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Música contribui na profissionalização dos detentos do presídio de Abaetetuba

Por Redação - Agência PA (SECOM)
04/08/2015 18h15

Um projeto iniciado há três meses no Centro de Recuperação Regional de Abaetetuba (CRRA) está possibilitando aos internos aprenderem a tocar e produzir o seu próprio instrumento musical. O objetivo é valorizar o potencial artístico e criativo dos detentos, além de contribuir para o processo de profissionalização e reinserção no mercado de trabalho, através da música.

O "Acordes Para a Vida", conta com a participação de 11 internos que participam das oficinas diariamente. A ideia surgiu depois de um curso de música, por meio de uma parceria da unidade prisional com a diocese de Abaetetuba, no qual os detentos recebiam aulas de violão e canto. A psicóloga, Maria Lúcia Lima, que já trabalhou como funcionária no CRRA, foi quem percebeu o potencial dos presos e deu os primeiros passos para a realização do projeto.

“Eu percebi que o curso de música poderia ser ampliado para o projeto de confecção dos instrumentos, quando um dos internos decidiu construir um violão feito com papelão e palitos de picolé. A criatividade me chamou a atenção”, contou a psicóloga. Atualmente, as assistentes sociais da unidade prisional, são quem dão prosseguimento à iniciativa, mas a psicóloga permanece como voluntária.

Na oficina são feitos instrumentos de corda, sopro e percussão. Os primeiros violões foram confeccionados com palitos de churrasco, picolé e papelão, apenas como objeto de artesanato e decoração, mas logo os internos quiseram um desafio maior e decidiram criar instrumentos que funcionassem, nos tamanhos e proporções corretas, mas sem deixar de lado os primeiros materiais que usavam.

O marceneiro Arthur Costa, que têm um filho interno no CRRA, decidiu voluntariar-se ao projeto e é quem ensina o grupo. “Quando meu filho foi preso, a primeira vez que eu vim aqui a sensação foi de medo, mas, com o passar do tempo, vindo nas visitas eu comecei a ver que poderia ser útil em alguma coisa com o conhecimento que eu já tinha. Além de ser uma forma de ficar mais próximo do meu filho, então eu pensei: por que não ajudar?”, explicou Arthur Costa.

Já o filho do marceneiro, o interno Edilson Costa, de 22 anos, vê a oportunidade como uma forma de se profissionalizar. “O projeto não só nos ajuda a cumprir a pena de uma forma mais leve, mas principalmente a aprender uma profissão. Eu fiquei fascinado quando percebi que poderia transformar materiais que antes iriam parar no lixo em um instrumento musical. Fiquei muito orgulhoso de poder tocar algo que fiz com minhas próprias mãos, ainda mais por ter sido ensinado pelo meu pai”, contou Edilson.

Quem também ajuda nas aulas é o interno José Rafael Silva, de 38 anos, que antes de ser preso trabalhava como artista plástico. “Já fazia pinturas antes de entrar aqui e tenho muita habilidade com o trabalho manual. Depois que a carcaça do violão está pronta, por exemplo, eu faço um trabalho com pirografia, um desenho usando fogo e ensino esse método para os outros alunos também”, afirmou José Silva.

Como inspiração na arte marajoara, os detentos decoram cavaquinhos, violões e pandeiros com grafismos que geralmente são vistos em cerâmicas, para tornar os objetos mais regionais e exclusivos. A expectativa dos internos é confeccionar instrumentos para a venda e com a renda arrecadada poder ajudar no sustento das famílias. "Os detentos realizam as atividades em uma sala multifuncional que foi reformada exclusivamente para a capacitação dos presos. Após a formação da primeira turma, a oportunidade também deve ser aberta a outros internos. Espero que todos possam sonhar com um futuro melhor", finaliza a psicóloga e idealizadora do projeto.