Defensoria Pública atende primeiro caso de adoção homoafetiva do país
No dicionário, o termo família é o conjunto de pessoas, em geral ligadas por laços de parentesco, que vivem sob o mesmo teto, particularmente o pai, a mãe e os filhos. Ou não. Na família de três meninas chamadas Maria Laura, Maria Clara e Maria Carolina, não há a figura paterna. As meninas têm duas mães, Mônica e Jully, que foram beneficiadas pela Defensoria Pública do Pará e se tornaram o primeiro caso de adoção homoafetiva efetivada no Brasil.
“Eu e Jully estávamos juntas há seis meses quando tudo aconteceu. A gente estava em uma festa de aniversário de um amigo e, no meio da conversa, comentaram sobre uma gestante que queria dar o filho para adoção, pois era fruto de uma relação extraconjugal. Eu olhei para Jully e ela me olhou. Embora não estivéssemos fazendo planos de ter filhos naquele momento, nos entendemos na hora”, conta Mônica.
O casal procurou o Núcleo de Atendimento Especializado da Criança e do Adolescente (Naeca) da Defensoria Pública para tratar da adoção. A defensora pública Nádia Bentes fez o atendimento inicial. “A Mônica queria que a Maria Clara ficasse só no nome dela, pois, em nenhum outro lugar, a adoção havia sido deferida. Tínhamos um caso no Rio Grande do Sul, mas o Ministério Público havia se manifestado contra”, revela a defensora, que foi ao batizado da primeira criança e hoje frequenta os aniversários da família.
Segundo ela, Maria Clara é muito bem cuidada e amada, e existe a harmonia familiar. “Acompanhei e acompanho até hoje”, diz Nádia Bentes, que acabou se tornando amiga da família. A defensora considera ainda que hoje o mundo se abre para esta nova modalidade de família, e a Defensoria tem o papel de garantir os direitos de todos. “Hoje devemos mostrar para nossos filhos e conhecidos sobre o novo modelo de família, e que a minha família não difere das que têm duas mães ou dois pais. O que importa é que tenham bases sólidas de amor, caráter e dignidade”, destaca.
Três Marias – No caso de Mônica e Jully, o improvável é sempre possível. “No dia em que a mãe da Maria foi dar à luz, a Jully, que sempre teve vontade de ser mãe, começou a ter leite e amamentou a nossa filha por três meses”, conta Mônica. “Enquanto a Jully estava acompanhando o parto, eu fui comprar roupas e itens de que o bebê precisava, pois a mãe biológica não tinha nada para a criança. Foi tudo muito rápido, não deu tempo de planejar. A Maria Clara nasceu bem e está há mais de seis anos conosco”, realça.
O trio das “Marias” se formou de vez há oito meses, quando chegaram à família as pequenas Maria Laura e Maria Carolina, que têm apenas uma semana de diferença na data de nascimento. “A emoção foi triplicada, assim como o amor, a emoção, o trabalho e o cansaço”, brinca Mônica. O casal tem a guarda provisória das crianças e aguarda a decisão final da Justiça. “Estamos ainda no processo de adoção. Esperamos que a decisão seja favorável”, diz, esperançosa, a mãe.
Segundo a defensora pública Lúcia Barros, que atua no Naeca, o número de casal homoafetivos que quer adotar crianças é maior entre as mulheres. “Hoje temos alguns casos de adoção de casais homoafetivos e também de homens que querem adotar para ser pai solteiro, que é uma nova modalidade”, adianta.
Maria Clara conhece a própria história e diz que tem duas mães. Ela optou por chamar alguns tios próximos de pai. Já uma das mães assegura que a adoção foi fundamental para a garantia dos direitos da filha. "Quem ganha com a adoção não são os pais, mas as crianças, mas no nosso caso, Jully e eu fomos as beneficiadas também", finaliza Mônica.