Informática e a ressocialização de internos do Centro de Progressão Penitenciária
Há uma semana 15 internos custodiados no Centro de Progressão Penitenciária de Belém (CPPB) participam de um curso de Informática Básica e Avançada, realizado na Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) pelo Fundo Municipal de Geração de Emprego e Renda, o Fundo Ver-o-Sol. A capacitação tem duração de dois meses e prepara os internos para novas oportunidades no mercado de trabalho.
Os internos, que estão no regime semiaberto, assistem às aulas todos os sábados pela manhã. Eles fazem parte das 4 turmas que formam o módulo de Informática. Nos laboratórios, os detentos se integram aos cerca de 160 inscritos que também procuraram o Fundo Ver-o-Sol para se capacitar. Muitos internos somam as aulas de Informática à rotina de trabalho e estudos que realizam durante os dias úteis da semana. Para a maioria deles, o curso é a primeira oportunidade de manusear um computador.
É o caso de Bruno Santa Brígida, 28 anos. Há seis meses no CPPB, ele se interessou pelas aulas de informática para continuar as mudanças que estabeleceu na vida. “Me inscrevi porque achei boa a oportunidade. Acho que o vou aprender aqui vai me dar novas possibilidades de trabalho”, disse. Quando chegou ao Centro de Progressão, Bruno foi destacado para uma vaga de trabalho através de projeto Olimpo, parceria entre a Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado (Susipe) e a Tramontina. Ele também frequenta aulas do curso de Processos Gerenciais em uma faculdade particular de Belém. “Isso tudo vai me ajudar a melhorar de vida e não cometer mais erros”, afirma o interno.
A perspectiva de novas chances também foi a motivação para Rosinaldo Câmara, 33 anos, se inscrever no curso. “Por não ter conhecimento de Informática eu precisei mudar de vaga em uma oportunidade de emprego. Eu tinha o perfil para o cargo, mas como ainda não sabia mexer no computador fui colocado em outro setor” explicou.
É através de um convênio entre a Susipe e a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) que há oito meses Rosinaldo está empregado. “A experiência que tive ainda era da época da datilografia, agora com conhecimento eu espero assumir outra vaga no trabalho ou até mesmo que apareçam novas oportunidade”, diz. Quando cumprir sua pena, ele deseja iniciar os estudos no curso de Arquitetura ou Engenharia e tem certeza que a Informática será fundamental.
O diretor do CPPB, Antônio Carlos de Azevedo, diz que as iniciativas que oferecem aos internos novas oportunidades fazem parte da rotina na casa penal. “Nós trabalhamos em prol dos reeducandos. Acreditamos que quando eles chegam ao semiaberto já estão prestes a alcançar a mudança de comportamento que esperamos pelo cumprimento da pena. Nossa equipe trabalha para que isso aconteça”, afirma. E foi por um integrante da equipe que o diretor soube da oportunidade do Fundo Ver-o-Sol. “O agente prisional conseguiu a disponibilização das vagas e apresentou o projeto”, conta Azevedo.
Além de pleitear a oportunidade, o servidor também acompanha os detentos nas aulas. Francisco Azevedo trabalha há 11 anos na Susipe e já fez parte da equipe de várias unidades prisionais sempre se envolvendo com atividades de ressocialização. No CPPB há 3 anos, não faz diferente. O comprometimento de Francisco com os internos fez com que ele procurasse o Ver-o-Sol. “Houve muita procura, mas há a exigência de que os participantes tenham no mínimo o Ensino Fundamental e isso diminuiu um pouco a participação”, explica.
Com a sensação de dever cumprido, Francisco chega a se emocionar ao falar sobre a dedicação dos internos. “É um sentimento de paz. Eu me sinto como um pai ao ajudar essas pessoas. Faço o meu trabalho e o meu papel de cidadão. Muitas vezes a sociedade exclui essas pessoas e eu levo essa atitude como exemplo para o meu filho. Eu tenho um compromisso com esses internos”.
O curso de Informática é apenas uma das oportunidades oferecida pela Susipe aos internos custodiados em todo o Pará. Mais de 1.500 presos estão envolvidos em alguma atividade educacional, o que representa um percentual de 13% do total da população carcerária do Estado e deixa o Pará acima da média nacional, que é 10,7% segundo dados do Ministério da Justiça.