Susipe relança na Praça da República o Projeto Conquistando a Liberdade
Cristina de Lima, 23 anos, cumpre pena há dois anos e quatro meses no Centro de Recuperação Feminino (CRF), em Ananindeua, na Região Metropolitana de Belém. Ela integra o grupo de 30 internos de unidades da Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado (Susipe), que por meio do trabalho encontrou uma forma de reconstruir a vida. Na manhã deste domingo (31), Cristina e outros internos realizaram a limpeza e o plantio de mudas na Praça da República, centro da capital paraense.
"Estou há quatro meses trabalhando na limpeza das praças e vias públicas da cidade. Com essa oportunidade, consegui ganhar o respeito da minha família. Tenho dois filhos e quero dar o exemplo para eles, mostrar que a mudança é possível, e que com o trabalho a gente consegue realizar o que quiser", declarou a interna.
A ação marcou o relançamento do Projeto Conquistando a Liberdade, do qual Cristina de Lima faz parte, promovido pela Susipe, por meio da Diretoria de Reinserção Social (DRS). Em parceria com a Prefeitura Municipal de Belém, o projeto oferece o trabalho de limpeza e manutenção de vias e logradouros da cidade.
Porta de entrada - O idealizador do projeto, o juiz Deomar Barroso, titular da Vara de Execução Penal da Região Metropolitana de Belém, ressaltou a importância de profissionalizar o projeto e a oportunidade que ele proporciona aos internos de retorno à sociedade, por meio da manutenção do meio ambiente.
“O ‘Conquistando a Liberdade’ nasceu em 2003 e ganhou força em 2012. Com isso, vimos a necessidade de fortalecer e profissionalizar o projeto, para que ele se torne uma porta de entrada para que esses apenados retornem ao convívio em sociedade, oferecendo um serviço de manutenção e conscientização sobre o meio ambiente. Esse projeto veio à tona por meio de uma fala de um preso, que me afirmou que 'um erro não pode ser maior que um homem'. Hoje estamos aqui para reafirmar isso", assegurou o juiz.
O diretor de Reinserção Social da Susipe, EdWilsom Nascimento, ressaltou os benefícios do projeto e a reformulação dos convênios e das parcerias para ampliar o número de vagas de emprego para internos do sistema penal.
"Vamos massificar as ações em torno do 'Conquistando a Liberdade'. Nossa proposta é aumentar a equipe, que hoje conta com 15 internos, e proporcionar mais 150 vagas de trabalho, em parcerias com a Prefeitura Municipal de Belém, Ministério Público, Defensoria pública e Poder Judiciário. Nossa meta de gestão é colocar os presos para trabalhar e estudar, pois somente desta forma estaremos cumprindo com a missão da nossa futura Secretaria, de devolver à sociedade indivíduos aptos e capacidade de reintegrar-se à sociedade, sem reincidir no crime", enfatizou o diretor.
Honestidade - A aposentada Elizabeth Moto, 68 anos, disse que gostou de ver os presos trabalhando nas praças, como forma de garantir o sustento com honestidade. "É uma ação maravilhosa ver essas pessoas se esforçando para mudar e conseguir ganhar seu sustento de forma honesta. Precisamos estar abertos para recebê-los novamente. Com atitudes como essa podemos, no futuro, ter uma sociedade mais justa e, quem sabe, minimizar os efeitos da violência", ressaltou.
Pela manhã, os internos plantaram sete mudas de palmeiras, sob a orientação da equipe técnica da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma), que coordena e acompanha os apenados. As mudas foram plantadas respeitando as normas de paisagismo da Praça da República, definidas pela Secretaria.
Leitura, trabalho e produção – Ainda na manhã deste domingo, na Praça da República, foi encerrada a campanha externa de arrecadação de livros literários e educacionais do Projeto Reinsere – Leitura nas Unidades Prisionais. A campanha foi lançada com o objetivo de aumentar o acervo das bibliotecas do sistema penal. Mais de 50 mil livros foram arrecadados em apenas um mês. Quem ainda quiser doar pode ir às unidades penais do Estado ou à sede da Susipe, localizada na Rua dos Tamoios, 1573, em Belém.
A programação contou também com o Projeto Escrevendo e Reescrevendo Nossa História (Pernoh), que auxilia na ressocialização do socioeducando em situação de risco e seus familiares, promovendo ações profissionalizantes. “Estamos aqui somando forças no projeto com a Susipe, promovendo cortes de cabelo gratuitos à comunidade. Nossos reeducandos, através dos cursos que oferecemos, são os voluntários nessa ação, que visa à inclusão e à reinserção dessas pessoas à sociedade”, disse a coordenadora pedagógica do projeto, Keila Sales.
O Coral Timbres, formado por Internas do Centro de Recuperação Feminino (CRF), fez uma apresentação na praça. A Susipe promoveu ainda exposição e venda de artesanatos confeccionados pelas integrantes da Coostafe - a cooperativa formada por internas do sistema penal -, e mostrou ao público resultados do Projeto Reinsere na Feira, com produtos do Polo Produtivo e de marcenaria, feitos por internos.
Referência nacional - O “Conquistando a Liberdade” atua na prevenção da violência, ajudando o detento a voltar ao convívio com a sociedade, além de reduzir a pena por meio do trabalho. O preso recebe o benefício da remição de um dia da pena a cada três participações em ações do projeto, direito garantido pela Lei de Execuções Penais.
O projeto já chegou a 18 municípios paraenses, e é reconhecido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) como referência no País na área de reinserção social de presos, além de ter sido um dos 18 projetos premiados entre os mais de 460 inscritos no Prêmio Innovare. (Por Walena Lopes).