Mães e profissionais da segurança pública: histórias de amor, dedicação e superação
Neste domingo (12 de maio) é comemorado mais um Dia das Mães, uma celebração que amplia o sentido da palavra amor. Mas apesar de considerada gratificante, a maternidade está longe de ser uma tarefa fácil. Os deveres e as preocupações são constantes quando a extensão da própria vida é colocada no mundo, mais ainda quando o zelo e a dedicação com os filhos estão ao lado de outra nobre missão: garantir a segurança da população. Essa é a realidade de muitas mães que atuam na área de segurança pública em todo o Brasil.
Assim é a vida de Marilce, Keyla e Leonora, como são chamadas em casa, mas que na maior parte do dia trabalham como investigadora na Polícia Civil, comandante na Polícia Militar e cabo do Corpo de Bombeiros. Três mães paraenses que atuam na segurança da população, bem sucedidas nos papéis de mãe e profissional, com histórias de vida únicas e muitas realizações em comum.
Turbilhão de emoções - Marilce Oliveira Santos é investigadora da Polícia Civil do Pará há 17 anos. Já passou por vários municípios, trabalhou por 11 anos na Delegacia da Mulher, foi chefe de Operações no Centro de Perícias Científicas Renato Chaves e chegou à Delegacia-Geral, onde atualmente trabalha na Diretoria de Assuntos Vulneráveis (DAV).
O trabalho na Polícia Civil exigiu a conciliação das tarefas com as aulas do curso de Direito, e ainda com o papel de esposa. Mas a grande transformação ocorreu há 13 anos, com o nascimento de Cássio, seu primeiro filho. O menino foi diagnosticado com autismo, um distúrbio neurológico que prejudica a interação social e a função cognitiva.
O diagnóstico do filho transformou Marilce, como profissional e ser humano. “Quando nasceu meu primeiro filho tudo mudou. Eu tive que administrar essa mistura de papéis. Não dá para dizer que é fácil. Quando descobri que meu filho era autista foram muitas emoções. A primeira dificuldade é pensar ‘como vai ser quando eu não estiver com ele?’. Mas logo aprendemos a aceitar e entender nosso filho, o que nos torna muito fortes para superar todas as dificuldades”, afirma.
Marilce, que depois deu à luz Laura, hoje com 3 anos, garante que o dever profissional nunca atrapalhou sua função materna. “A Polícia sempre me ajudou. Meu trabalho nunca fechou as portas para eu desempenhar meu papel de mãe de uma criança especial. Eu não sou perfeita, mas sou dedicada e faço tudo pelos meus filhos. Trabalho muito para proporcionar o melhor para eles, mostrando todas as dificuldades da vida. Eu amo ser mãe e poder dizer que dou conta de desempenhar todos os meus papéis”, ressalta.
Para ela, chegar ao patamar profissional em que se encontra atualmente é um presente divino, que trouxe uma nova visão sobre a vida e os cuidados com os filhos. “Tenho certeza que foi Deus que me colocou aqui na DAV. Como o próprio nome já diz, trabalhamos com pessoas vulneráveis. Nós temos a preocupação com a parte humana, não apenas o serviço policial. Isso me mostra o quanto é importante estar presente e alertar grupos vulneráveis, como idosos e crianças, que estão propensos a muitas dificuldades. Com isso, percebo a importância de ser uma mãe atenta, alerta aos olhares e comportamentos. Com o tempo, nós conseguimos detectar, conviver e resolver quando as coisas não estão certas”, informa Marilce, para quem ser mãe “é um turbilhão de emoções, onde o principal combustível é o amor”.
“Dou minha vida por eles” - Mãe de Ayla, 20 anos, e Kauã, 11, a tenente-coronel da Polícia Militar Andreia Keyla de Oliveira é mais um exemplo de força, garra e competência nesse universo feminino das forças de segurança pública.
Atual comandante do Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (Cfap), Keyla iniciou sua carreira em 1993, aos 16 anos, quando passou no concurso para PM, inspirada na admiração que tem pelo pai, oficial da reserva. Até chegar ao posto de comando, foram 17 anos de trabalho de rua, que a ajudaram a ser uma mãe muito mais atenta com os filhos.
“Eu descobri que estava grávida dia 14 de novembro de 1998, quando estava terminando meu curso de oficial. Mudou tudo quando ela nasceu. Uma das primeiras coisas que fiz quando soube da gravidez foi chegar em casa, ir à frente do espelho e falar ‘agora é contigo’. Eu vi que ela dependia de mim. O meu sonho não era mais só meu; ela fazia parte disso e a minha preocupação maior era a Ayla. Mas serviu pra me mostrar o real sentido de vida e porquê eu tinha que lutar cada vez mais pra conquistar meu espaço”, conta a comandante.
Casada com um tenente-coronel da PM, ela tem uma rotina intensa de trabalho. “É uma loucura, no bom sentido. É bem desgastante, mas muito proveitoso. Como costumamos dizer, é uma missão árdua, porém nobre. Meu dia já começa às 5 h da manhã, seguindo essa correria de levar as crianças pra escola, buscar, ajudar no dever de casa e ainda cumprir o dever do quartel. Mas é algo absurdamente gratificante, quando eu olho para eles todos os dias e os vejo saudáveis, estudando e transmitindo para mim o quanto são amados”, diz a oficial.
Para a tenente-coronel, chegar até a atual patente é gratificante, principalmente por ser mulher. "Não foi fácil. Foram 17 anos tirando serviço de rua, onde eu enfrentei muitos preconceitos por ser mulher. Tem-se a ideia de que a mulher é frágil, que não tem força e capacidade. Sempre tem a desconfiança, mas procurei dar tudo de mim na corporação, assim como em casa, para não ter que escutar isso. Hoje eu posso dizer que as mulheres estão sendo muito mais valorizadas. Estamos conseguindo nosso espaço para mostrar o que podemos fazer", enfatiza. Para Keyla, ser mãe “é tudo para mim. Meus filhos são a minha vida, e eu dou a minha vida por eles”.
Amor incondicional - A preocupação com a vida do próximo já era a função primordial da cabo Leonora Bahia, bombeiro militar há 12 anos, mesmo antes da maternidade. “Antes de entrar no Corpo de Bombeiros eu nem sabia como era o serviço, mas ainda na escola eu me apaixonei. Pela quantidade de atividades operacionais diferentes que temos e por quão nobre é esse trabalho de salvar vidas. É algo que nunca enjoa”, diz Leonora.
Mãe da Yandra Luísa, 3 anos, a cabo garante ser apaixonada pela vida e por tudo que já conquistou. “Eu me preparei muito para ter minha filha. Sou louca pela minha profissão, mas ainda mais pelo papel de mãe. Sou muito companheira. No tempo que estou em casa estamos sempre juntas, fazendo alguma atividade”, conta.
Leonora se destaca como profissional, e afirma que a principal "culpada" por esse bom desempenho é sua filha. “Com certeza eu melhorei não só como profissional, mas como pessoa. A chegada da Yandra me deu um olhar mais humano. Inclusive nas ocorrências me faz ser mais sensível, não mais fraca. Percebo que isso foi depois da maternidade. Toda e qualquer missão eu dou o máximo de mim, porque quero voltar para casa e ser recebida com aquele sorriso. Nós vamos para cenários em que todos estão fugindo. Se tiver uma criança envolvida, eu vou ser aquela que vai cuidar e dar atenção para esse indefeso”, afirma.
A rotina sempre cheia de atribuições deixa um “grande aperto” no coração de Leonora, mas é recompensada na hora de voltar para casa em segurança. “Esse momento é bem complicado, por conta das escalas de trabalho serem de 24 h. Mas a parte boa é que passar esse tempo fora de casa aumenta a saudade, e sou recebida sempre no portão com aquele sorriso de felicidade e abraço da pessoa que eu mais amo na vida”, garante Leonora, para quem ser mãe “é ter a pretensão de experimentar um amor divino, que é verdadeiro e incondicional”.