Pai que cria, educa e salva vidas é celebrado em todo Estado
Luiz acorda cedo para fazer o café de Sophia. Entre o banho corrido para ir ao trabalho e o rechear do pão que enche a mesa da cozinha, o chamado para que ela se levante e faça o desjejum. Passa um pouco das 7 da manhã. Ele entra no carro, se despede da filha e faz muitas recomendações. Vai apressado, mas pensando na menina, que vai brincar em casa – ou assistir a algum desenho de princesa. Para quem cria um filho sozinho, o desafio é grande, mas nunca um peso. Ser pai é um ato de doação. Um altruísmo que muitas vezes surpreende até o mais crédulo ser humano.
Esse é apenas um dia na rotina do professor Luiz Maximiano Fernandes, 40 anos, pai de Sophia, 3. Eles moram em Tracuateua, nordeste do Pará, para onde o servidor se mudou há dez anos, quando passou em um concurso da Secretaria de Estado de Educação (Seduc). Na cidade, por onde passa, a menina é um xodó. Comunicativa, ela fala com todos; educada, responde aos bons dias e arranca sorrisos, sob os olhos orgulhosos do pai. A relação de amor e cuidado é recíproca. Ambos transbordam amor nos olhares que trocam.
Luiz é o primeiro pai solteiro e adotivo, servidor público do Estado, a ter obtido licença paternidade, em 2015. O benefício em geral concedido apenas à mulher foi assegurado ao professor de forma inédita no Pará. “Primeiro a licença me foi negada, porque a Sophia já tinha dez meses de idade quando fiz a solicitação. Não aceitei a decisão e fui fazer uma pesquisa. Li bastante e me baseei em duas leis fundamentais para fazer meu argumento e recorrer. Tive sucesso e pude gozar do período de 120 dias para cuidar da minha filha”, conta.
As leis a que Luiz recorreu foram a 8.069/ 90, do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) – que preconiza a licença-maternidade como um direito à criança, e não aos pais – e a própria Constituição Federal, cujo Artigo 5º expressa que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”. O professor diz que o benefício era importante para que a filha não fosse tratada de forma diferente apenas por ser uma criança adotada. “Além de pai solteiro e adotivo, sou homossexual. Minha sexualidade nunca foi colocada em xeque em todo o processo de adoção, muito menos o fato de eu ser solteiro. Então eu quis o mesmo reconhecimento para poder me licenciar do trabalho”, conta.
Mudanças
A dedicação de Luiz para dar o melhor a Sophia começou antes de a menina nascer. A mãe biológica, que mora na cidade, abriu mão dos direitos maternos para que ele pudesse adotar a criança. “Sempre tive o desejo de ser pai. Para mim, poder adotar um filho foi a realização de um sonho”, conta. Com os louros da paternidade, vieram, claro, as obrigações. Ele teve de abrir mão, por exemplo, de outros projetos pessoais, como continuar os estudos. O estilo de vida também mudou. Construiu uma casa adaptada à criança, comprou um carro e parou de sair à noite. A vida de solteiro, porém, não é uma opção, e sim, fruto do preconceito. “Carrego o mesmo estigma de mãe solteira. Quando as pessoas sabem que tenho uma filha, em geral elas se afastam”.
Professor de Filosofia na Escola Estadual Coronel Pinheiro Júnior, a única de Ensino Médio da cidade, Luiz tem o apoio dos pais na criação de Sophia. Ele reconhece que, sem esse suporte, seria ainda mais difícil dar conta da tarefa de cuidar da casa e do trabalho sem abrir mão da vida pessoal. “Ser pai é ajudar a preparar um ser humano para o mundo. Vejo na minha filha a mulher que quero que ela seja”, atesta. Representante de um porta-retrato familiar diferente, sem as tradicionais figuras do pai e mãe, Luiz sabe que o desafio é ainda maior para afastar a discriminação. “Caberá a mim, por exemplo, repassar a ela conceitos do universo feminino. Sei que isso faz parte do meu papel enquanto educador e exemplo, essa figura que é um modelo para o outro”, analisa.
Pai duas vezes
Ser capaz de, literalmente, dar a vida pelo outro é uma qualidade de poucos. Mas não para o aposentado José Rodrigo Lopes, 66. Apaixonado pelos filhos, ele que não mede esforços para reunir a família sempre que pode. Há dez anos, ele fez um gesto máximo de generosidade, ao doar para o filho Júnior Alex Moura, 38, o próprio rim. “Ele já tinha feito hemodiálise por oito anos. Os médicos me disseram que ele teria pouco tempo de vida, a não ser que fizesse um transplante. Não pensei duas vezes. Apesar dos protestos de muitas pessoas, inclusive da família, fui adiante. Depois dos exames, fomos para a cirurgia. Eu saí do hospital no dia seguinte, e o meu filho, três meses depois, totalmente curado da doença renal crônica que enfrentava desde a infância”, conta o pai.
“Se for no serviço a autoridade é o delegado, em casa é o pai”.
Cleyton Costa, 30 anos, há sete é delegado da Policia Civil. Ele é filho de Edilson Costa, 59 anos, que há 37 é investigador da também Policia Civil. Clayton cresceu sentindo orgulho do pai, que ele tinha como herói. Quando criança, era comum ouvir dos coleguinhas elogios ao pai por sua profissão, especialmente quando o viam entrar em uma viatura policial junto com Edilson.
"Como filho a gente sempre se espelha nos pais. Não que ele tenha tido uma influência direta, até porque, por saber as dificuldades da vida policial, ele nunca me incentivou. Dizem que para ser policial tem que ter algo no sangue. Eu amo e não me vejo me fazendo outra coisa e meu pai é a minha referência”, comentou.
Cautela nos procedimentos, respeito à pessoa humana e altruísmo são princípios que o pai ensinou ao filho no início da carreira. “Não há como ser um servidor público se você não for altruísta e tiver respeito pela pessoa humana, isso eu sempre falei pra ele”, destaca Edilson.
Hoje Cleyton é titular da Delegacia de Repressão a Furto e Roubo de Cargas e está como diretor da Divisão de Repressão ao Crime Organizado (DRCO). O pai já poderia estar aposentado, mas ainda hoje trabalha na diretoria de Estatística e Análise Criminal e em algumas oportunidades os dois já atuaram juntos. “Se for no serviço, a autoridade é o delegado, em casa prevalece a autoridade do pai”.
(Colaboração: Marcio Flexa - Secom)
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