar para maternidade de pequeno porte porque ela poderá evoluir com hemorragia e terá que ser transferida para uma maternidade de maior complexidade hospital. Se eu desconfio ou identifico numa ultrassonografia que a grávida tem placenta prévia ou acreta eu já tenho que programar a cesárea dessa mulher. Deve ser evitado que inicie o trabalho de parto porque é uma mulher que tem indicação absoluta para cesárea devido ao alto risco de hemorragia”, enfatizou a especialista.
Parto e pós-parto - Sobre a hora do parto, ela disse que assim que chegar à maternidade, a equipe médica precisa fazer as mesmas avaliações feitas durante o pré-natal e já solicitar hemograma para todas as mulheres na chegada à maternidade, pois a anemia é fator de risco para a hemorragia pós-parto.
Durante o trabalho de parto, é importante observar com cuidado com partograma, avaliando as contrações uterinas, porque a ruptura do útero pode levar à hemorragia e à morte da mãe e do bebê. É preciso observar a pressão arterial, para evitar pico hipertensivo, que pode ocorrer mesmo que ela nunca tenha tido episódio semelhante antes, mas que é possível ocorrer na hora do parto. É a chamada hipertensão transitória.
Depois do parto, é importante o uso da Ocitocina como profilaxia para hemorragia, que deve ser feita imediatamente após o nascimento do bebê, antes de tirar a placenta.
Um alerta importante feito pela médica é que o profissional não deve puxar a placenta. “Deixa que ela vai sair sozinha, porque na hora que você puxa, pode arrancar e deixar um pedaço lá dentro, pode trazer o útero junto, o que também causa hemorragia. Tudo no parto tem que ser o mais fisiológico e tranquilo possível, sem forçar a natureza. Hoje em dia, com as atuais técnicas que levam em consideração a fisiologia da mulher e o seu estado físico e emocional, há uma grande probabilidade de não haver complicações e de as coisas acontecerem naturalmente”, orientou a instrutora da Opas.
Sobre o treinamento, Laíses Braga disse que estava capacitando os profissionais para o enfrentamento de dificuldades no primeiro momento. “Seja um enfermeiro, seja um médico, ou parteira até, se perceber qualquer alteração de sangramento depois que sai a placenta já deve começar a fazer o protocolo, o passo a passo. Se o fluxo for seguido em todas as mulheres não haverá complicação, porque quando se faz a medicação dá tempo de chegar a outra unidade de média e alta complexidade, evitar o choque hemorrágico e o óbito”, afirmou a obstetra.
Nova tecnologia - Os participantes também tiveram a oportunidade de conhecer e aprender a utilizar o Participantes do segundo treinamento, no auditório da Escola de GovernoFoto: José Pantoja / Ascom Sespatraje antichoque não pneumático (TAN), uma nova tecnologia de tratamento da hemorragia obstétrica que vem sendo introduzida no Brasil pelo Ministério da Saúde, em cooperação com a Opas/OMS. O TAN permite um controle transitório do sangramento, ampliando a sobrevida das mulheres enquanto aguarda um procedimento ou a transferência a uma unidade de referência.
Laíses Braga disse que o TAN é uma tecnologia de baixo impacto e baixo custo, que controla a hemorragia até a paciente chegar a uma unidade de alta complexidade, onde o caso pode ser resolvido. “Ele funciona como se fosse uma contenção da hemorragia, evitando que piore o estado geral da mulher até chegar a um hospital de alta complexidade, para cirurgia ou outro procedimento que salve essa vida. Depois que eu consigo controlar, fazer o diagnóstico e tratar, aí eu posso tirar o TAN”, explicou a médica.