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Itaituba recebe o projeto Conquistando a Liberdade, da Susipe

Por Redação - Agência PA (SECOM)
11/06/2015 19h59

O projeto Conquistando a Liberdade, da Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado (Susipe), teve a primeira edição no município de Itaituba, no sudoeste paraense, nesta quinta-feira (11). Seis detentos que cumprem pena no regime semiaberto, do Centro de Recuperação Regional da cidade, o CRRI, participaram da ação inédita no município, na Escola Municipal Maria da Consolação de Mendonça Cerqueira, onde cerca de 400 alunos do ensino fundamental estão matriculados. O projeto é resultado da parceria entre a Susipe e a Secretaria Municipal de Educação, entidades de classe e empresários.

Os detentos começaram os trabalhos na quarta-feira (10), com a pintura do refeitório, da fachada e da sala de leitura da escola, além de revitalizar o paisagismo do jardim e montar uma barraca para a festa junina dos alunos. A programação terminou nesta sexta, com o Papo di Rocha, que reuniu mais de 200 pessoas, entre alunos, pais e professores no ginásio.

"O projeto possibilita que a gente conheça outro lado da vida. Muitas vezes, nós que temos a liberdade de ir e vir não valorizamos isso. Tivemos a oportunidade de refletir e levar lições para a vida. A Secretaria Municipal de Educação de Itaituba já é parceira da Susipe e pretende levar a outras escolas do município o projeto", disse a secretária municipal de Educação, Uzalda de Miranda.

Diálogo - Um dos grandes diferenciais do projeto está em proporcionar aos presos a chance de se tornarem agentes de transformação social, pois além de usar a mão de obra carcerária em prol do social, o Conquistando a Liberdade também visa à prevenção, com o "Papo di Rocha", conversa franca em que os presos repassam aos alunos as experiências de vida no cárcere e os perigos do mundo do crime.

"O Papo di Rocha é um trabalho pedagógico de prevenção que fazemos com os alunos, com as histórias reais de quem está no cárcere. Mais do que a reforma e revitalização da escola, nosso objetivo é buscar a conscientização do jovem para que ele não venha a cair no mundo do crime", explica o psicólogo e coordenador do projeto, Ércio Teixeira.

O detento Jarder Silva, preso por tráfico de drogas, relatou aos alunos sobre as perdas que teve na prisão. "Perdi o crescimento do meu filho. Quando ele completou 18 anos, pedi para ele me visitar na cadeia. Tive uma conversa muito franca com ele sobre o que era viver ali e pedi para que fosse a última vez que ele estivesse num presídio. Fiz questão de rasgar a carteira dele de visitante. Espero que ninguém da minha família passe de novo pelo que passei e vivi na prisão", disse.

Ressocialização – Para a diretora da Escola, Silvania Nogueira Campos, levar o projeto para a instituição foi um desafio. "Num primeiro momento houve resistência por parte da própria comunidade escolar do contato dos alunos com os detentos. A reação de alguns pais foi de preocupação, mas quando eles entenderam a proposta, vi outro comportamento. Hoje, muitos deles estiveram aqui, inclusive, conosco e acompanharam o Papo di Rocha. O olhar foi completamente diferente", destacou.

"É sem dúvida um projeto maravilhoso. Já tive um filho que foi preso por envolvimento com as drogas. Se ele tivesse tido a oportunidade de ter o contato com alguém que já passou pela cadeia, através do relato de vida, ainda na escola, talvez ele não tivesse sido preso também. É um trabalho de prevenção muito importante com os jovens", afirmou a dona de casa Socorro Seblan, que tem três netos que estudam na escola. 

"Queremos agradecer pela recepção da Escola e parceria com a Secretaria Municipal de Eduação, além de parabenizar os internos que participaram dessa primeira edição do projeto aqui em Itaituba. A responsabilidade pela ressocialização é de todos nós, enquanto sociedade. É preciso quebrarmos barreiras e paradigmas para garantir aos detentos a oportunidade de trabalho e retomada do convívio social", finalizou a vice-diretora do CRRI, Alneci Melo.

Referência – O projeto Conquistando a Liberdade já ocorre em 17 municípios do Pará. Hoje, o maior percentual da população carcerária do Estado (36%) tem entre 18 e 24 anos. O projeto é desenvolvido em escolas públicas, onde os presos fazem serviços de capina, poda de árvores, jardinagem, limpeza, pintura, reparos hidráulicos e elétricos, consertos de carteiras e mesas e pequenas reformas em geral. Todos os internos que participam do projeto passam por uma seleção psicossocial e treinamento.

Participam da ação presos dos regimes semiaberto e fechado, que apresentam bom comportamento e que já façam trabalhos na casa penal. Não há remuneração, mas o preso recebe o benefício da remição de um dia de pena, a cada três participações, um direito garantindo pela Lei de Execuções Penais do país. O projeto foi um dos vendedores do Prêmio Innovare 2013, uma das mais importantes premiações da Justiça brasileira. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) também já referenciou o projeto como modelo de reinserção social de presos no país.