Internos da Susipe preparam escola para a volta às aulas na Terra Firme
É com o serviço de roçagem, capina e pintura que 18 internos custodiados pela Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado (Susipe) preparam a Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Dr. Celso Malcher, no bairro da Terra Firme, em Belém, para receber 1.200 estudantes na volta às aulas, no próximo dia 16 de março (segunda-feira). Esta é a segunda edição, em 2015, do Projeto Conquistando a Liberdade realizada na capital paraense.
Os reparos feitos pelos detentos, que cumprem pena em regime semi-aberto na Colônia Penal Agrícola de Santa Izabel (CPASI), começaram na terça-feira (10) e devem ser concluídos nesta quarta-feira. O “Conquistando a Liberdade” é desenvolvido em escolas da rede pública estadual de ensino, visando a prestação de serviços e a conscientização de jovens para as consequências do envolvimento com a criminalidade.
Em meio aos preparativos para o retorno às aulas, o diretor da Escola Dr. Celso Malcher, Luiz André Malato, recebeu os internos para o primeiro dia de trabalho, ao lado de outros professores da instituição, em uma roda de conversa. “Fizemos questão de deixar clara a importância da presença deles aqui, com esse trabalho. Com a prestação desse serviço, nossa escola é beneficiada e ainda podemos colaborar para a valorização do trabalho desenvolvido por eles, apoiando a reinserção social”, explicou o diretor.
Cultura de paz - A seleção das escolas que recebem o projeto é feita por meio de uma parceria entre as coordenações dos projetos Conquistando a Liberdade e Pro Paz Escola. A ideia é atender instituições localizadas em áreas de maior vulnerabilidade, ampliando a oferta de serviços e atendimentos aos estudantes. “A Susipe é uma de nossas grandes parceiras nesse trabalho. A ideia é aproximar a comunidade das ações de propagação da cultura de paz promovidas pelo Governo do Pará e trazer para essas escolas as políticas públicas já existentes”, disse a coordenadora do Pro Paz Escola, Edenilce Oliveira.
“Nossa escola está localizada em uma área considerada de risco, e estamos constantemente trabalhando em ações para o combate à violência com os nossos alunos”, contou Luiz André Malato. Como parceira nessa prevenção, a Susipe, logo após o início das aulas, promoverá o “Papo Di Rocha”, quando os internos vão relatar experiências de vida que possam despertar a atenção dos alunos para as consequências do envolvimento em práticas criminosas.
“O foco é sempre voltado para essas áreas em que há mais necessidade de atenção. O objetivo é mostrar o outro lado do Sistema Penitenciário, em que é possível recuperar e ressocializar através do trabalho”, frisou o coordenador do “Conquistando a Liberdade”, Ércio Teixeira. Ainda segundo o coordenador, a estratégia do projeto tem alcançado resultados positivos nas escolas. “Quando retornamos a alguma escola recebemos relatos dos diretores e professores sobre a mudança de comportamento de alguns alunos, que melhoraram muito, inclusive as notas”, ressaltou.
O interno Sandro Tavares, 24 anos, trabalha pela primeira vez fora da Colônia Penal Agrícola de Santa Izabel. Condenado por assalto, ele falou sobre a importância do trabalho para a reinserção dos internos. “Quem está aqui já não pensa mais em voltar a errar. Muitas pessoas que estão presas têm a oportunidade de trabalhar, mas nem sempre todas querem. Eu quero, e por isso estou aqui. Me sinto bem em saber que estou colaborando para que essas pessoas tenham uma escola limpa e arrumada para estudar”, acrescentou.
O projeto Conquistando a Liberdade não oferece remuneração. O preso recebe o benefício da remição de um dia de pena, a cada três dias trabalhados, conforme previsto na Lei de Execução Penal (LEP). Todos os internos que participam passam por uma avaliação psicossocial e treinamento. Desenvolvida em 18 municípios do Pará, a iniciativa é reconhecida pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) como referência no País na área de reintegração social de presos, e recebeu menção honrosa na categoria “Juiz” do Prêmio Innovare 2013.