Exemplos de reinserção mostram que a oportunidade pode transformar vidas
A Divisão de Assistência Integrada da Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado (Susipe) atua junto a uma rede de parceiros para oferecer aos egressos novas oportunidades de trabalho e de vida por meio da qualificação profissional. Uma grande parcela dos homens e mulheres que deixam o cárcere é encaminhada para o Projeto Fábrica Esperança, onde têm a oportunidade de se capacitar para conquistar vagas no mercado de trabalho.
Os cursos oferecidos a esse público são ministrados pelas empresas do Sistema S (Senar, Senai, Sesi, Senac, Sesc, Sebrae, Sest, Senat e SESCOOP), pelo Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) e também por instituições religiosas. As capacitações abrangem diversas áreas de atuação.
Alguns contratos firmados com a Fábrica Esperança oferecem oportunidades em outras instituições. Atualmente, os que mais se destacam são a Secretaria de Estado de Assistência Social (Seas), que emprega sessenta egressos em seu quadro funcional, e a Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social (Segup), que absorveu 54 egressos do Sistema Penitenciário.
É com a intermediação da Divisão de Assistência que os ex-detentos são cadastrados e têm suas necessidades conhecidas. O objetivo é auxiliar essas pessoas para elas tenham uma alternativa de subsistência após o cumprimento da pena. No Grupo de Trabalho de Assistência ao Egresso e Família (GTAEF) da Divisão, atuam uma gerente, assistentes administrativos, assistente social e um psicólogo.
Foi por meio desse contato com a DAI que Edson da Silva Borges, 52 anos, conseguiu se manter trabalhando mesmo enquanto ainda estava no cárcere. Preso em 2013 por envolvimento com o tráfico de drogas, foi condenado a três anos de reclusão em uma das casas penais do Complexo Penitenciário de Santa Isabel. A ociosidade era o que mais o incomodava, já que desde criança aprendera a trabalhar na oficina mecânica mantida pela família.
Durante uma consulta pela DAI, Edson conheceu o projeto Conquistando a Liberdade e assim pode ocupar seus dias enquanto cumpria pena. “Eu não queria saber de remição de pena, queria saber de trabalhar pra me manter firme lá dentro”, contou. A iniciativa que chamou a atenção de Edson é uma das mais de 30 desenvolvidas pela Susipe.
Desde outubro de 2014 em prisão domiciliar, Edson voltou à velha rotina na oficina de sua família. “Desde que fui beneficiado pelas saídas temporárias sempre vinha pra cá e trabalhava. Não voltei para o mundo das drogas. Ocupei a minha mente de novo e não pretendo cometer outros erros”, diz o egresso. Após a passagem pelo cárcere, Edson diz que hoje tem outra visão do trabalho. “Dou muito mais valor no que eu faço e no quanto eu ganho. Hoje penso muito bem no que isso representa para mim e para minha família. Trabalho de segunda a sábado, das 8h às 18h, e não acho nem um pouco ruim”, revela.
Para aqueles que, diferente de Edson, ainda não descobriram ou não possuem habilidade para determinados ofícios, as opções de trabalho surgem por meio de convênios com instituições e empresas. Atualmente, 21 convênios estão em vigor, assegurando trabalho a 422 pessoas que ainda cumprem pena. A capacitação profissional durante a vida no cárcere é determinante para a vida que os egressos terão fora dele.
Somente em 2014, a DAI registrou uma média mensal de 56 atendimentos por mês. Muitas histórias vitoriosas resultaram desse trabalho. “Sabemos de um egresso que hoje trabalha como autônomo e mantém sua família com a renda obtida como taxista, num carro de sua propriedade. Nosso trabalho tem obtido resultados fantásticos", ressalta o diretor do Núcleo de Reinserção Social da Susipe, Ivaldo Capeloni.
As atividades desenvolvidas pelo Núcleo trabalham vários aspectos que são fundamentais para a recuperação do detento. Educação, saúde, religião e trabalho são temas explorados com os internos enquanto ainda estão no cumprimento da pena. “É preciso que essa pessoa seja moldada não só na sua personalidade, com a injeção de valores éticos e morais, mas também na preparação profissional, para que ela seja inserida naturalmente no mercado de trabalho”, afirma o diretor do NRS.
Para Capeloni, a atenção e o trabalho desenvolvido junto aos egressos influencia diretamente na redução da criminalidade. “Acompanhamos com muita satisfação a multiplicação das histórias bem sucedidas de mudança de vida dos nossos egressos. E em consequência, a diminuição da reincidência desses indivíduos no crime”, comemora.