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FEIRA DO LIVRO E MULTIVOZES

'Olhos de Ressaca' traz o outro lado do dilema de Capitu

Por Ailson Braga (IOE)
30/08/2019 18h49

A ousada ficção do escritor João Bosco Maia sobre a história de Bentinho e Capitu, da obra machadiana Dom Casmurro, chega aos visitantes da 23ª Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes. A obra foi lançada na tarde desta sexta-feira (30), no estande da Imprensa Oficial do Estado, lado da Arena Multivozes. Décima obra do escritor, “Olhos de Ressaca” ganhou o Prêmio Samuel Wallace MacDowell, da Academia Paraense de Letras (APL), em 2018. A publicação de 170 páginas foi impressa na gráfica da Imprensa Oficial Estado, como resultado da parceria com a APL.

O escritor João Bosco Maia (c) no lançamento da obra, no estande da IoepaNesta versão, João Bosco Maia faz o leitor saborear a inversão das origens, propondo um jogo de mudanças de estatuto da intrigante personagem de Machado de Assis – Capitu -, que passa a ser a narradora-protagonista da obra, em um emocionante discurso de autodefesa.

Para o autor, a chance de dar voz à protagonista de “Dom Casmurro” foi desafiadora e catártica. “Acho que todos que leem o livro da história de Bentinho e Capitu ficam com a dúvida sobre a suposta traição, e com uma certa pena de Bentinho, mas o que ele fez com Capitu foi um feminícidio. Ele a obrigou a um degredo em um país, no caso a Suíça, onde ela não podia sequer professar sua fé (era católica), já que o Calvinismo estava consolidado por lá. Ela vivia em um lugar frio, condenada à solidão, com uma língua estranha e sem nenhuma chance de ser feliz. Foi uma pena de morte muito cruel”, opinou o autor de “Olhos de Ressaca”.

Na apresentação do livro, a pesquisadora Sheila Maués Autiello, da Universidade Federal do Pará (UFPA), destaca que alguns aspectos são fundamentais nas memórias de Capitu. "Desde a elegância com que descreve a dramática situação familiar que envolveu a sua mais tenra adolescência até a tomada das rédeas ao lar e da sua própria vida, quando da morte da sua mãe. A pobreza, a maturidade forçada, a descoberta de si e do amor. A tocante narrativa em desconstruir a imagem de mau-caráter, descortinando, para isso, segredos íntimos e, por vezes, constrangedores para uma mulher do século XIX", explica Sheila Autiello.

O autor João Bosco Maia conta que, por diversas vezes, teve vontade de deletar o livro. "Não é uma tarefa fácil mexer com um clássico de Machado de Assis, construindo uma narrativa em primeira pessoa, mas consegui chegar ao final", contou ele, que se disse surpreso com a premiação ao submeter o livro à apreciação da APL.

Ele esclarece que, embora não seja o primeiro a esmiuçar a obra machadiana, mantém o ar de suspense considerado um dos aspectos mais geniais da obra de Machado de Assis, que questiona a integridade de Capitu, se ela traiu ou não Bentinho. "A Capitu carrega essa traição há mais de 100 anos. Muito já se escreveu sobre o assunto, mas ainda paira a dúvida", ressalta.

’Olhos de Ressaca’ analisa o dilema machadiano sob a ótica de CapituVersão de Capitu - Para o autor, "Olhos de Ressaca" é um debruçar-se sobre a condição feminina exposta pelo personagem Bentinho, na obra "Dom Casmurro". "Agora, ela conta a versão dela, a partir de seu exílio para a Suíça, quando relembra da infância ao namoro", relata.

“Olhos de Ressaca” foi apresentado primeiramente a colegas, escritores e artistas paraenses em uma noite com jazz, blues e rock, no dia 4 de julho, no Espaço Cultural Ná Figueiredo, centro de Belém. Entre os que prestigiaram o lançamento estavam a representante da Academia Paraense de Letras, Izabel Benone, parentes, leitores e amigos do autor, além dos escritores paraenses Paulo Nunes, Daniel Leite, Mário Zumba, Juracy Siqueira, Luciana Brandão e Cláudio Cardoso; dos jornalistas Guilherme Barra e Lázaro Araújo, e do ator Marton Maués.

João Bosco Maia nasceu em Ananindeua, na Região Metropolitana de Belém. É autor dos romances "Olhai por nós", "As cartas anônimas de Robledo", o "Folhetim das Sanchez (do luar às flores)", "A circunscrição do breu", e dos premiados "Memórias quase póstumas de um ex-torturador", "Sob o silêncio das mangueiras" e "666 - o tragicômico percurso". Escreveu ainda o livro de contos "O ciclo dos velhos pastores" e a também premiada dramaturgia "Após as três badaladas".

Serviço: O livro "Olhos de Ressaca", de João Bosco Maia, 170 páginas, premiado pela Academia Paraense de Letras e publicado pela Imprensa Oficial do Estado do Pará, é vendido a R$ 40,00, e está disponível para venda no estande da Ioepa, na 23ª Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes, no Hangar, em Belém, até domingo (1º), das 10 às 21 h.