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PROJETO-PILOTO

População ribeirinha é vacinada contra raiva humana em Portel

Por Roberta Vilanova (SESPA)
12/09/2019 18h04

A Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) já iniciou a vacinação contra raiva humana na população que vive ao longo do Rio Pacajá, no município de Portel, no Arquipélago do Marajó. A imunização, iniciada na última terça-feira (10), faz parte do Projeto para Detecção e Titulação de Anticorpos Neutralizantes (AcN) do Vírus da Raiva para Acompanhamento de Imunidade em População sob Risco para Raiva após Ação de Vacinação, que tem o objetivo de realizar um estudo científico e prevenir novos casos de raiva humana na população com dificuldade de acesso aos serviços de saúde pública.

Pessoas que moram às margens do Rio Pacajá estão sendo imunizadas contra raivaA ação preventiva se estenderá até o dia 29 de setembro, uma iniciativa do Departamento de Doenças Transmitidas por Vetores (DCDTV), por meio do Grupo de Trabalho Zoonoses, 8º Centro Regional de Saúde da Sespa, secretarias Municipais de Saúde de Portel e Melgaço (outro município marajoara), com apoio do Ministério da Saúde, da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e do Instituto Pasteur.

Atualmente, o Ministério da Saúde indica a profilaxia antirrábica em duas situações: na pós-exposição (PEP) - depois da agressão pelo animal - e pré-exposição (PrEP), antes do ataque. Porém, a PrEP é recomendada somente para uma lista de classes profissionais com risco de exposição frequente ao vírus rábico. Novas diretrizes da Organização Mundial de Saúde (OMS) recomendam a profilaxia PrEP também para residentes em áreas endêmicas para raiva, em especial àqueles grupos que tenham dificuldade de acesso à profilaxia PEP de forma oportuna e adequada, como é o caso da população ribeirinha.

Considerando que já foram realizados diversos estudos científicos apontando o protocolo PrEP como eficaz na prevenção de raiva humana em populações residentes em áreas de risco, o objetivo científico do projeto-piloto é avaliar a profilaxia que será empregada na vacinação de ribeirinhos residentes em áreas de risco para raiva transmitida por morcegos hematófagos (que se alimentam de sangue), por meio do acompanhamento dos títulos de anticorpos neutralizantes de indivíduos vacinados.

Surtos – Nos anos de 2004 e 2005, surtos expressivos de raiva humana transmitida por morcegos hematófagos foram descritos no Pará e Maranhão. Em 2018, um novo surto foi documentado com registro de dez casos, dos quais nove eram menores de 18 anos, residentes em área ribeirinha do município de Melgaço, com histórico de ataques de morcegos hematófagos e sem realização de profilaxia antirrábica pós-exposição. A maioria das vítimas residia em área rural, ribeirinhas ou remotas.

Segundo a coordenadora do GT Zoonoses, Elke de Abreu, neste projeto-piloto será a primeira vez que se utilizará essa metodologia específica no Brasil, de duas doses ID, para vacinação de população humana contra a raiva como método de controle da enfermidade - como uma nova ação de saúde.Sede municipal de Portel, onde começou a vacinação dos moradores

Conforme a gestora, o projeto de vacinação no Pará é fundamental porque a raiva gera elevados custos, com protocolos de prevenção pós-exposição. Com tratamento de baixa eficácia, os custos são ainda maiores. “Além disso, a raiva é uma enfermidade cujos sintomas impressionam aqueles que têm contato com as vítimas, gerando traumas e danos psicológicos nas famílias e nos agentes de saúde que atendem a esses pacientes”, acrescentou Elke de Abreu.

Acompanhamento - De acordo com a Organização Mundial de Saúde, para que um indivíduo seja considerado imunizado seus títulos de anticorpos neutralizantes para o vírus da raiva devem ser igual ou maior que 0.5 UI/mL.

Com base nessa informação, o acompanhamento da população vacinada será feito com as seguintes ações: aferir os níveis de titulação de anticorpos neutralizantes para o vírus da raiva antes da administração da vacina antirrábica humana (inativada), com o intuito de verificar se a população foi exposta anteriormente e se há indivíduos com títulos obtidos naturalmente por essa exposição; verificar a duração e o nível de anticorpos para o vírus da raiva na população de estudo pós-ação de vacinação por um período de dois anos, com uso do esquema de vacinação de duas doses; verificar como os diferentes grupos populacionais reagem imunologicamente à vacinação, e se haverá diferença nas respostas imunológicas, e verificar diferenças de resposta imunológica entre indivíduos que receberam duas doses da vacina em comparação àqueles que receberam uma dose.

As amostras serão coletadas em voluntários que concordem em participar do projeto, após assinatura do termo de consentimento. No caso de menores, o termo será assinado pelos pais ou responsáveis.